Oral (Tema Livre)
621-1 | Marginal ao marginal: facetas da marginalidade na escrita ambiental/ experimental de Hélio Oiticica
| Autores: | Patricia Guimarães (UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro) |
Resumo A comunicação pretende examinar aspectos do tema da marginalidade na poética dita Ambiental e/ou Experimental de Hélio Oiticica focalizando sua prática de escrita. O caráter experimental dessa prática presume a crítica da noção tradicional de autoria e obra acabada, assim como a recusa da disciplina técnica, das convenções de gênero e de toda circunscrição institucional .Trata-se de uma escrita, a um só tempo autônoma e inseparável de sua produção de pintura, objetos, ambientes,cinema e performances, a qual, ora invade as estruturas físicas de seus trabalhos, ora toma a forma de diário, ensaio, carta,conto, poema, manifesto, relato de experiências poéticas, texto crítico sobre outros artistas, etc.Auto intitulada "escrita do dia à dia", situa-se à margem de todos os gêneros discursivos mas, permanece em trânsito entre tais 'domínios', sempre procedendo por apropriação e mistura de diferentes dicções e linguagens autorais.Para Oiticica, sua prática de escrita inscreve-se no Ambiente comum da linguagem, no interior do qual pretende conjugar tradição e invenção sempre no sentido de uma "retomada" crítica .Deseja, pois, inscrever-se na linhagem da literatura moderna que reúne Mallarmé, Joyce, Pound, Cummings e os poetas concretos Haroldo e Augusto de Campos, tomando a palavra como entidade "verbivocovisual".Dialoga com o modernismo antropofágico de Oswald de Andrade, com a chamada poesia marginal brasileira e/ou com os textos de Nietzsche, Heidegger, McLuhan, Marcuse, etc.Filia-se igualmente àquela tradição de 'escrita de artista' estabelecida por representantes das vanguardas modernas( Kandinsky, Malevich, Duchamp, etc.) e retomada por tantos artistas experimentadores nos anos 1960-70. Seu universo de referências porém, não se limita ao erudito, abrangendo desde a escola de samba carioca à performance pop-rock, passando pela cultura das drogas, substâncias por ele transfiguradas em tema e matéria prima de invenção poética.
Associando experimento formal e reflexividade crítica, a escrita de HO evoca uma "quase arte" na acepção dada por Mallarmé, sempre porém, implicada com práticas de vida. Seu criticismo radical recomenda tomar posição "marginal ao marginal", assumindo o deslizamento contínuo de posturas e pontos de vista. A propósito, a inscrição-poema Seja Marginal, Seja Herói(1966), posta por Oiticica numa bandeira junto a foto do bandido morto Cara de Cavalo, faz referência a Baudelaire em seu elogio da ação criminosa equiparada à atitude do artista moderno. A tarefa do artista baudelaireano consistiria em atacar violentamente a hegemonia da economia produtiva, o hábito de comportamento e linguagem padrão, visando apenas à felicidade. Em vista dessa ambição desmedida, o tema da marginalidade, para Hélio, diz respeito ao processo da poesia enquanto invenção de corpos e de ambientes simbólicos e concretos sempre provisórios.
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