Oral (Tema Livre)
1020-1 | O SABER DA LAGOINHA NA NARRATIVA DE WANDER PIROLI | Autores: | Marcelino Rodrigues da Silva (FALE/UFMG - Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais) |
Resumo O livro "Lagoinha", de Wander Piroli, foi lançado pela editora Conceito em 2003, como parte da coleção "BH: a cidade de cada um", constituída por pequenos volumes dedicados à memória dos lugares, histórias e personagens da capital mineira. Conforme o texto de apresentação, a obra é composta por "crônicas", algumas inéditas, outras publicadas em jornais ou lidas em transmissões radiofônicas, nas quais o autor conta suas lembranças do bairro onde viveu durante grande parte de sua vida: a Lagoinha, conhecida como a mais tradicional zona boêmia da cidade, cujo centro vital (a praça Vaz de Melo) foi destruído em 1984, para dar lugar à reforma de um complexo de túneis e viadutos. Reunidos confortavelmente sob essa rubrica elástica - a crônica -, esses textos deslizam sutilmente por diferentes convenções genéricas e seus respectivos pactos de leitura: do depoimento sobre experiências pessoais, que se aproxima da autobiografia, com seu apoio na referencialidade do tema e na identificação entre autor e narrador; passando pelo relato memorialístico, que resgata personagens marcantes e casos curiosos do passado, erigindo lugares da memória e articulando lembranças individuais e coletivas; até chegar a textos que funcionam como pequenos contos, assumindo abertamente um certo caráter ficcional e construindo uma visão mítica do universo boêmio que animava a localidade em seus "bons tempos". Por meio desse progressivo deslocamento, Wander Piroli reinventa a Lagoinha, impregnando-a com sua memória afetiva e produzindo, sobre o bairro, a cidade e o processo de modernização vivido por esses lugares, um tipo de reflexão e saber que somente é possível pelo recurso à ficcionalidade. Local e global, particular e universal, tradicional e moderno, referencial e ficcional são, portanto, algumas das categorias que a leitura dessa obra coloca em pauta, levando o analista a rever sua pertinência para o estudo e a compreensão da produção literária e cultural realizada em contextos urbanos e periféricos, como a cidade de Belo Horizonte. |