Como um espaço alijado das demandas e das reflexões em termos de nacionalidade e praticamente lida restritamente nas discuções sobre regionalismo, a Amazônia precisa ser entendida, para além das características estereotipadas, como um espaço constituído por problemas sociais, politicos e econômicos semelhantes aos de vários outros lugares no Brasil. As demandas urbanas e os problemas de violência urbana, que não se restringem a Belém e Manaus, mas também às demais capitais da região bem como a cidades como Santarém e Marabá (para ficarmos em apenas dois exemplos no estado do Pará) precisam ser entendidas no contexto das cidades de porte semelhante (relevantes estudos já podemos encontrar nos debates geográficos sobre as cidades médias). No contexto da história brasileira recente, os autores da região também pouco são estudados e muitas vezes são citados apenas en passant no que se refere aos estudos sobre a representação estética da ditadura brasileira de 1964. Qualquer estudioso de literatura brasileira contemporânea que busque a produção literária da regição neste recorte temático específico fica frustrado ao abrir as leituras já clássicas sobre o período pois malmente se sente contemplado com a leitura do brasilinista Malcolm Siverman, que, a despeito de qualquer boa intenção generalista, ainda confunde a Perimetral Norte com a Rodovia Transamazônica na análise do romance de Benedicto Monteiro. Também o revisionismo historiográfico que possibilita a inclusão de romances ao momento não lidos como representações ditatoriais mas hoje como reflexos de um estado de espírito próprio da época (é o caso de leituras do romance Água Viva, de Clarice Lispector, e de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar) ainda não se debruçou na interpretação de igual paralelo na leitura de, por exemplo, poemas de Max Martins. Mesmo uma referência histórico-literária como a prisão do poeta João de Jesus Paes Loureiro no dia do lançamento de seu livro de poemas Tarefa escapa das abordagens do período ao citar os primeiros eventos ditatoriais contra intelectuais escritores de esquerda ou contestadores do regime que se instalava. Nesta comunicação, após apontar a lacuna contida nas leituras feitas sobre a produção literária do período no que se refere a representação da ditadura militar na Amazônia, procuraremos nos detender na produção literária paraense, observando não só aspectos imanentes às obras mas também a penetração ou vida social das mesmas: a participação política de autores antes ou depois da publicação, as possíveis repercussões politico-sociais das obras, represálias aos autores. Como parte de um exercício de inserção dos autores neste contexto amplo, embora tematicamente específico, procuraremos brevemente apontar leituras sobre a ditadura em textos de autores contemporâneos da amazônia paraense.
Palavras-chave: LITERATURA DA AMAZÔNIA PARAENSE, DITADURA MILITAR NA AMAZÔNIA, LITERATURA DE RESISTÊNCIA