Oral (Tema Livre)
862-1 | O CONTEXTO RELIGIOSO NA LITERATURA DE MAYA ANGELOU E MÃE BEATA DE YEMONJÁ | Autores: | Felipe Fanuel Xavier Rodrigues (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) |
Resumo As literaturas afro-americana e afro-brasileira podem ser entendidas como diferentes variações de um mesmo gênero que, marcado por uma singularidade discursiva em torno de uma temática étnica, possui fortes vínculos culturais com as situações sociais de cada contexto histórico de que emerge. O gênero pode ser visto, assim, como uma marca de resistência cultural por meio da literatura.
O trabalho de arqueologia literária empreendido por Henry Louis Gates Jr. (1993, 1989a, 1989b) revela o quanto tal resistência é significativa historicamente. Em termos numéricos, exempli gratia, Gates tornou pública, na década de 90, uma coleção de escritos afro-americanos, produzidos entre 1829 e 1940, que alcançam a marca de 12000 contos, 18000 poemas e 42000 resenhas e artigos. Desse modo, a própria América seria o nascedouro da cultura afro-americana.
No caso brasileiro, ainda não há estudos conclusivos de arqueologia literária que indiquem a importância histórica da literatura enquanto veículo de resistência cultural, desde os tempos coloniais. Todavia, outra forma de arte, como a música, desempenha este papel, sobretudo por meio de um gênero musical como o samba, que tem se caracterizado por guardar memórias de um tempo difícil. No passado, a dura realidade de escravos baianos tematizou a cor de um ritmo que hoje é marca da identidade nacional. Como já cantava Vinicius de Moraes: “Porque o samba é a tristeza que balança / E a tristeza tem sempre uma esperança / A tristeza tem sempre uma esperança / De um dia não ser mais triste não.” (“Samba da Bênção”)
É preciso dizer que a literatura afro-brasileira não goza do mesmo prestígio que a literatura afro-americana possui dentro de seu próprio país, apesar de autoras afro-brasileiras serem reconhecidas por pesquisadores estrangeiros (Salgueiro, 2004). A ausência de reconhecimento, no entanto, não tem impedido a existência de uma literatura que, enquanto arte, produzida majoritariamente por mulheres, tem contribuído para a discussão de questões culturais relativas aos afro-descendentes no Brasil.
De modo amplo, as culturas afro-americana e afro-brasileira fazem parte de uma discussão maior sobre Diáspora Africana, entendida na academia como relacionada a localidades geográficas, para onde pessoas oriundas da África, em algum momento, imigraram, de modo forçado na maioria das vezes, e contribuíram para a formação de culturas nacionais. (Tillis, 2009) Neste aspecto, tanto o Brasil como os Estados Unidos, ao longo de sua história, foram influenciados pelas tradições culturais africanas. Esta influência forjou novas manifestações culturais, frutos, em sua maioria, de um novo contexto formado pelo choque entre diferentes culturas. Da situação colonial foram herdados problemas sociais que não seriam apagados da literatura contemporânea de ambos os países.
Apesar das idiossincrasias do ambiente de produção textual das literaturas afro-americana e afro-brasileira, uma característica comum entre elas merece destaque, a saber: a importância da religião como elemento simbólico em um contexto de resistência. A autobiografia seria um fator que explicaria essa característica nesse gênero. É possível observar o quanto o contexto religioso está presente no universo simbólico de duas autoras literárias, das localizações geográficas em discussão, Maya Angelou e Mãe Beata de Yemonjá. |