Atualmente, além dos livros de crítica literária publicados por editoras e vendidos em livrarias, há a emergência da internet nesse campo, com a prática da escrita crítica em blogs e sites que se configuram como suportes de amplo alcance e disseminadores de temas diversos. A urgência de publicações e de circulação de textos críticos tem encontrado na rede um meio bastante eficaz para a proliferação e o descentramento dessa atividade. Somada (e unida) à multiplicidade da sociedade em rede, e muito anterior a ela está a experiência acadêmica, cujas produções, registradas em dissertações, teses, resenhas, ensaios e artigos, fornecem um amplo material que hoje é imediatamente disponibilizado na internet. Tomados esses dois pontos, internet e universidade, ambos sob o signo da expansão, acrescentamos mais um: a emergência (ou o desrecalcamento) da figura do poeta-crítico frente à crítica literária brasileira tradicional. Sensível à crise da crítica em sua função eminentemente mediadora encontra-se a atividade do poeta-crítico, pautada em diversas produções recentes que se utilizam da internet como suporte e junto à universidade que, como espaço de desenvolvimento e troca incessante de ideias, tem fomentado as suas iniciativas, visto que há um grande número de acadêmicos que exercem a crítica literária e são também poetas. Internet e universidade atualmente se encontram imbricadas quando o tema é a crítica literária realizada por poetas, especialmente quando o assunto dessa crítica é a poesia contemporânea. O ensaio vem a ser o expediente comum dessa crítica, que também se estende a gêneros mais imediatos, como o artigo e a resenha. No Brasil, a tradição do poeta-crítico, mencionada en passant por João Alexandre Barbosa nos ensaios “Paixão crítica” (1990) e “Forma e história na crítica brasileira de 1870-1950” (1990), e deixada de lado por Flora Sussekind em “Rodapés, tratados e ensaios: a formação da crítica brasileira moderna” (2002), com os esforços dos primeiros modernistas, e posteriormente no trabalho dos concretistas, se construiu paralelamente como “a outra voz” de Octavio Paz (2001), fundida ou não à reconhecida tradição da crítica literária brasileira. No entanto, apesar desse caráter aparentemente periférico, no século XXI podemos vislumbrar não apenas sua importância histórica, mas sua vigência nas narrativas contemporâneas, tanto no campo específico da poesia e da crítica literária quanto nos textos que propõem a distensão ou mesmo a dissolução dessas fronteiras de gêneros textuais. A proposta dessa comunicação é abrir o debate sobre a conjuntura atual da crítica literária, tendo como foco as relações entre internet, universidade e a tradição do poeta-crítico no Brasil.
Palavras-chave: POETA-CRÍTICO, ENSAIO, UNIVERSIDADE, INTERNET