XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:567-1


Oral (Tema Livre)
567-1Os ecos de Otelo em Dom Casmurro: duas situações trágicas?
Autores:Adriana da Costa Teles (USP - Universidade de São Paulo - FAPESP)

Resumo

Um dos pontos que une a obra de Machado de Assis e a de Shakespeare é a busca por tentar compreender o humano, seja em seu caráter ontológico ou em sua relação com o outro em suas mais diversas manifestações. Não é à toa que Machado traz tantas referências a Shakespeare em sua obra. Trata-se, de acordo com José Luiz Passos em recente publicação, de mais de duzentas referências à obra do bardo inglês; inventor do humano, nos dizeres de Harold Bloom. Dentro desse contexto, chama nossa atenção a velha conhecida intertextualidade que Machado faz com Otelo em Dom Casmurro (1899). A presença da tragédia do mouro de Veneza no romance protagonizado por Bentinho e Capitu foi, como sabemos, abordada de maneira bastante promissora pela pesquisadora norte americana Helen Caldwell, que em O Otelo brasileiro de Machado de Assis, publicado originalmente em 1960 nos Estados Unidos, denunciou (não é exagero usar o termo), inclusive por meio dessa intertextualidade, as bases questionáveis sobre as quais residiam as convenções sobre a traição de Capitu, tida então como certa pela crítica. A nós, para além das (interessantes) questões temáticas, chama atenção a intertextualidade tomada a partir da questão do trágico. A tragédia, gênero na qual se insere Otelo, despontou, como sabemos, em momentos específicos da história da humanidade, momentos pontuados pela crise, transformação e substituição de valores na ordem do mundo, na qual se insere o renascimento inglês. Sabendo que Machado resgata e reestrutura o conflito da tragédia de Shakespeare em um momento muito distinto daquele em que ela aflorou a pergunta que nos lançamos é: de que maneira o conflito trágico vivido pelo mouro de Veneza reverbera no romance machadiano? Para além de um resgate temático, chama-nos a atenção e nos é especialmente intrigante o fato de que, apesar de Otelo servir de argumento para Dom Casmurro, o romance machadiano parece não contar com o teor trágico que o drama renascentista possui. A proposta deste trabalho é discutir como esse romance de Machado apresenta e problematiza questões próprias desse sentimento/relacionamento homem/mundo tomando como paralelo a presença dessa tragédia de Shakespeare em seu romance. Trata-se da reconstrução de um conflito, cuja estrutura conta com elementos que diferem do texto shakespeariano a ponto de indicar um diálogo determinante na caracterização de um determinado contexto estético e sociocultural bastante singular, o que mobiliza a manifestação estética renascentista que surge renovada e pronta a sugerir novas perspectivas do humano e de sua relação com o mundo.਀ ਀㰀⼀昀漀渀琀㸀㰀⼀瀀㸀㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀琀爀㸀㰀⼀琀搀㸀㰀⼀琀愀戀氀攀㸀㰀⼀戀漀搀礀㸀㰀⼀栀琀洀氀㸀