Oral (Tema Livre)
715-1 | LEGADOS DE JUVENTUDE: OS PRIMEIROS DIÁRIOS DE VIRGINIA WOOLF | Autores: | Vera Lima Ceccon (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro) |
Resumo A história da publicação dos textos póstumos de Virginia Woolf (1882-1941), em décadas recentes, testemunha a flexibilização e a ampliação da receptividade acadêmica a formas textuais não-literárias ou não-acabadas.
Se a obra ficcional e não-ficcional de Woolf publicada em vida já era arrebatadora pela envergadura e quantidade – afinal foram nove romances, duas coleções de contos, duas coletâneas de resenhas, três longos ensaios e três biografias – o que dizer ante a emergência de uma “obra submersa” ainda mais volumosa ?
De fato, a publicação progressiva, a partir dos anos 1970, de seus escritos autobiográficos e textos inacabados ou abandonados, além de artigos jornalísticos não assinados, produziu uma reviravolta nos meios acadêmicos.
Entre 1975 e 1980, Nigel Nicolson e Jeanne Trautmann compilaram e publicaram 4000 cartas.
Em 1976, suas duas memoirs inacabadas, Reminiscences , de 1907, e A Sketch of the Past, de 1939-40, foram reunidas por Jeanne Sulkind no volume Moments of Being.
Entre 1977 e 1984, Anne Olivier Bell tomou para si o encargo de transcrever a escrita criptográfica de 35 anos de diários de Virginia Woolf, isto é, os diários de casada.
Em 1983, Brenda Silver publica as anotações de leituras preservadas em 26 cadernos manuscritos, sob o título de Virginia Woolf's Reading Books.
A partir de 1986 e até 1992, todos os seus ensaios foram reunidos e publicados em 6 volumes por Andrew McNeille, sob o título The Collected Essays of Virginia Woolf.
E, finalmente, em 1990, Mitchel Leaska publicou os diários intermitentes de solteira, isto é, escritos na adolescência e juventude por Virginia Stephen, entre 1897 e 1909, e que cobrem dos seus quinze a vinte e sete anos de idade.
Com a publicação destes últimos se completou um legado único, que vem suscitando apaixonantes questões e discussões, além do surgimento de um campo de estudo próprio, os chamados Woolf Studies.
O trânsito de Woolf por estas diversas modalidades da escrita testemunham a inquietação de um pensamento na busca de formas adequadas para sua expressão. Minha proposta de comunicação consiste assim em estudar e problematizar algumas passagens dos diários em que Woolf reflete sobre a questão do pensamento criador. Pretendo também sinalizar a linha de continuidade, iniciada nos diários de juventude e levada até o fim de seus dias, surpreendente para uma vida tão conturbada.
De fato, os primeiros diários já explicitavam a intenção de armazenar, de forma compacta, pensamentos e experiências a serem descompactados no futuro “por uma mão mais hábil”. E Woolf se manteve fiel a tal proposta, pois os diários de casada revelam como em diferentes ocasiões de sua já renomada carreira, retornou a este primeiro material, para nele buscar matéria-prima para outros escritos.
Gostaria de apresentar como isso se deu com To the Lighthouse, publicado em 1927 e um de seus romances mais conhecidos, mas também com A Sketch of the Past, as memórias que redigiu até fins de 1940, já durante os bombardeios nazistas sobre Londres, e um de seus últimos escritos, deixados inacabados.
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