XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:434-1


Oral (Tema Livre)
434-1Narradores de Javé e a desterritorialização cultural: as palavras deslizam do valor de distinção e as imagens fazem as vezes de vida.
Autores:Dilma Beatriz Rocha Juliano (UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina)

Resumo

Esta comunicação recai sobre a história narrada, a dramaticidade da encenação e sobre o roteiro do filme Narradores de Javé, lançado em 2003, dirigido por Eliane Caffé, que também assina o roteiro juntamente com Luis Alberto de Abreu. No filme, o processo de desterritorialização aparece tanto no que se refere à materialidade do conceito, ou seja, no deslocamento geográfico, territorial da comunidade de Javé, quanto no sentido simbólico, do desenraizamento cultural vivido por aqueles que compartilham uma história e que, portanto, moldam suas identidades a partir das experiências. A proposta aqui é a de aproximar o filme aos conceitos de narrador, em Walter Benjamin (1994), e ao de desterritorialização, em Nestor Canclini (1997) e Stuart Hall (2009). O filme compõe-se de, pelo menos, três camadas narrativas, das quais o filme - casca mais exterior - vai, no seu descascar, mostrando as demais camadas, numa analogia com os processos de transmissão da cultura. A segunda camada é a da história contada, através do personagem Zaqueu, sobre o fim de Javé, dando lugar a uma hidroelétrica. Relato este que se desdobra em várias pequenas histórias que vão sendo contadas pelos moradores-personagens do vilarejo sobre a fundação da cidade, constituindo-se na terceira camada narrativa do filme. Trata-se de um cinema que lê os efeitos da modernização, e os tematiza ao apontar o desligamento dos vínculos históricos que efetivavam o sentido de pertencimento, de coletividade dos indivíduos pelo partilhamento cultural. A palavra, no filme, desliza de seu valor antigo de ilustração/distinção para o valor imagético contemporâneo como registro fílmico da história, sem deixar, com isto, de fazer com que a palavra pulse como referente passado, mas não ultrapassado, na sua tarefa de resistência ao avanço do progresso do capital. O que mobiliza a crítica ao filme é a evidência da passagem da cultura de um tempo a outro, em que as narrativas como relatos do vivido passam ao relato do visto, do ouvido, do lido – “vidas” de segunda mão.