Oral (Tema Livre)
292-1 | ENTRE O LEMBRAR E O ESQUECER: O TESTEMUNHO ÀS AVESSAS DO ESCRITOR ITALIANO PRIMO LEVI | Autores: | Joselaine Medeiros (UFSM - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) |
Resumo A Literatura de testemunho vem à tona para problematizar a época de catástrofes, em que há uma situação-limite como a que ocorreu, durante a Segunda Guerra Mundial, com os judeus nos campos de concentração nazistas. O testemunho dos sobreviventes está ligado às lembranças, ao que ficou guardado na memória: uma memória estilhaçada, em ziguezague, com lapsos, vazios, silêncios; enfim, oprimida, devido à dor e ao trauma. Em decorrência disso, o testemunho situa-se num limiar entre o esquecer e o lembrar, ou seja, trabalha no campo mais denso da simultânea necessidade do lembrar-se e da sua impossibilidade, pondo em xeque a História, por comportar eventos em excesso se comparados aos parâmetros referenciais normais. O território da memória do escritor italiano Primo Levi é o da Guerra, e ele lutou com a “guerra da memória”, que impõe limites, uma vez que lembrar não é uma situação cômoda. O químico foi enviando para Auschwitz em 1944, conseguindo sobreviver ao massacre e retornar ao seu país, após muito sofrimento. Levi sentiu necessidade de contar a sua história, para que as gerações futuras tivessem conhecimento das atrocidades praticadas pelos nazistas. Durante esse percurso, também sentiu resistência, devido à dor e à reificação, que estava na própria essência do apagar e do aniquilar. No campo, os prisioneiros morriam “como números; não como nomes próprios”, o número de Levi era 174.517, tatuado no braço, lembrança viva da desumanização sofrida. Na obra É isto um homem?, o escritor-sobrevivente conta a sua experiência e de tantos outros seres humanos relegados a animais, subjugados, carcomidos pelo medo e pela violência. Levi, como aponta Marcio Seligmamm-Silva, tentou “apresentar, expor o passado, seus fragmentos, cacos, ruínas e cicatrizes”. A experiência foi traumática, porém a narração das vítimas era necessária no sentido de propagar o enraizamento dos princípios de reparação e justiça.
|