Oral (Tema Livre)
29-1 | Cinema, aspirinas e urubus e o difícil equilíbrio entre ética, estética e mercado | Autores: | Rita de Cássia Miranda Diogo (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) |
Resumo Com o presente trabalho, pretendemos analisar o filme Cinema, aspirinas e urubus (2005), de Marcelo Gomes, a fim de verificar como a relação entre ética e estética vem se configurando no cinema brasileiro. Para tanto, dialogaremos com o Cinema Novo, através dos filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha e Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos. O filme em estudo coloca em questão não só temas recorrentes à cinematografia dos anos 60, como também resgata características daquela estética. Entre os primeiros, podemos verificar a referência à paisagem inóspita do sertão, bem como ao cinema enquanto um fenômeno da indústria cultural, estreitamente relacionado com a sociedade de consumo, duramente criticado pelo Cinema Novo; quanto à estética, podemos observar como exemplo a opção pelo uso de uma luz intensa, que cria uma espécie de “ruído” na comunicação visual. Por outro lado, estas mesmas referências frente a um contexto histórico e político diferente recebem um outro tipo de tratamento, que por sua vez, denota uma nova relação que se estabelece entre ética e estética a partir da virada do século. Assim, se a cinematografia dos anos 60 insistia em refletir uma “consciência catastrófica do atraso” (CÂNDIDO, 1995, p. 368), o cinema atual diante do cenário global, expressa o que poderíamos qualificar de uma “consciência desiludida do atraso”. Ou seja, se antes ainda existia a ilusão de que poderíamos vencer as várias etapas que nos levaria ao desenvolvimento, daí o conceito de subdesenvolvido, hoje sabemos que na cartografia que separa o centro da periferia existe um abismo, que dificilmente conseguiremos superar. Segundo nossa hipótese, entre a celebrada esperança do Cinema Novo e a desilusão da modernidade tardia, o diretor Marcelo Gomes, sem subestimar a sensibilidade do espectador, conquista em Cinema, aspirinas e urubus o difícil equilíbrio entre ética e estética. |