XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:1047-1


Oral (Tema Livre)
1047-1O processo na tela: Orson Welles acompanha Josef K. diante da lei
Autores:Kim Amaral Bueno (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

Resumo

A obra de Kafka despertou as mais variadas leituras e interpretações tanto pelo seu caráter quase profético em relação às atrocidades do século passado quanto pela sua capacidade de manter-se atual e de confrontar novas questões que emergem neste novo século. Tais leituras não se restringem apenas ao campo da crítica e dos estudos literários, representando também importante elemento de transcriação a partir da obra do autor de Praga: muitos foram os artistas que se valeram das questões levantadas por Kafka em seu projeto literário e com elas travaram franco diálogo, tencionando-as e lhes conferindo novas perspectivas. Dentro deste diálogo intertextual, Orson Welles aparece como importante leitor da abra de Kafka, levando à tela o romance O processo, em película homônima lançada em 1962. No filme, Welles filia-se a Kafka na constituição do tempo e do espaço narrativos, transpondo para o cinema o aspecto expressionista e labiríntico arquitetados na narrativa literária. O embate do protagonista com a lei e o emaranhado burocrático que encobre seu processo são elementos que, transpostos por Welles em novo código narrativo, lançam luz sobre o absurdo que rege a vida de Josef K. As questões que afloram da obra da Kafka, sejam aquelas que dizem respeito à condição do homem diante dos eventos-limite do século vinte, num percurso teórico traçado por Hannah Arendt, por exemplo; ou, do sujeito aprisionado pelo biopoder e pelos novos mecanismos de controle estatais, como sugere Giorgio Agamben, potencializam-se no écran cinematográfico. Os princípios das teorias comparatistas propostas nos últimos anos, vistas, principalmente, a partir dos avanços que o emprego da Teoria da Transtextualidade de Gérard Genette (1982) aportou aos estudos literários, bem como outras formulações teóricas, as quais, refletindo no mesmo eixo temático, aplicam o princípio teórico da intertextualidade para a produção de sentido em textos literários, como as postulações de Roland Barthes (1970, 2006) e de Julia Kristeva (1969), formam o aporte teórico que sustentam a leitura das obras, literária e cinematográfica, bem como das implicações decorrentes do movimento de apropriação temática pelo hipertexto decorrente da transcriação fílmica.