XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:1017-1


Oral (Tema Livre)
1017-1BRECHT NO INTERIOR DO PARANÁ: A ATUALIDADE DO TEATRO ÉPICO-DIALÉTICO LONGE DA METRÓPOLE
Autores:Alexandre Villibor Flory (UEM - Universidade Estadual de Maringá)

Resumo

A proposta deste Simpósio, calcada na boa tradição crítica materialista, cria espaço para contribuições das mais diversas áreas. O teatro, embora não mencionado explicitamente, constitui uma delas, a se lembrar da crítica do teatro épico-dialético de Brecht e sua influência no pensamento estético benjaminiano. Sua rica recepção e atualidade no Brasil formam um campo de interesse para autores como Roberto Schwarz e Sérgio de Carvalho, entre muitos outros. Além disso, o papel do teatro para a história da literatura brasileira é muito significativo, a despeito de seu apagamento e desprezo acadêmicos. Essa quase extinção faz ecoar a asserção de Benjamin que afirma ser todo documento da cultura um documento da barbárie. A leitura de nossa história literária ‘a contrapelo’ exige, portanto, a remissão ao teatro. Pontuando apenas dois momentos decisivos do teatro nacional, remetemos ao surgimento e importância do teatro de Arena no final dos anos 50, bem como o teatro volante do CPC da UNE, num clima efervescente que envolvia os terrenos político, econômico e artístico, processo estrangulado pelo golpe de 1964 e pelo endurecimento de 1968. Outro momento decisivo e atual ocorre com o fortalecimento, a estruturação e a disseminação do teatro de grupo, a partir dos anos 1990. Essa formação é marcada por grupos relativamente estáveis, com repertório idem, pesquisa teatral, formação de um público crítico-reflexivo, com experimentações artísticas que expressam questões de relevo social, buscando a mediação entre forma literária e processo social, contra o primado do espetáculo isolado. A formação de um público dialético aponta para o nervo central dessa nova configuração, pois se apresenta como uma possibilidade de crítica da totalização negativa preconizada e realizada pela arte como indústria cultural. Nesta comunicação, pretendo discutir a formação e importância do trabalho de grupo do Teatro Universitário de Maringá (TUM), iniciando em 1987 com uma montagem conceituada de A exceção e a regra, de Brecht, desde então discutindo questões como a da autonomia da arte em uma cidade média e sem tradição teatral forte, com resultados notáveis. Sua última encenação brechtiana, Medidas contra a violência (2006), é uma montagem de poemas, cenas de peças e textos teóricos de Brecht, em especial suas Histórias do Sr. Keuner, momento-chave de consolidação do pensamento dialético na obra do dramaturgo alemão. A comunicação se centrará no estudo dessa montagem – como forma e como encenação –, que sintetiza a história do grupo, sua relação com outros centros e linguagens, e sua dinâmica com um público ainda receoso, mas receptivo. A encenação é marcada pelo off narrativo, pela fragmentação técnica e psicológica e pela dialética profunda em torno do conceito de violência, sendo a pior e mais cruel aquela da normalidade e naturalização da suposta paz burguesa – o que contradiz as expectativas suscitadas pelo título, que alude às lições de um manual de auto-ajuda. Além disso, não há personagens que possam criar identificação, o que, associado à falta de enredo, causa um impacto no público que vem à tona no debate pós-peça, exigido pela montagem, que continua nesta comunicação.