XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:799-1


Oral (Tema Livre)
799-1As crianças de Macondo: a representação da infância latino-americana em sete personagens do romance Cien Años de Soledad, de Gabriel García Márquez.
Autores:Socorro Edite Oliveira Acioli Martins (UFF - Universidade Federal FluminenseUFF - Universidade Federal Fluminense)

Resumo

Mais de quarenta anos depois da publicação do emblemático romance "Cien Años de Soledad", de Gabriel García Márquez, a fortuna crítica ocupada em debruçar-se sobre essa obra multiplica-se em todas as línguas por onde a família Buendía passou com seu numerosos descendentes. Um dos pontos de vista recorrentes e até repetitivos defendidos por parte dessa crítica à qual tivemos acesso (com destaque para ensaios de Mario Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Claudio Guillén, dentre outros) enxerga a saga de Macondo como uma metáfora da história da América Latina, onde os lugares, personagens e eventos são representações da história da colonização, da identidade do continente e, especialmente, das pessoas e grupos que foram e são agentes dessa história. É sabido que Gabriel García Márquez, bem como a maioria dos autores latino-americanos de sua geração, construiu um projeto literário fortemente comprometido em transferir aspectos do processo histórico para a ficção, como pode ser constatado em seu discurso (ao mesmo temo ensaio e manifesto) "La soledad de América Latina", proferido por ocasião do recebimento do Prêmio Nobel de Literatura, em 1982. Partindo da hipótese de que o romance por inteiro pode ser lido como uma metáfora ou representação literária da história do continente, consideramos, assim, que "Cien años de soledad" é um caso de prática discursiva onde o artista assume a voz do "outro". No caso da nossa análise, o "outro" em destaque é a criança latino-americana, representada na obra por personagens que tem importância crucial na narrativa. Pretendemos analisar a infância de sete personagens dentre as sete gerações dos Buendía: Rebeca, José Arcadio e Coronel Aureliano, da segunda geração; Aureliano José, da terceira; Remédios, la bella, da quarta; Meme, da quinta; e Aureliano, o último dos Buendía. Entendemos a infância em Macondo como um Entre-lugar dentro do Entre-lugar, utilizando o conceito de Silviano Santiago. Percebemos ainda que a chegada ou nascimento de cada criança representa uma mudança drástica no enredo. Os personagens infantis de "Cien años de soledad" são mestiços, possuídores de uma herança e de um discurso transculturado (segundo o conceito de Angel Rama) e principais testemunhas do passado e do porvir. É a partir da voz desses sete personagens que pretendemos analisar a representação da infância latino-americana em "Cien Años de Soledad", uma de suas principais obras.