XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:496-1


Oral (Tema Livre)
496-1OS VELHOS E OS NOVOS TEMPOS: A IDENTIDADE EM TRANSFORMAÇÃO EM CRÔNICAS DE RACHEL DE QUEIROZ
Autores:Adriana Giarola Ferraz Figueiredo (UEL - Universidade Estadual de Londrina)

Resumo

Quando as mudanças históricas se aceleram e a vida cotidiana sofre alterações, tudo que se configura nesse espaço em movimento mostra-se transitório e efêmero. O estabelecimento de uma série de rupturas, de novas associações nas relações entre os homens, e destes com o meio, gera diferentes perspectivas por parte dos envolvidos nesse processo, que se constitui permeado de transformações e de adaptações. Toda possibilidade de continuidade praticamente é arrancada da vida dos sujeitos. Aos velhos, então, a sensação de que o amanhã não lhes pertence se torna muito acentuada. Tudo que foi construído perde, de certa forma, a sua altivez inicial, para permitir à sociedade o ganho de novas forças diante daquilo que é inovador, impactante e transformador, mesmo que isso acarrete perdas insuperáveis dentro das renovadas sociedades. De acordo com Simone de Beauvoir, “As árvores que o velho planta serão abatidas. [...] O filho não recomeçará o pai, e o pai sabe disso. Ele desaparecido, a herdade será abandonada, o estoque da loja vendido, o negócio será liquidado. As coisas que ele realizou e que fizeram o sentido de sua vida são tão ameaçadas quanto ele mesmo.” (apud BOSI, 1998, p. 77). Em meio à velocidade de uma sociedade altamente informatizada, deliberadamente modernizada e, no entanto, perdida na dinâmica das relações entre os indivíduos, a afinidade com os senescentes passa a ser pautada pela falta de reciprocidade. Não se discute mais com os velhos, não há mais o confronto das opiniões com as deles e nega-se aos mesmos a oportunidade de desenvolvimento daquilo que deveria ser intrínseco a todas as pessoas: a busca da alteridade, o direito à contrariedade, os afrontamentos pessoais e até mesmo o estabelecimento de conflitos. Nesse novo contexto social, em que a humanidade se encontra em movimento constante, resta aos senis o embaraço natural ante a sua condição e a busca da sustentação de um mínimo de dignidade, mesmo que diante de novas tendências e de particularidades por vezes impraticáveis. Perante as adversidades do dia a dia, aceitação, repulsa e perplexidade acabam se tornando as palavras de ordem, que encontram na crônica, o espaço no qual podem ser exploradas, questionadas e experimentadas.