Oral (Tema Livre)
725-1 | JOSÉ RÉGIO, CONTINUADOR DE MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO?: O DUPLO EM “MÁRIO OU EU PRÓPRIO-O OUTRO” | Autores: | Fernando de Moraes Gebra (UFPA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) |
Resumo A presente comunicação centra-se no estudo do duplo na peça de teatro “Mário ou Eu próprio-o Outro”, de José Régio (1901-1969), figura central da Revista Presença, periódico que divulgou as obras dos autores ligados à Revista Orpheu. A peça em análise faz uma releitura da vida e da obra de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) e, apesar de apresentar outros discursos ausentes na obra do poeta de Orpheu, destaca o confronto do sujeito com seu duplo, o desejo de perfeição e a temática do suicídio, aspectos tão caros à obra desse autor, como se percebe no conto “Eu próprio o Outro”. O conto e a peça são dois momentos do mesmo drama da existência problemática do sujeito: no primeiro texto, ocorre o encontro com o duplo, e a narrativa termina em suspenso com o desejo de aniquilamento desse estranho/familiar; já no segundo, há o embate dialógico entre o indivíduo e seu duplo, terminando por inverter a estrutura do conto, pois na peça é o duplo a instância que prepara o suicídio poético do indivíduo. A literatura dentro da literatura: vida e arte se cruzam nos jogos de espelhos empreendidos pelo autor presencista. O objetivo desta comunicação é o de verificar os mecanismos de construção da identidade, relacionados ao desdobramento de personalidade presente na peça de José Régio, em comparação e contraste com o conto de Sá-Carneiro. A teoria do duplo, proposta por Sigmund Freud, Otto Rank e Clément Rosset, permite observar como os desdobramentos de personalidade, de espaço e de tempo operam na construção identitária do sujeito na sua relação com o sistema social em que está inserido. Na peça de Régio, é visível como a personagem principal está em constante embate com seu duplo, já que este censura a todo o momento o narcisismo de Mário. O fato de a personagem se esquivar do seu duplo representa a não aceitação de si mesma, explicação de tanta angústia na descoberta do eu profundo, a ponto de Mário se aniquilar por meio do suicídio. É essa perspectiva psicanalítica e filosófica que será apresentada, tendo em vista as relações intertextuais estabelecidas com a obra de Sá-Carneiro. |