XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:1063-1


Oral (Tema Livre)
1063-1A ESTRANGEIRIDADE E AS MÁSCARAS DO FAMILIAR NA CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DO PERSONAGEM JOSEPH SMITH DO ROMANCE “FUNDADOR” DE NÉLIDA PIÑON
Autores:Roniê Rodrigues da Silva (UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte)

Resumo

Em uma definição aparentemente simples, formulada a partir da observação do direito segundo a terra e do direito segundo o sangue, Kristeva (1994, p. 100) apresenta-nos um conceito de estrangeiro. Respondendo a uma pergunta elaborada por ela própria, a estudiosa caracteriza esse sujeito como “Aquele que não faz parte do grupo, aquele que não ‘é dele’, o outro”. Para chegar ao que considera uma definição moderna e mais aceitável do termo, dada um pouco mais à frente, no desenvolvimento da sua reflexão, a pensadora realiza com bastante clareza e precisão um levantamento histórico da condição do ádvena, assinalando nessa trajetória a presença de uma espécie de estatuto jurídico geral do estrangeiro até chegar à formação dos Estados-nações, para os quais esse sujeito é considerado como “aquele que não pertence à nação em que estamos, aquele que não tem a mesma nacionalidade”. (KRISTEVA, 1994, p. 101). Partiremos dessa conceituação para discutirmos a construção identitária do personagem de nacionalidade palestina Joseph Smith, do romance "Fundador" (1969) da escritora contemporânea Nélida Piñon, frente à possibilidade de realização do sonho americano. Veremos que em solo estadunidense Joseph será considerado um estrangeiro, adequando-se perfeitamente à definição de Kristeva, visto que, como toda a sua família, o personagem não é aceito, nos Estados Unidos, como um cidadão com nacionalidade americana, mas um nativo de outra terra. Essa inscrição originária, que faz dele um “outro” em pátria alheia, será determinante para que ele assimile as imagens da nação americana na perspectiva do imigrante. Assim, pretendemos demonstrar de que maneira a sua identificação enquanto ser vai se constituir num espaço de tensão entre a estrangeiridade e as máscaras do familiar, entre o duplo e a falta, entre um discurso de inclusão e de exclusão, e até mesmo entre uma espécie de orgulho e vergonha, sentimentos que são originados pelo fato de o personagem se situar permanentemente entre duas pátrias, duas culturas, duas línguas, dois mundos.