Oral (Tema Livre)
357-1 | Messianismo e ficção histórica – líderes femininas | Autores: | Edna da Silva Polese (FARESC - Faculdades Santa Cruz) |
Resumo Os romances Videiras de Cristal (1990), de Luiz Antonio de Assis Brasil, e Sete léguas de paraíso (1989), de Antonio José de Moura, tematizam a atuação de duas mulheres líderes messiânicas: Jacobina Maurer e Benedita Cipriano. O movimento liderado por Jacobina Maurer, conhecido como a revolta dos Muckers, ocorreu entre 1872 e 1874, em Padre Eterno, interior do Rio Grande do Sul, no sopé do morro do Ferrabrás, hoje pertencente ao município de Sapiranga. O movimento particulariza-se por opor-se aos dogmas do luteranismo, religião da maioria dos imigrantes alemães da época. Já o movimento conhecido como República dos Anjos, fundado por Santa Dica, nascida Benedita Cipriano, ocorreu entre 1923 e 1925. A exemplo de Canudos e do Contestado, também esses movimentos foram destruídos a manu militari. A produção literária de Luiz Antonio de Assis Brasil, autor de Videiras de Cristal, é vasta e quase todos os seus títulos revisitam temas históricos e apresentam algumas características como o primeiro plano voltado para o personagem histórico, a intertextualidade com outras modalidades discursivas e o mote da metaficção. Constituída a partir do olhar de diversos personagens, Jacobina, a líder religiosa, conhecida como o Cristo feminino, é a enigmática personagem do romance Videiras de Cristal. Sete léguas de paraíso focaliza a figura Benedita Cipriano, a Santa Dica, a partir de diferentes perspectivas, como a do discurso jornalístico que, não causando surpresa, incita as autoridades locais a destruírem o mais rápido possível o reduto, pois o exemplo de Canudos, tão próximo e tão assustador, não deixara dúvidas quanto à periculosidade desse tipo de aglomeração. Enfatiza-se a perspectiva do estudo da personagem para analisar essas obras, assim como os recursos utilizados pelos escritores para essa construção. Tais perspectivas caracterizam a ficção histórica da atualidade. Para o estudo da figura do líder, na obra ficcional, utilizaremos a teoria de Auerbach. O líder messiânico procura realizar uma ação outrora anunciada. Sua imagem está vinculada à de Cristo ou vinculada a outras personagens históricas de atuação religiosa, fato que corresponde ao que Auerbach observa sobre a interpretação figural. O Messianismo, cujas origens encontram-se no Antigo Testamento, readapta-se em terras americanas e é tema recorrente na produção da ficção histórica da atualidade. Bibliografia: AUERBACH, Erich. Figura. São Paulo: Ática, 1997. BRASIL, Luiz Antonio de Assis. Videiras de Cristal. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990. FERNÁNDEZ PRIETO, Célia. Historia y novela: poética de la novela histórica. (Navarra) España: Ediciones Universidad de Navarra, 2003. GALVÃO, Walnice Nogueira. A donzela-guerreira: um estudo de gênero. São Paulo: Editora SENAC, 1998. JAMESON, Fredric. O romance histórico ainda é possível? Novos Estudos. CEPRAP, São Paulo, n. 77, p. 205-220, mar. 2007. MOURA, Antônio José de. Sete léguas de paraíso. São Paulo: Global, 1989. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. São Paulo: Editora da Unicamp, 2007. WEINHARDT, Marilene. Ficção histórica e regionalismo: estudo sobre os romances do Sul. Curitiba: Editora da UFPR, 2004.
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