Esta comunicação se concentra no conceito de imagem relampejante, que busco desenvolver a partir da relação entre a prosa crítica de Murilo Mendes e a tradição cultural francesa, um dos principais pilares do projeto poético-crítico muriliano, tanto no âmbito dos movimentos artísticos e das correntes filosóficas quanto do misticismo e do catolicismo, tão importantes em sua obra. A cultura francesa é, portanto, primordial para a formação intelectual e sensível de Murilo, ainda que sua fortuna crítica pouco tenha trabalhado esta questão. O próprio Murilo afirmou em entrevista: “é preciso não esquecer que tenho uma formação francesa”. Sendo assim, esta comunicação aborda o universo francês de Murilo, suas publicações em língua francesa, sobretudo o livro póstumo Papiers, bem como suas leituras críticas e afetivas, não só da tradição, mas também da intelectualidade francesa de seu tempo. Essas leituras são “retratadas” principalmente em Retratos-Relâmpago e A invenção do finito, livros em que Murilo cria um método dialógico de crítica de arte, estabelecendo com ela um jogo entre os lampejos (da obra) que tocam o espectador e os lampejos que este projeta na obra, ensaiando outras imagens que dialogam com os relâmpagos que a obra lhe provoca. A fortuna critica muriliana já destacou o fato de ele ter definitivamente se dedicado à atividade de critico de arte a partir de sua mudança para a Itália (1957), onde viveu os últimos dezoito anos de vida. Entretanto, pouco se ressalta que viver em Roma foi mais a consequência de uma oportunidade do que de uma escolha. Há, antes do advento de Roma, elementos primários (até então pouco abordados pelos estudiosos) que ligam inegavelmente Murilo à tradição cultural francesa. Ainda que seu livro de estreia (Poemas) seja marcado por uma brasilidade, devido à presença (sempre não ortodoxa) de elementos modernistas brasileiros, desde então é explícita a aproximação com o dadaísmo, o cubismo e o surrealismo. Mais que isso, há uma formação filosófica e religiosa francesa cuja importância é central em sua obra. Esta comunicação quer pensar a relação cultural entre as tradições francesa e brasileira a partir da imagética muriliana, através do conceito de imagem relampejante e das teorias da imagem de contemporâneos franceses como: Didi-Huberman, Rancière, Jean-Luc Nancy, etc. Há inúmeros caminhos por onde entrar no universo francês de Murilo. O que primeiro salta à mente, de modo geral, é o surrealismo (Breton, Magritte, Ernst, Artaud, Éluard, Prévert etc.). Mas há várias outras questões tão importantes quanto o aspecto surrealista (que em Murilo se deu “à brasileira”, como ele mesmo afirmou), como por exemplo: seus escritos em francês; as correspondências com os integrantes da revista Esprit, principalmente Emmanuel Mounier e Albert Béguin (embora fosse suíço); a importância da lista interminável de artistas e intelectuais franceses presentes na obra muriliana (Victor Hugo, Camus, Jean Jouve, Pascal, Mallarmé, Rimbaud, Duchamp, Nerval, Ponge, Debussy, Char, etc.); o estudo comparativo entre a crítica de arte ensaística de Murilo, Apollinaire e Baudelaire. Eis alguns dos caminhos possíveis para entrar no universo francês de Murilo Mendes.
Palavras-chave: MURILO MENDES, RELAÇÕES CULTURAIS FRANÇA-BRASIL, IMAGEM RELAMPEJANTE, LITERATURA E CRÍTICA DE ARTE