XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:426-1


Oral (Tema Livre)
426-1Monstros projetados
Autores:Mauri Previde (FCLAR - Unesp Araraquara)

Resumo

Em literatura encontramos uma gama de espécies de monstruosidades, ligadas ou não às noções de crime e de pecado. Os monstros se fazem presente desde as mais variadas mitologias de performance oral, e mesmo no florescimento da literatura escrita (lembremos o Ciclope na Odisséia), até as obras mais atuais da literatura e do cinema. Propomos, para a presente comunicação, o estudo comparativo de duas figuras monstruosas: a criatura de Frankenstein, de autoria de Mary Shelley, e Quasimodo, popularmente conhecido como "o corcunda de Notre Dame", do romance de Victor Hugo. O primeiro "monstro" tem uma suposta origem pecaminosa, resumida basicamente na atitude de seu criador, o Dr. Frankenstein, emular Deus. Neste primeiro caso cabe ressaltar o percurso histórico dessa criatura que, por sinal, furtou o nome de seu criador (hordiernamente, quando dizemos Frankenstein, apenas os leitores de Mary Shelley sabem tratar-se do médico cientista, e propriamente da criatura, como muitos acreditam), assim como este, o "Moderno Prometeu", roubou a centelha da vida para infundi-la à criatura. Assim, podemos indagar se tal percurso faz parte da construção de um mito moderno e em que termos ela se dá. Com relação a Quasímodo, este é um ser humano, mas não considerado como tal pelas pessoas de sua comunidade. Sua deformidade física o leva a ser considerado monstro, muito embora tenha uma alma angelical. Há que se indagar, aqui, as relações entre aparência e essência. O que há de comum entre a criatura de Frankenstein e Quasímodo? Em linhas gerais, o primeiro representa a corrupção do "bom selvagem". Também possuidor de uma boa índole e carente de compreensão humana, ele se torna um assassino e o perseguidor contumaz de seu criador. O segundo, assim como o primeiro, são relegados aos escaninhos da teratologia por mera questão de aparência. De certa forma a estética do horror está presente em ambos. Nosso trabalho percorrerá por estas sendas para, ao final, relacionarmos esta estética (presente na constituição física dessas personagens) à noção cristã de pecado - no caso de Quasímodo resumido, primariamente, em seu abandono em pleno Domingo de Páscoa (sintomática e não gratuitamente) - e às noções de crime e pecado, no caso da criatura de Frankenstein. Por derradeiro, estes elementos axiológicos - crime e pecado - não hão que ser considerados, necessariamente, em relação de causa e efeito com o elemento estético - monstruosidade. Há que se inquirir, sobretudo, as relações simbólicas entre uns e outro.