XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:288-1


Oral (Tema Livre)
288-1Em negativo: a fotografia não tirada em L´amant, de Marguerite Duras
Autores:Flavia Trocoli Xavier da Silva (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Resumo

Nas primeiras páginas de L´amant, aquela que fala cava buracos: a matéria de seu rosto foi destruída, a história de sua vida não existe, a fotografia do momento a ser escrito não foi registrada, foi esquecida. Aquela que teria sido uma “imagem absoluta”, que representaria um absoluto, encontra sua virtude na sua própria inexistência. Sabe-se que, por um lado, Susan Sontag pensa a fotografia no campo da significação e vê nela um convite inesgotável à dedução, à especulação e à fantasia. E que, por outro lado, Roland Barthes, a pensa no registro do Real como Contingência soberana (refiro-me à fotografia que punge e não, claro, àquela que faz propaganda). Convoco esses dois autores porque pensar a fotografia inexistente e a escrita de L’ amant implica considerar pelo menos esses dois campos: aquele que inscreve a imagem como potência de sentidos e aquele em que a imagem é cifra para o Real, barra os sentidos e força a escrever. Se a imagem absoluta, real, não foi registrada, imediatamente poderia se pensar que a escrita que vem lhe fazer suplência já estaria no campo das significações. Engano. Memória sem lembrança, para dizer com Michel Foucault, a escrita de L´amant não deixa a leitura, que é também a leitura de um rosto devastado, demorar-se em “o que isso significa”, mas lança-a no buraco em que o “é isso” impõe-se clamando uma forma, não uma metáfora, afinal a presença da mãe, como a do amante chinês, impede o sonho, ou seja, a possibilidade de desviar-se através de figuras de linguagem. Prática da devastação.