XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:771-1


Oral (Tema Livre)
771-1O visto, o dito e o contradito: dos registros médicos de Lima Barreto ao seu testemunho literário sobre o hospício
Autores:Daniela Birman (IEL/UNICAMP - Instituto de Estudos da Linguagem - UNICAMP)

Resumo

Neste trabalho, estabeleceremos um confronto entre a documentação médica de Lima Barreto e o testemunho literário do escritor sobre as suas internações psiquiátricas. A análise se centrará, por um lado, em dois registros do antigo Pavilhão de Observação do Hospital Nacional de Alienados, datados de 1914 e 1919. Por outro, ela será focalizada no “Diário do Hospício”, redigido pelo autor durante seu segundo confinamento no citado hospital, e no romance inacabado O cemitério dos vivos, escrito a partir do material do diário. Como se sabe, estes dois textos de Lima são irremediavelmente imbricados, não obedecendo à separação entre documento e ficção. Assim, não apenas O cemitério dos vivos tem caráter autobiográfico, mas também o diário sobre o manicômio é atravessado pela imaginação e pela fantasia. Ao partirmos em nosso exame do cotejo de duas fotografias do interno Lima Barreto no antigo hospício, buscaremos analisar historicamente as duas imagens, assim como as molduras documentais nas quais elas estão inseridas. Esforçaremo-nos, nessa leitura, para descolar evidências e interpretar ditos e escritos em função do arquivo que eles integram. Prosseguindo por esse caminho, pretendemos avançar na identificação de clivagens entre as duas internações do escritor e no exame dos seus embates com diversos dos elementos que compõem seu retrato - incluindo as suas molduras documentais. Nesses embates, Lima se empenha em romper com as imagens (e o ditos sobre ela) que lhe são impostas. Porém por vezes, como era de se esperar, permanece enredado no enquadramento do saber-poder psiquiátrico da época.