Apresentação

Palavras iniciais

 

Em primeiro lugar, muito obrigado pela confiança na Associação Brasileira de Literatura Comparada num momento tão difícil para o país, em geral, e para o Estado do Rio de Janeiro, em particular. Nesse sentido, compreendemos que a grande solidariedade demonstrada para a realização do XV Encontro da ABRALIC na UERJ tem um alcance muito mais amplo. Trata-se de defender o ensino público, gratuito e de qualidade. A ABRALIC alinha-se com esse projeto. Na “Assembleia Geral”, que terá lugar no dia 23 de setembro, às 14h, proporemos a aprovação de duas moções: de apoio à UERJ e de defesa da Universidade Pública.

O XV Encontro ocorre num momento especial para a ABRALIC: em 2016, a Associação completa 30 anos. Por isso, apesar das dificuldades que enfrentamos, trabalhamos muito para oferecer uma programação à altura da ocasião. De igual modo, destacamos os 62 simpósios, instigantes e inovadores, que se desenvolverão durante o congresso. Reiteramos nosso compromisso: além da publicação dos trabalhos nos Anais, todo simpósio que retornar em 2017 terá um livro digital preparado pela ABRALIC.   

Além disso, para o XV Encontro Internacional (31 de julho, 1-4 de agosto de 2017), estamos preparando um livro para os associados e as associadas, no qual resgataremos a história da Associação e dos congressos realizados nessas três décadas. A decisão de criar a ABRALIC foi tomada durante o XI Congresso da “International Comparative Literature Association” (ICLA), realizado em 1985, em Paris. No ano seguinte, no âmbito do “Seminário Latino-Americano de Literatura Comparada”, em Porto Alegre, a ABRALIC foi fundada. O I Congresso da ABRALIC foi organizado na Universidade Federal de Rio de Grande do Sul, de 1 a 4 de junho de 1988, sob a presidência de Tânia Franco Carvalhal. O primeiro Encontro privilegiou discussões acerca de conceitos-chave para a disciplina: “Intertextualidade e interdisciplinaridade”.

Ora, com este livro, desejamos tanto sistematizar a trajetória da ABRALIC quanto mapear os caminhos da disciplina Literatura Comparada no Brasil. Exercitar a memória coletiva é um gesto de história intelectual indispensável a fim de afirmar a importância do conhecimento produzido no âmbito da Universidade Pública.

Tal propósito estimulou a criação dos “Prêmios ABRALIC”, cujo objetivo relaciona-se precisamente com a necessidade de fortalecer a comunidade dos estudos literários.

Os Encontros de 2016 e de 2017 pretendem propor reflexões acerca do papel e da posição dos estudos literários na contemporaneidade, articulando formas novas de teorizar e, sobretudo, questionar a própria disciplina Literatura Comparada.

 

2016 – Experiências literárias

 

“Experiências Literárias”: em lugar de concepções normativas do estético e do literário, que reduzem drasticamente o horizonte de leituras, impedindo a renovação do repertório teórico e crítico, a ABRALIC abraça a pluralidade atual de valores e de interesses como uma alternativa a ser radicalizada. Na circunstância presente, um conceito monocromático de “literatura” não dá conta da diversidade e da intensidade das múltiplas “experiências literárias” que transformam o cenário das letras no mundo todo.

Hoje em dia, e não apenas no Brasil, o que está ocorrendo é a expansão considerável da atividade crítica e a apropriação vigorosa da experiência literária, redimensionadas segundo interesses variados de comunidades interpretativas as mais diversas. E não se trata da emergência de um “novo” espaço, resgate da legitimação perdida do circuito fechado da “vida literária”. Pelo contrário, vivemos o período histórico do surgimento de territórios possíveis para intervenções pontuais: jornal, livro, revista, blog, vlog, Twitter, Facebook, Academia, listas de endereço eletrônico, televisão, rádio, webcanais, festivais literários, casas de saber, livrarias, clubes de leitura – e a lista poderia seguir nas ruas do sono.

Não é tudo: mesmo historicamente, nunca existiu algo próximo a uma prática discursiva homogênea denominada “literatura”, assim como um exercício monolítico chamado “crítica”. A diversidade de modelos desde sempre constituiu o veio dominante; apenas nunca nos preocupamos em observar essa pluralidade constitutiva da experiência literária e da atividade crítica.

Por que não pensar em termos de experiências literárias em lugar de terminar no eterno beco sem saída das definições normativas?

 

2017 – Textualidades Contemporâneas

 

“Textualidades Contemporâneas”: já passou da hora de reconhecer que não mais dispomos de um suporte único, definidor de uma hierárquica concepção de “texto”, cujo sentido deve ser “adequadamente” decodificado. Em resposta a esse entendimento normativo de uma prática hermenêutica domesticada, a ABRALIC propõe a noção de “textualidades contemporâneas”. Tal noção pretende caracterizar a pluralidade de suportes possíveis, a miríade de formas de inscrição e a multiplicidade tanto de produções de presença quanto de atribuições de sentido.

Trata-se de dar conta da afirmação de um panorama cultural definido pela emergência de formas outras de expressão que, muito rapidamente, deslocaram a “literatura” do lugar central que ela desfrutou de meados do século XVIII às décadas iniciais do século XX. Isto é, desde o momento histórico em que o texto impresso – finalmente acessível, devido ao desenvolvimento de novas técnicas de reprodução que, além de permitirem a criação de diferentes formas de difusão de material escrito, baratearam o custo do livro – tornou-se objeto do cotidiano até o instante em que novas formas de tecnologia e novos meios de comunicação assumiram o protagonismo na circulação e na transmissão de bens simbólicos. A análise da experiência literária, portanto, não pode prescindir de uma cuidadosa reconstrução da materialidade dos meios de comunicação.

Eis o desafio atual: como lidar com as múltiplas formas do literário no mundo contemporâneo sem levar em consideração as diversas textualidades que compõem a complexa rede de discursos e de comunidades interpretativas que atravessam nosso dia a dia?

 

Mais uma vez, muito obrigado pelo apoio!

 

João Cezar de Castro Rocha (UERJ)

Presidente

 

Maria Elizabeth Chaves de Mello (UFF)

Vice-Presidente

 

Elena C. Palmero González (UFRJ)

Primeira Secretária

 

Alexandre Montaury (PUC-Rio)

Segundo Secretário

 

Marcus Vinicius Nogueira Soares (UERJ)

Primeiro Tesoureiro

 

Johannes Kretschmer

Segundo Tesoureiro (UFF)

 

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