Oral (Tema Livre)
740-1 | "Iracema", de José de Alencar: uma heroida romântica. | Autores: | Maria Celeste Consolin Dezotti (FCL-UNESP - Faculdade de Ciências e Letras-Unesp) |
Resumo Manuais de literatura ensinam que o Romantismo, centrado no eu romântico e em seus conflitos e aspirações libertárias, rompe com os códigos clássicos que integravam a poética do Arcadismo. Segundo Alfredo Bosi (História concisa da Literatura Brasileira, 1975, p.105) “caiu primeiro a mitologia grega”. Em Iracema, Alencar constrói a “lenda do Ceará”, que narra a união da índia Iracema com Martim, o colonizador português que a fascina, e da união deles nasce Moacir, fruto da primeira miscigenação de povos em terras brasileiras. Se a matéria-prima que Alencar ficcionalizou tem o seu componente histórico, pois figuras como Martim e o índio Camarão estão registradas nos anais da história, a heroína é inteiramente obra de ficção recheada de mensagens. Afinal, o nome Iracema adquire estatuto simbólico quando lido em forma anagramática, América, o novo mundo, a terra brasileira conquistada pelo estrangeiro que dela se apossa, usa e abandona. Mas Alencar não conseguiu, nessa empreitada, desvencilhar-se da tradição clássica preterida pelas normas do Romantismo. Iracema é heroína grega e, mais especificamente, uma heroida ovidiana. Essa dívida com a tradição grego-latina o próprio autor a reconhece em carta-posfácio, quando confessa ter composto “uma heroida que tem por assunto as tradições dos indígenas brasileiros e seus costumes” (Alencar, Iracema, 1978, p. 88, grifo meu). Em vista de tais laços intertextuais, como pensar os limites do romantismo? Romper com os códigos clássicos: com quais deles? |