Oral (Tema Livre)
769-1 | Lições de Sevilha
A reconstrução do espaço espanhol na obra poética de João Cabral de Melo Neto
| Autores: | Nylcéa Thereza de Siqueira Pedra (UFPR - Universidade Federal do Paraná) |
Resumo Henri Lefebvre no seu estudo La production de l´espace 1974) afirma que o espaço, antes de ser uma representação do absoluto geométrica e tecnicamente entendido, é uma vivência social. Nele se conjugam um espaço físico, um espaço mental e um espaço social constituídos pela construção, percepção e interação de um eu e de um outro. Tomando os conceitos de Lefebvre para pensar a construção do espaço físico espanhol – especialmente o sevilhano – nos textos poéticos cabralinos, podemos atribuir ao lugar de encontro do eu-poeta com o espaço-outro o estatuto de lugar de mediação. Viver os espaços parece ser condição sine qua non para que eles possam vir a fazer parte do imaginário poético de João Cabral. E é neste sentido que o verbo habitar recebe um significado bastante contundente em sua obra. Habitar é fazer parte, ocupar, é viver um lugar. Etimologicamente, é criar um habitus, no qual a constância é fundamental para a conquista da intimidade. Assim, se somos naturalmente habitantes de onde nascemos, precisamos fazer-nos habitantes do lugar para onde vamos e esta relação de hábito só se constrói na vivência deste espaço social que aponta Lefebvre, isto é, no encontro íntimo com o espaço geográfico, com as pessoas, com o modo de viver característico deste lugar. Esta é a lição de Sevilha ditada pelo poeta. Passar pela cidade é registrá-la como turístico-anedótica, atendo-se unicamente a seu museu e catedral. Aprender as “Lições de Sevilha” é habitá-la, para conhecê-la no seu íntimo, no profundo e corriqueiro cotidiano. A importância do visual, do habitar e da intimidade na poesia cabralina se confirma, de maneira definitiva, em Sevilha andando 1990). Caminhando pelas ruas sevilhanas, encontra suas gentes, toureiros, bailaoras, escritores, pintores, poetas, circulando ao lado de anônimos que também formam a cidade de Sevilha e a síntese da Espanha em sua obra poética. João Cabral não se limita, então, à visualização do exterior, mas assimila o universo observado e vivido, cujo significado pode ser verificado na presença irrefutável das artes populares e eruditas espanholas em sua obra. A síntese da reconstrução do entorno espanhol será analisada durante a comunicação no sugestivo poema “Na despedida de Sevilha”. |