Oral (Tema Livre)
641-1 | Aproximações biográficas, históricas e literárias entre Dyonelio Machado e Juan Carlos Onetti | Autores: | Karina de Castilhos Lucena (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) |
Resumo O objetivo deste trabalho é aproximar Dyonelio Machado (1895 – 1985) e Juan Carlos Onetti (1909 – 1994) tendo como hipótese que há características biográficas, históricas e literárias que permitem a leitura em paralelo de seus textos. Essa aproximação propõe que a literatura dos autores seja analisada em uma perspectiva mais ampla que a nacional, embora sem prescindir desta. A proximidade geográfica entre Rio Grande do Sul e Uruguai, a formação histórica semelhante, a condição periférica dessas regiões em relação a uma metrópole vizinha (São Paulo e Rio para o RS; Argentina para o Uruguai) sugerem que esses autores participam de uma comarca (para utilizar o conceito de Ángel Rama) que é “geradora” de uma matéria própria permitindo a analogia entre as literaturas de Dyonelio e Onetti.
Quanto às características literárias que permitem a aproximação de Dyonelio e Onetti, ambos têm obra vasta, circulando pelo conto, romance e ensaio. Independentemente do gênero, seus textos apresentam uma regularidade formal e temática: narrativa urbana, personagens que se repetem em livros diferentes e que geralmente vêm das camadas mais baixas da sociedade, ambientação em uma cidade específica (a real Porto Alegre para Dyonelio, a imaginária Santa María para Onetti), além de, mais uma coincidência, serem editados no Brasil pela Planeta.
No que diz respeito às biografias de Dyonelio e Onetti há algumas coincidências. Eles vêm de origem humilde, tiveram que trabalhar cedo e deslocar-se para uma metrópole para estudar ou trabalhar. Dyonelio nasceu em Quaraí, na fronteira com o Uruguai, mudou-se para Porto Alegre e depois passou uma temporada no Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de Psiquiatria. Onetti nasceu em Montevidéu (por uma dessas coincidências, a mãe de Onetti nasceu na mesma cidade de Dyonelio, Quaraí), mudou-se para Buenos Aires e depois para a Espanha. Tanto Dyonelio quanto Onetti sofreram perseguições da ditadura militar de seus países, sendo presos e exilados.
Sobre as características históricas que fundamentam esta relação, é possível considerar que as fronteiras nacionais entre Brasil, Argentina e Uruguai como são conhecidas hoje escondem a formação histórica comum das terras mais ao sul do continente sul-americano. Para entender a literatura gaúcha e a literatura uruguaia, é importante considerar que eventos históricos como o Tratado de Tordesilhas (1494), Tratado de Madri (1750), Santo Ildefonso (1777), Guerra da Cisplatina (1811 – 1828), Guerra dos Farrapos (1835 – 1845), Intervenção brasileira no Uruguai (1851), Guerra do Paraguai (1864 – 1870), entre outros sugerem uma fronteira em movimento (KÜHN, 2007) nessa comarca do pampa.
É provável que a maior contribuição deste estudo seja a retomada daquele debate dos anos 1970, a integração latinoamericana. É claro que atualmente não cabe mais uma leitura homogênea da literatura do continente, muito arraigada às ideologias da esquerda da época. Mas o estudo baseado em regiões literárias, comarcas, pode esclarecer temas que as histórias da literatura calcadas na nacionalidade não conseguiram resolver. |