XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:1069-1


Oral (Tema Livre)
1069-1Candido e a hegemonia: breve reflexão sobre a crise dos estudos literários.
Autores:Eduardo José Tollendal (UFU - Universidade Federal de Uberlândia)

Resumo

Com esta comunicação, pretendo contribuir para a reflexão sobre a crise dos estudos literários nos nossos cursos de Letras. Parto de uma hipótese que é quase um corolário: a evidente incúria cultural e intelectual dos alunos de graduação em Letras, cujo repertório de leitura das obras canônicas da civilização ocidental (em que se incluem as latino-americanas) me parece irrelevante, num percentual próximo de zero. Pensando esta hipótese, acrescento uma suposição, ainda na forma da pergunta: estaria esta incúria com o saudável hábito de leitura dos clássicos em simetria com o privilégio dos hábitos de navegação internáutica – em blogues, orkutes e feicebukes – evidentemente disseminados entre os alunos dos cursos de Letras, assim como entre todos de sua geração? Estaria havendo a substituição de uma prática da leitura por outra, que se pretende equivalente à literária, mas que dela difere por seu caráter lúdico e confessional, privando nossos alunos de uma experiência estética que somente a leitura dos clássicos proporciona? Estou falando de uma crise que parece rondar alunos que serão, muito em breve, os futuros professores de Português e Literatura das futuríssimas gerações brasileiras – se a escolaridade, como a concebemos hoje, continuar existindo. A constatação desta crise nos leva a pensar, ainda na forma da indagação, no campo dos princípios pedagógicos: qual é o nível de necessidade da literatura como disciplina de formação cultural e intelectual dos nossos alunos, por meio de atividades que favoreçam a prática da leitura literária, nos currículos do curso de Letras? Como se vê, não pretendo discutir a questão dos estudos culturais – o que são e a que se destinam; menos, ainda, assumir uma atitude quixotesca de combater práticas de navegação internáutica inexoravelmente incorporadas à vida contemporânea; nem impedir que as pesquisas nos cursos de Letras privilegiem escritas produzidas em circuitos alternativos; até porque, se problema houver na opção dos alunos pela leitura de obras não-canônicas, este não estaria na escolha do objeto mas na definição dos objetivos de leitura – que, a meu ver, devem voltar-se sempre para a aferição da proposta estética do objeto eleito, uma vez situado – como ensinaram os formalistas de antanho – em relação às séries literárias que o antecederam e ao sistema cultural em que se produz. Esta breve reflexão poderia ser conduzida pela leitura de vários autores, pró e contra os estudos literários. Nesta comunicação, contudo, pretendo recuperar um antigo texto de Antonio Candido, escrito numa época em que as experiências internáuticas ainda se encontravam na pré-história: “ O direito à literatura”. O conceito de literatura admitido por Candido, neste texto, alcança tal abrangência que nos permite afirmar: o emérito professor não se oporia a qualquer radicalidade na escolha dos objetos de estudo no campo da pesquisa literária. A leitura canônica, contudo, lhe parece ser um direito do cidadão comum, numa sociedade de hegemonia burguesa sobre uma base culturalmente massificada; como fator de humanização, de formação de uma consciência crítica e de inclusão social, esta experiência estética não pode ser negligenciada.