Oral (Tema Livre)
1131-1 | Eu Não Sou Daqui: A Poesia de JPG | Autores: | Marilia Librandi-rocha (STANFORD - Stanford University) |
Resumo O que acontece se ao invés de interpretar uma obra existente, o trabalho crítico colaborar na elaboração de uma obra que ainda não é reconhecida como tal? O que acontece se, ao invés de falar de um autor morto, debater-se com o escritor vivo, incorporando no corpus, as presenças em diálogo do leitor e do escritor? E se, ao invés de escolher-se um escritor maior ou marginal, escolher um escritor que não é considerado poeta e nem se apresenta como tal? Ocorre, em primeiro lugar, o questionamento das noções de autor, obra, e leitura, assim como das práticas de inclusão ou exclusão, de ordem (ou desordem) dos discursos e do papel da crítica, que, aqui, arrisca: mais que uma análise, um relacionamento, mais que uma interpretação, uma experimentação. Sartre e a defesa dos contemporâneos. Foucault, Barthes, Blanchot e a questão autoral. Lyotard e a configuração evasiva. Shoshana Felman e a questão do endereçamento na poesia pós II Guerra Mundial. Jacob Pinheiro Goldberg, nascido em Juiz de Fora em 1933, filho de pais judeus poloneses imigrantes, não era apenas um escritor fora do cânone, mas um escritor que não podia fazer parte do cânone. A indefinicão nos seus textos, que propõem uma poética do nem (nem poema, nem prosa, mas um espaço entre, pequeno intervalo hipotético), e a critica do sem a que deu lugar (escritor sem obra, textos sem autoria), abalaram as definições do que é ou não poesia, questionando as fronteiras entre o literário e o não-literário, e entre aquilo que a academia permite que se pense e o impensável. Proponho que se trata de uma escrita de si, próxima do gênero da carta, do bilhete e do diário, sem assinatura de autor, como diz em um de seus textos: Jacob, qual é o seu nome? Iankele, ídiche; Goldberg, judeu; Pinheiro, cristão-novo; um anônimo: JPG. O resultado é um experimento critico-literario em que leitor e escritor trabalham juntos na construção de uma obra em progresso contínuo de mudança. Nosso horizonte critico se produz então na fronteira, defendendo tanto a experimentação poética quanto a experimentação crítica, criando-se um texto-entre, no meio do caminho da leitura critica e da invenção de um espaço fora dentro da literatura. |