O presente trabalho pretende discutir a alteridade, questão bastante recorrente e urgente na obra do escritor - angolano radicado em Portugal – Valter Hugo Mãe. Bem como investigar como se efetiva a percepção de si, a partir do momento em que seus personagens, levados por movimentos externos, chocam-se com esta mesma alteridade. Os personagens escolhidos como corpus, foram Antonino ou “o filho da Matilde” d’O filho de mil homens (2013) - que nos é apresentada pela ótica de uma sociedade que o chama de “maricas” e trata sua homossexualidade como “desvio”, como “errado” por ser “um homem dos que não gostavam de raparigas” - e senhor Silva d’A máquina de fazer espanhóis (2011), que é colocado no asilo, por seus filhos, após o falecimento de sua mulher e é obrigado a conviver diariamente com pessoas desconhecidas e com a presença iminente da morte. Esses dois personagens escolhidos, trazem em seu comportamento reflexos da nossa sociedade, cada vez mais pautada na máxima socrática sobre a egologia, “nada recebo senão o que de um modo já está em mim”, ou seja, fecham-se as portas para o que o outro nos oferece de diferente, de múltiplo, de diferente e não nos pertence, logo, nega-se a alteridade. Tanto Antonino quanto o senhor Silva são levados, por acontecimentos conduzidos por movimentos fora de suas ilhas afetivas, ou seja, que vão além de sua vontade e seu controle, a saírem de suas zonas de conforto. Os personagens do romance de Valter Hugo Mãe passam por uma espécie de transição da egologia à alteridade, saem de uma situação ensimesmada ao reconhecer a importância do outro para o próprio desenvolvimento como ser humano que vive ativo junto à comunidade. Distanciam-se do conceito de ontologia – Ser- totalidade - ao se aproximar do que Levinas chama de relações baseadas na responsabilidade, de estar em estar em face do outro, pois considera que é através do canal dessas relações que é revelada a humanidade do homem. A metodologia adotada será a leitura, seleção e recortes de mitemas que comprovem as questões levantadas no decorrer do trabalho, bem como questões que abordem os pontos fulcrais que serão discutidos: alteridade, identidade, percepção de si, afetividade, questões de gêneros entre outras. Para tal análise, utilizamos as reflexões sobre o Outro de Levinas (2004; 1999; 1982), Todorov (1987), Arendt (2006), Barrico (2006). No tocante às discussões acerca das identidades e da dissociação da existência de uma única identidade – una e inflexível - para cada ser humano nos embasamos em Stuart Hall (2006) e Butler (2016) às discussões de e no tocante às novas formações sociais e suas novas demandas afetivas utilizamos como suporte teórico Coelho e Rezende (2011).