Oral (Tema Livre)
566-1 | fotografia e criatividade poética em M. António (Angola) | Autores: | Francisco Soares (UE - Universidade de Évora) |
Resumo Na literatura e na cultura angolanas a fotografia desempenhou, desde relativamente cedo, um papel importante.
Na poesia lírica de Mário António (1934-1989) essa importância torna-se ainda mais relevante, por duas vias que nos ajudam a pensar as inter-relações entre fotografia e literatura.
A primeira está associada à memória: a fotografia vem despoletar recordações e, por arrasto, acionar a criatividade, levando a retratar a figura paterna inspiradora, ou a imaginar toda uma geração desaparecida antes do nascimento do autor. Desta maneira, ela cumpre também uma função identitária, para além de preencher a função de motivo literário e de explicação da própria criação do poema.
A segunda via é mais subtil: a partir do exílio voluntário do autor a criatividade passa a ser acionada pelas viagens, mas de um modo peculiar, que instaura um tipo muito próprio de ‘realismo fotográfico’. Os poemas passam a funcionar como uma máquina fotográfica muito especial, aproximada do que hoje permitem as novas tecnologias: eles retratam (dão a ver) a realidade que o sujeito enunciativo nos propõe como a que ele próprio visiona; mas também imitam os procedimentos psicológicos típicos como os da colagem entre o que se vê e o que se viu (e geralmente nos identifica), entre o que se vê e o que se ouve, entre o que se vê (paisagens, retratos, arquiteturas) e o que se lê (guias turísticos por exemplo). Mas sempre com predomínio da imagem visual e de fragmentos visuais retratados com a nitidez, a aparente objetividade da câmara fotográfica.
A nossa comunicação desenvolve sobretudo considerações a partir desta segunda via, ou função, da fotografia nos poemas de Mário António para o questionamento geral das relações entre fotografia e criatividade literária.
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