XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:558-1


Oral (Tema Livre)
558-1ÉTICA E ESTÉTICA NO ROMANCE EM CÂMARA LENTA, DE RENATO TAPAJÓS: CONSIDERAÇÕES SOBRE SEU CARÁTER TESTEMUNHAL.
Autores:Carlos Augusto Carneiro Costa (USP - Universidade de São PauloUSP - Universidade de São PauloUSP - Universidade de São PauloUSP - Universidade de São Paulo)

Resumo

Os debates produzidos em torno da chamada “literatura de testemunho” procuram dar visibilidade, dentre vários fatores, ao problema do valor literário de obras que antes de tudo teriam a função de denunciar práticas de violência social produzida em conflitos históricos. Construídas por meio de procedimentos distintos dos tradicionalmente privilegiados, essas obras exigem reformulação dos critérios de valoração estética. A razão fundamental para esta necessidade de mudança de perspectiva crítica reside no fato de que a escrita de testemunho deve ser compreendida como escrita determinada pelas condições de produção de uma voz narrativa geralmente constituída pelo trauma. Renato Tapajós permaneceu preso entre 1969 e 1974 por conta de sua militância política junto à Ala Vermelha do PCdoB. Encarcerado, ele foi brutalmente torturado. Em 1972 recebeu a notícia de que sua então cunhada, Aurora Maria Nascimento Furtado, militante da ALN, havia sido morta por militares, após seções de tortura. Esse evento motivou a escrita do romance Em câmara lenta, ainda dentro da prisão. Publicado em 1977 pela Editora Alfa-Omega, o livro apresenta importantes reflexões e autocríticas sobre a luta armada contra a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). Seu ponto nevrálgico é a narração da cena de tortura e assassinato da personagem Ela. O narrador tenta recuperar os eventos que confluíram para este ato de violência, embora não o tenha presenciado, não tenha sido sua testemunha direta. No processo enunciativo ficam evidentes construções de linguagem caracterizada pelo trauma, como dissociações e deslocamentos do lugar de enunciação do narrador. Considerando a definição das categorias testis e superstes feita por Giorgio Agamben (AGAMBEN, Giorgio. A testemunha. In: ______. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha (Homo Sacer III). São Paulo: Boitempo, 2008, pp. 25-48), procuramos neste trabalho determinar o lugar do romance de Tapajós dentro dos parâmetros da literatura de testemunho, uma vez que nossa análise permite compreender que seu narrador não se configura como testis, o terceiro que apenas presenciou o evento, nem como superstes, aquele que participou do evento. Feito isto, queremos apresentar alguns elementos que determinam o caráter literário do livro, procurando contribuir com o debate sobre as relações entre ética e estética na escrita testemunhal, assim como sobre os limites entre verdade e ficção.