Narrativa guarnecida pela tradução de culturas híbridas, Dois irmãos (2000), de Milton Hatoum, joga o leitor dentro da trama das relações de contato entre América, Ásia e, Europa, cartografando a experiência de personagens que rompem as fronteiras do Líbano, Índia, Portugal e França para trilhar as veredas de uma porção do Brasil alcunhado de Manaus. O texto hatouniano será lido a partir do horizonte teórico-metodológico de estudiosos como Homi Bhabha, Eduard Said, Boaventura de Sousa Santos, Walter Mignolo, Julia Kristeva, Tzvetan Todorov, Tania Carvalhal, Zilá Bernd, Maria Zilda Cury e Marli Fantini. Conjugando esses caminhos de leitura, espera-se escavar, esmiuçar e intersectar trânsitos e recortes culturais de sete personagens que saem de suas pátrias imaginárias e se alojam na comarca cultural manaura para desvendar a potencialidade dos diálogos friccionais, adensando, ainda, a topografia do estrangeiro que viaja pelas dobras das zonas de contato panamazônicas, projetando marcas e marcos de múltiplas de alteridades em devir. Destarte, chega-se ao denominador comum de que a cartografia das travessias transculturais e interculturais do outro convoca um olhar crítico embalado pelo mapeamento dos laços de solidariedade e cooperação entre os imaginários culturais transatlânticos desenhados ao Sul da paisagem literária hatouniana.