XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:645-1


Oral (Tema Livre)
645-1ESCRITAS MÍSTICAS, NARRATIVAS FICCIONAIS: O CASO DE ROSA MARIA EGIPCÍACA DE VERA CRUZ
Autores:Gisele Thiel Della Cruz (UFPR - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ)

Resumo

Tendo como ponto de partida a trajetória de vida da personagem ficcional/histórica Rosa Maria, busca-se evidenciar similitudes e/ou cruzamentos nos discursos romanesco e historiográfico, bem como, reconstituir possíveis imagens e referências da mulher no Brasil do século XVIII. Em 1763, Rosa Maria Egipcíaca de Vera Cruz (negra e escrava) foi acusada de heresia e falsa santidade. Sua história de vida foi resgatada no trabalho do pesquisador Luiz Mott - “Rosa Egipcíaca: uma santa africana no Brasil” (1993). Julgada pelo Tribunal da Inquisição, sua obra, Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas, foi parcialmente destruída. Poucas folhas e algumas cartas recolhidas revelam traços de sua atuação como beata, conselheira espiritual e fundadora de uma congregação religiosa feminina e negra, no Brasil Colonial. A prática da leitura e da escrita por uma mulher negra abriu um universo de possibilidades de atuação em uma sociedade eminentemente analfabeta, patriarcal e escravocrata. Além disso, caracteriza um movimento importantíssimo. O lugar da fala, o poder da palavra, ultrapassa o padrão social. Na década de 1990, Heloisa Maranhão lança o romance histórico Rosa Maria Egipcíaca de Vera Cruz(1997), revisitando/ficcionalizando a personagem histórica. Em uma narrativa descompassada, marcada pela intervenção da personagem Rosa Maria, e pela intercessão narrador-personagem/narrador-autor, os primeiros “(des)encontros entre o mundo ficcional e o mundo “real” vão sendo construídos. Entre a narrativa do encontro e o resgate histórico, quando finalmente a história – anacronicamente estrutura – ganha espaço no texto, vão se desvelando fatos-chave e personagens da História do Brasil, assim como, ganha voz a personagem marginal, mulher - a própria Rosa Maria.