ÿþ<HTML><HEAD><TITLE>XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC</TITLE><link rel=STYLESHEET type=text/css href=css.css></HEAD><BODY aLink=#ff0000 bgColor=#FFFFFF leftMargin=0 link=#000000 text=#000000 topMargin=0 vLink=#000000 marginheight=0 marginwidth=0><table align=center width=700 cellpadding=0 cellspacing=0><tr><td align=left bgcolor=#cccccc valign=top width=550><font face=arial size=2><strong><font face=Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif size=3><font size=1>XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC</font></font></strong><font face=Verdana size=1><b><br></b></font><font face=Verdana, Arial,Helvetica, sans-serif size=1><strong> </strong></font></font></td><td align=right bgcolor=#cccccc valign=top width=150><font face=arial size=2><strong><font face=Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif size=1><font size=1>Resumo:1178-1</font></em></font></strong></font></td></tr><tr><td colspan=2><br><br><table align=center width=700><tr><td><b>Oral (Tema Livre)</b><br><table width="100%"><tr><td width="60">1178-1</td><td><b>O estranho porvir de Veronica Stigger</b></td></tr><tr><td valign=top>Autores:</td><td><u>Flávia Cera </u> (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina) </td></tr></table><p align=justify><b><font size=2>Resumo</font></b><p align=justify class=tres><font size=2>O texto pretende abordar alguns contos de Veronica Stigger tendo em vista o tema do estranhamento. Os contos, geralmente muito breves, trazem aspectos que beiram ao fantástico ou absurdo. No entanto, Stigger é sempre certeira quando abordada sobre esses chamados  absurdos : em suas entrevistas, encontraremos declarações de que as pequenas doses de crueldade por ela narradas acontecem corriqueiramente. Ou seja, seus contos não são apenas de denúncias da violência ou do predomínio do espetáculo em nossas vidas, porque está tudo dito e ao alcance dos nossos olhos; tampouco tratam de constatar uma anestesia da sociedade contemporânea que assiste esses episódios todos os dias e está congelada diante da catástrofe. Sem moralismos ou tentativas de conscientização, e sem ingenuidade, Stigger transita entre o real e o imaginário, entre o acontecimento e a fantasia com uma proposta radical, e não complacente, de articulação do corpo que produz e recebe excesso. Todas as cenas de seus contos são cotidianas, porém há sempre um elemento que causa estranhamento: um apartamento pequeno em que os moradores resolvem morar em caixas e depois no ânus de um amigo; uma menina que gostava tanto do próprio umbigo a ponto de entrar nele e habitar o próprio corpo; ou ainda, em uma doceria, um casal de anões, por demorar na fila ao escolher seus doces, é espancado violentamente até que seus restos possam ser varridos para trás do balcão. Violência, escatologia, obsessões anais, corpos que se esticam e se despedaçam, em suma, o esvaziamento das imagens cotidianas, são uma marca na literatura de Stigger. Veronica, assim, assume o papel da  escritora má cujo texto estranho leva às últimas conseqüências algo que poderia ter passado despercebido. Um dos aspectos interessantes que nos defrontamos ao ler os contos é que eles têm mesma conformação de um sonho: fragmentos do inconsciente esvaziados de sentido, ou ainda montagens do que se expressa como  imaginação pública , para usarmos um termo de Josefina Ludmer. Stigger constata que é de corpo inteiro que estamos imersos (e a arte não escapa dessa situação) em uma gigantesca rede espetacular. Guy Debord na década de 1960 asseverava a plenos pulmões que suas teses valeriam por longos anos; Stigger arremata a consolidação dessas teses, como se pode ver nos aplausos que sucedem a queda dos atores coadjuvantes no conto  Teleférico , ou na sobrevivência baseada no turismo em  Des cannibales . Mas de maneira bem diferente do teórico situacionista, Veronica não tenta reatar com a experiência perdida, nem lamenta sua perda. Não existe um mundo que tenha que ser salvo, uma volta pré-histórica que nos mostre como devemos agir para sairmos desse enlace espetacular tão bem montado. A proposta é de uma nova forma de experiência que traz para perto a familiaridade do cotidiano e que impõe o estranhamento como uma prática do pensamento ou, como queria Walter Benjamin, como uma  nova barbárie . Não se trata de reconstruir um mundo perdido, ao contrário, trata-se de ensaiar (em todos os sentidos do termo) um mundo por vir.</font></p></td></tr></table></tr></td></table></body></html>