XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:222-1


Oral (Tema Livre)
222-1NOTAS EM TORNO DE UMA ARTE NEGRA, ESTRANHA E OPOSICIONAL: ESPAÇO, MEMÓRIA E RESISTENCIA EM PONCIÁ VICENCIO
Autores:Denise A. Silva (URI - Univ. Regional. Integrada do Alto Uruguai e das Missões)

Resumo

Propõe-se uma leitura de Ponciá Vicêncio, da autora negro-brasileira Conceição Evaristo, levando-se em conta as interseções entre espaço, memória e identidade, e, em particular, o papel da memória e da arte como agentes construtores da identidade cultural. Embasa-se o trabalho na concepção da estética da negritude da escritora e intelectual afro-americana bell hooks. Enfatizando que, para além da dimensão espacial, o sentido de lugar possui dimensão humana, hooks aponta para lugar como um ponto de entrecruzamento, de “atravessamentos”, atrelados a uma dimensão histórica que remete, também, a uma política da memória. Distingue entre nostalgia, o desejo saudoso de retorno ao passado, e rememoração, que entende como processo de iluminar e transformar o presente a partir do passado. A dupla experiência de apego ao passado e a busca, a partir dele, de novo conhecimento e experiência, leva à invenção de espaços de abertura radical que se constituem em margem, localidade central para a produção de discurso contra-hegemônico, não fundamentado em palavras, mas em modos de ser e de experimentar a realidade – eis por que a estética da negritude há de ser estranha e oposicional. Para a teórica negra, uma estética da negritude deve ser prática – capaz de transformar o presente a partir de novos modos de perceber a realidade e da rememoração criativa do passado – e sensível a formas engajadas em uma política ou enraizadas em um vernáculo --histórica, enfim. Mais do que uma filosofia ou teoria da arte e da beleza, é modelo para habitar o espaço, uma localização particular, e um modo de olhar e tornar-se; compartilhar com a comunidade marginal o senso de agência que essa arte oferece, torna-se fator de empoderamento. Semelhantemente, ao comentar a literatura negro-brasileira, Cuti (2010) enfatiza o papel da localidade na construção da identidade e da beleza: a produção literária terá vieses diferentes por conta da subjetividade que a sustenta e do lugar sociológico de onde é produzida. Segundo o crítico, frente a qualquer identidade é necessário pensar-lhe as motivações e os impedimentos projetados no texto, pois elucidam aquilo que expõem, camuflam e/ou conseguem extrair de beleza. Na esteira dessa concepção prática e libertária de uma estética marginal negra, a leitura de Ponciá Vicêncio, procurará demonstrar como a protagonista, abandonando postura passiva, reinventa-se a partir da recuperação dos espaços e memórias da infância, em especial as ligadas ao barro, matéria prima a partir da qual reata e reinterpreta, imaginativa e criativamente, elos que a unem não só a seu próprio passado e família, como ao dos negros escravos. ਀㰀⼀昀漀渀琀㸀㰀⼀瀀㸀㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀