Oral (Tema Livre)
241-1 | Marta e Macabéa: marginalidade e colonialismo.
| Autores: | Fani Miranda Tabak (UFTM - Universidade Federal do Triângulo Mineiro) |
Resumo A análise de duas personagens separadas temporalmente em mais de um século, uma protagonista do romance Memórias de Marta, de Júlia Lopes de Almeida, e a outra de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, permite pensar nos meios que a autoria feminina utiliza para ficcionalizar, ao longo da história, a imagem da mulher marginalizada em uma sociedade com fortes resquícios coloniais. O distanciamento das obras intensifica a permanência do discurso patriarcal e as relações de poder de dominação em torno da visível fragilidade econômica à qual as personagens se vêem submetidas. A proposta transgressora de Júlia Lopes, educando a sua personagem para dar-lhe alguma chance de escolha e sobrevivência, vê-se logo “retocada” com a necessidade do casamento como instituição única para a mulher oitocentista. Cem anos depois, Macabéa, ser humano inútil e bestializado pelo meio, encontra como redenção da sua precária existência a própria morte, única hora de glória. Ambas traduzem, em variados aspectos, uma triste constatação: a imagem edênica da América, construída em nossa cultura desde o século XIX, colaborou intensamente para que os problemas relativos à colonização fossem apaziguados pelo ideal de desenvolvimento do capitalismo nos grandes centros de cultura. Essa suposta “emancipação” liberal, no entanto, não adentrou os meios econômicos mais frágeis e muito menos a condição da mulher pobre e iletrada.
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