Oral (Tema Livre)
136-1 | Mario Bellatin e a escrita nômade | Autores: | Isabel Jasinski (UFPR - Universidade Federal do Paraná) |
Resumo O nomadismo pode ser considerado um estado originário para a humanidade, referido ao trânsito de uma situação que nunca permanece a mesma. Como forma de apreensão do mundo, ele marca a caminhada do ser humano ao longo da sua existência. Porém, no século XX, a partir das Grandes Guerras, adquiriu-se uma consciência da “mundialidade” para além das fronteiras nacionais. Por razões políticas, econômicas, ou simplesmente por aspirações hedonistas e aventureiras, a imigração, o exílio ou a viagem configuraram narrativas dessa experiência. Algumas vezes produto da capacidade de escolha do ser humano, outras não, elas redefinem os conceitos de liberdade, de autonomia e de identidade. Enquanto potencial de compreensão e autocompreensão por meio da busca, essas narrativas despertam o interesse da reflexão literária que pensa sobre as possibilidades da representação ficcional de captar a fluidez da vida e sobre a composição de uma escrita nômade. Os personagens de Mario Bellatin vivenciam tal prática de apreensão e expressão da realidade, que evidencia o diferimento como elemento determinante para a construção de sentido nos seus textos. A escrita nômade não aspira a totalização, não para de se escrever, ela se constitui por meio dessa exploração das potencialidades da expressão, sem considerar-se presa a pressupostos de significação. Ela caracteriza um projeto estético que prioriza o vir-a-ser da palavra literária, o seu aspecto artístico, plástico, livre e lúdico, pura prática do presente. A escrita nômade de Bellatin se configura sobre uma espécie de lapso narrativo que rompe toda continuidade lógica e se efetua na elaboração dos personagens, na relação entre textos e imagens, na fragmentação narrativa. |