XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:120-1


Oral (Tema Livre)
120-1A voz de David Foster Wallace em seu Octeto; ou, como ser sincero pode ter de passar por artifícios
Autores:Caetano Waldrigues Galindo (UFPR - Universidade Federal do Paraná)

Resumo

O escritor norte-americano David Foster Wallace é constantemente identificado com um "movimento" algo vago que por vezes se chama Nova Sinceridade. Um grupo de autores, músicos, cineastas que, de certa forma desencantados com o mundo irônico e mesmo pós-irônico de modernismos e pós-modernismos, decide tentar o que a princípio pode até parecer retrógado e anti-moderno, seguindo em busca de um contato direto, menos refratado, com seu público. Queira isso dizer o que por isso se entenda em cada caso. Mesmo descontada essa descrição de um "movimento", Wallace, ele próprio, deixou registrado em vários momentos e em diversos registros (entrevistas, ensaios e mesmo nas famosas notas de rodapé de sua ficção) seu descontentamento com uma linguagem (uma estética e uma língua) que parecia ser condicionada por uma imposição cada vez mais violenta e cada vez mais tematizada de máscaras, personas, afetações. Este trabalho pretende investigar o quanto essa paradoxal busca por verdade na ficção (e essa busca não é necessariamente temática: não se trata de abandonar a "ficção") pode se articular com um questionamento dos moldes meta-textuais pós-modernos e com a criação de um idioma narrativo que se aproveita talvez da única fronteira ainda disponível no fim do século xx para criar um estranhamento no uso da linguagem e, assim, produzir no leitor um distanciamento em relação ao texto e ao contexto que, de novo paradoxalmente, possa gerar verdade na arte, pela arte. Centrando-se em uma análise mais detida do "conto" Octet da coletânea Brief Interviews with Hideous Men, o trabalho tentará demonstrar os mecanismos empregados por Wallace (no nível da estrutura narrativa, do pacto discursivo-enunciativo da ficção, assim como no nível da superfície, da trama linguística do texto final) para criar um "ruído" que possa chamar a atenção do leitor para o que ele pretende, diretamente, dizer. Como ser "sincero" e "direto" em um mundo que condena o autor de ficção a apenas se referir entre aspas a essas "qualidades". Como tentar driblar a ironia dentro de seu próprio jogo, com suas próprias regras. Como usar o "estranhamento" para falar do que deveria ser "familiar".