A proposta desse trabalho é apresentar a confluência de culturas e espaços na poeta paulista Dora Ferreira da Silva (1918 – 2006), sob a perspectiva da crítica do imaginário. Dora nasceu em Conchas/SP e era neta de gregos que viviam na Calábria. Segundo Gilbert Durand, o imaginário é tudo que diz respeito ao trajeto antropológico do homem, e é o trajeto antropológico que permeia o modo de ser e de agir das culturas, considerando os valores subjetivos (a individualidade) e os valores objetivos (a coletividade), em uma postura que abole a universalização das verdades. A crítica do imaginário observa nas artes como são traduzidos os arquétipos universais, considerando que os sistemas simbólicos estão ligados não só ao sujeito, mas à cultura que os produz. Assim, as imagens, os símbolos e os mitos que se manifestam na criação humana são traduções arquetípicas do sujeito e da cultura. A poesia de Dora Ferreira da Silva elabora constelações simbólicas em torno de arquétipos. Jung esclarece que o conceito de arquétipo já existia na antiguidade, aproximando-o da idéia de inconsciente coletivo, uma vez que a imagem arquetípica indica a “existência de determinadas formas na psique, que estão presentes em todo tempo, em todo lugar.” Jung explica que a imagem arquetípica, primordial e de caráter coletivo, vai se manifestar conforme uma criação individual. Os arquétipos são sustentados pelas constelações simbólicas, que envolvem mitos e imagens. O arquétipo é inalterável, o que varia são os símbolos que expressam esse arquétipo. Dessa forma, recorro ao arquétipo do Paraíso para compreender que São Paulo, Conchas, Grécia, Itatiaia e Calábria, espaços evocados na poesia de Dora, são exercícios de se alcançar o espaço sagrado e refunda-lo ainda uma vez, como se percebe nesses versos: “Na Calábria / acariciada por um vento brando / Cristo dança com toda a Natureza”.
Palavras-chave: Dora Ferreira da Silva, Poesia, Gilbert Durand