Oral (Tema Livre)
286-1 | "Memórias do cárcere",de Graciliano Ramos: relações entre a posição do intelectual e a forma literária | Autores: | Marcio Fonseca Pereira (UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROUFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROUFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROUFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) |
Resumo Uma das discussões que historicamente se desenvolveu em torno de Graciliano Ramos tem como ponto central a determinação do peso de suas convicções políticas na feitura de suas obras.
Em Memórias do cárcere, onde segundo Antonio Candido a “necessidade de criar” dá lugar à “necessidade de depor”, a forma autobiográfica (já experimentada em Infância) aparece com o viés político bastante acentuado, na medida em que Graciliano, mesmo quando se concentra no pequeno fato, visa sempre representar o quadro mais amplo da realidade brasileira às vésperas do Estado Novo.
Graciliano – sempre crítico de certas posições conservadoras da intelectualidade brasileira – não deixa de reconhecer suas próprias contradições enquanto oriundo de uma classe social decadente. Nesse sentido, o reconhecimento dos problemas próprios à sua condição de intelectual de nação periférica – que já aparece em Angústia por meio de Luís da Silva – ressurge numa obra que revela sua vontade de deixar um documento literário e político de desagravo aos que foram oprimidos pelo arbítrio do governo Vargas.
Se em termos extraliterários o desejo de participação política mais efetiva se dá pela atuação no Partido Comunista – em que pesem as contrariedades que teve de enfrentar devido a aspectos dogmáticos do partido – nas Memórias ele ocorre pelo autoquestionamento constante e pela construção heterodoxa, cujos traços de ficção podemos atribuir não só ao fato de o romance ser o gênero no qual o escritor melhor se expressou, mas também pela própria necessidade de aproximação cuidadosa, às vezes de viés, a uma realidade obscura, própria ao regime de exceção.
Nossa investigação das Memórias busca, portanto, os traços que marcam na escrita a expressão da subjetividade do intelectual, dando riqueza à obra e que, no encontro de documento e ficção, representam a tentativa de reescrita da história sob um ponto de vista crítico em que o individual e o coletivo se entrecruzam em constante dialética.
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