Oral (Tema Livre)
926-1 | ATUAÇÃO POLÍTICA E REPRESENTAÇÃO DA COLETIVIDADE NO ENSAIO HISPANO-AMERICANO: O "ASALTO A LO IMPOSIBLE" DE MARIO BENEDETTI | Autores: | João Marcos Reis de Faria (UFF - Universidade Federal Fluminense) |
Resumo Ao observarmos as relações entre cultura e política na América Latina dos anos 1960 e 1970, podemos mapear, em consonância com Claudia Gilman em seu livro Entre la pluma y el fusil, a atuação de importantes nomes da literatura deste período em favor de um certo conjunto de noções cujos contornos se definiram não por meio de manifestos formalizados, mas sim de maneira progressiva, à medida que o Regime Castrista e sua principal instituição cultural, a Casa de las Américas, se afirmavam como referências continentais de difusão de discursos expressamente vinculados à esquerda. Desta forma, um grupo de autores de toda a América Hispânica encontrou mecanismos de legitimação para propagarem ideias afins ao processo revolucionário iniciado em 1959. No entanto, embora este grupo estivesse composto fundamentalmente por escritores de ofício, pode-se dizer que a narrativa e a poesia produzidas sob aquelas orientações acabaram sendo ofuscadas por uma prática ensaística de larga difusão, em que os papéis da literatura e da arte em um contexto de revolução política e social eram debatidos publicamente nas revistas culturais, evidenciando posicionamentos tanto comuns à maioria dos autores quanto divergentes. Assim, o gênero ensaístico, que já gozava de uma longa tradição nas letras hispano-americanas, tinha renovada a sua importância como instrumento de expressão exemplar na relação entre compromisso ético pessoal e representação de anseios coletivos – o que já havia sido pontuado por teóricos como uma característica fundamental do ensaio hispano-americano, embora houvesse entre eles uma clara tendência a privilegiarem os ditos ensaios literários, isto é, em cuja composição o apuro estético se destacava em comparação às suas dimensões políticas. Neste trabalho, tendo em vista aquele contexto cultural e a necessidade de se traçar uma cartografia do desenvolvimento do ensaio como instrumento de reflexão e atuação política em que se ressaltem procedimentos de encenação discursiva em que o EU se assume como cúmplice e passa a falar na primeira pessoa do plural, pretendo ler uma breve sequência de ensaios do escritor uruguaio Mario Benedetti, parceiro de longa data da Casa de las Américas, tendo como ponto de partida o texto intitulado "El escritor latinoamericano y la revolución posible", em que o escritor lembra a tomada do Quartel de Moncada – realizada pelo grupo de Fidel Castro em 1953 – para elaborar a alegoria do "asalto a lo imposible", característica da nova arte revolucionária que ajudaria a tornar possível a revolução efetiva. |