XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:593-1


Oral (Tema Livre)
593-1No labirinto da escrita: a tentação autobiográfica em três romances de Antonine Maillet
Autores:Renato Venancio Henrique de Sousa (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Resumo

Nossa comunicação busca refletir sobre as relações entre o romance e as chamadas "escritas de si" a partir da leitura de três textos da escritora canadense de língua francesa Antonine Maillet, a saber On a mangé la dune (1962), Le Chemin Saint-Jacques (1996) e Le temps me dure (2003). Através do relato da história de Radi/Radegonde, alter ego da autora originária da província marítima do Novo Brunswick, na região da antiga Acádia, os romances retraçam o percurso de uma carreira nascida do desejo de uma menina que, diante de "uma realidade inacabada" (2003, p. 260), quer "Recriar o mundo com lápis e papel" (2003, p. 263). No prefácio de On a mangé la dune, Marcel Dubé diz que "o romance de Radi é também o da infância de Maillet e mesmo da infância tout court"(p. 244). Na primeira parte de Le Chemin Saint-Jacques, sobre o qual James de Finney afirma ser "tanto uma autobiografia fantasiosa quanto um romance de formação" (p. 56), a autora continua a narrativa da infância da protagonista. Na segunda parte, acompanhamos os acontecimentos da adolescência e da idade adulta de Radegonde assim como o nascimento de sua vocação de escritora. Le temps me dure põe em cena o diálogo entre Radegonde e Radi, numa espécie de desdobramento de personalidade da narradora-personagem que, tendo chegado à velhice, retorna metaforicamente à infância, que para ela é o lugar de todas as possibilidades. Graças às ressonâncias autobiográficas dessas obras, marcadas pelo tema do retorno às fontes e pela busca da origem, mas também das origens, podemos considerá-las com Philippe Lejeune (2006) "romances autobiográficos", nos quais a aventura das palavras alia-se à viagem da e pela escrita, em meio ao labirinto de uma memória ligada, ao mesmo tempo, ao destino pessoal de uma escritora e ao destino da coletividade acadiana.