Oral (Tema Livre)
782-1 | A TRÍADE NOME-IMAGEM-IDENTIFICAÇÃO EM PATRICK MODIANO | Autores: | Laura Barbosa Campos (UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) |
Resumo O presente trabalho insere-se no campo da literatura da chamada Segunda Geração de vítimas do genocídio judaico durante a Segunda Guerra Mundial. Investigarei particularmente o universo romanesco do escritor francês Patrick Modiano cuja obra estabelece um intenso diálogo com o paradigma fotográfico dentro de uma perspectiva de imagem-texto e não pela via intersemiótica.
Um importante paradoxo atravessa a obra de Modiano: a ausência de memória é justamente a mola propulsora de sua escrita. A partir dessa problemática sua literatura se desenvolve e surge uma poética que almeja apresentar uma falta, comprometida com a dissolução. É por isso que a fotografia como índice, enquanto vestígio de algo que foi, e não é mais, é uma noção tão cara ao autor.
A questão do desaparecimento, do esquecimento e da fugacidade dos vestígios participa de todo o universo literário modianesco. Suas obras são recheadas de números de telefone reais, porém inválidos por não corresponderem a nenhum destinatário. Esse é um dos recursos recorrentes em Modiano para expor uma ausência diante da qual ele buscará renomear o que foi perdido, subtraí-lo do anonimato; em outras palavras, recuperar o nome pulverizado pelo esquecimento, pois nomear é identificar.
O nome, além de ser um dos pilares identitários, participa do momento do nascimento, através do registro civil, e também da morte, no atestado de óbito e na inscrição funerária. A idéia de nomear algo ou alguém é intrinsecamente ligada à noção de reconhecimento, sem o qual o nome é apenas um signo arbitrário. Assim como uma carta não lida pelo destinatário perde o seu sentido e transforma-se em simples resíduo, um nome não reconhecido perde a sua essência e torna-se ruína.
Patrick Modiano confere especial atenção ao ato de nomear. Em Rue des boutiques obscures, obra vencedora do prêmio Goncourt em 1978 e publicada em português sob o título Uma Rua de Roma, analisarei o processo de busca encenado pelo narrador amnésico que tenta desvendar os mistérios do seu passado apoiando-se na tríade: nome, imagem, identificação.
Buscarei mostrar que a questão do nome em Modiano apresenta, por um lado, um liame ontológico, mas que também cumpre a tarefa ética e política de rememorar os sem nome, as milhões de vítimas da Shoá que desapareceram sem deixar rastros.
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