XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:453-1


Oral (Tema Livre)
453-1Realidadeficção e as escritas-de-si: nova literatura ou novo paradigma de leitura?
Autores:Amaury Garcia dos Santos Neto (CMRJ - Colégio Militar do Rio de JaneiroPUC-RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

Resumo

A presente comunicação tem por fim discutir problematizações referentes à fluidez de fronteiras entre o discurso autobiográfico e o discurso ficcional, principalmente no tocante a estratégias narrativas e a conhecida “crise da representação”. Consideraremos a ideia de “realidadficción”, proposta por Josefina Ludmer em “Literaturas Postautónomas”, que abre a possibilidade para que abordemos tanto escritos literários quanto não-literários como simultaneamente reais e ficcionais. Com a crise da representação (que podemos dizer ter seu início já no século XIX), o que outrora considerávamos realidade passa a ser visto como construto linguístico. Ludmer considera ultrapassada a discussão sobre a possibilidade em se representar o real, pois, para ela, a realidade “já é pura representação”. A autora, então, defende que uma determinada descrição da realidade, ficcional ou não, abrange não apenas um referente empírico exterior, mas também sua virtualidade ou potencialidade. Ludmer enxerga a ideia da “realidadficción” como originada na literatura contemporânea. Entretanto, se analisarmos o surgimento do romance moderno e do gênero autobiográfico, veremos que a fluidez de fronteiras entre ficcionalidade e realidade no tocante aos discursos acima mencionados sempre existiu, desde o início de ambos. Basta pensarmos em Robinson Crusoe de Daniel Defoe. Esta tradicional fluidez nos leva a conceber a ideia de “realidadficción” não como uma tendência da literatura atual, mas sim como uma nova possibilidade hermenêutica, centrada no leitor. Acreditamos ser o leitor a figura que busca pelo real naquilo que lê. Isso nos trás às colocações de Philippe Gasparini sobre a autoficção e o romance autobiográfico. De acordo com o teórico francês, a probabilidade de um romance se tornar autoficcional ou autobiográfico é sempre baseada numa hipótese hermenêutica. Gasparini afirma ser o leitor o responsável por ler um texto ficcional como refração da realidade. Apesar dessa busca contemporânea pelo real na narrativa, ou por narrativas imbuídas do real, acreditamos que o romance não se encaminha para sua morte, contrariando o que alardeiam alguns intelectuais da atualidade. Em nossa opinião, o que aconteceu foi uma mudança paradigmática na maneira de ler textos ficcionais. Não é o romance atual que necessariamente tem mais “realidade”, mas sim o leitor que busca achar instâncias do real. Isso é mais facilmente verificável no romance autobiográfico ou na autoficção, quando comparados a biografias ou autobiografias (que, por sua vez, se utilizam de elementos próprios da ficção em diversos momentos). Portanto, visamos discutir a ideia de “realidadficción” como nova hipótese hermenêutica, relacionando-a a escritas-de-si ficcionais e não-ficcionais, à luz de colocações do teórico Philippe Gasparini. Para tal, pincelaremos nossa fala com alguns exemplos de autobiografias, romances autobiográficos e autoficções.