XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:330-1


Oral (Tema Livre)
330-1DA CARROÇA AO BONDE NÃO HÁ UMA LINHA RETA: IMAGEM E SUTURA NO POEMA “TU” DA PAULICEIA DESVAIRADA
Autores:Bairon Oswaldo Velez Escallon (UFSC - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA)

Resumo

Mario de Andrade inventou uma fórmula sofisticada e teoricamente eficaz para interpretar o Brasil, a sua modernidade e as suas manifestações artísticas. A matéria-prima dessa chave de leitura se compõe de duas operações: 1) A clausura do passado -um passado alienado-, dos seus fundamentos e fins; 2) A complementar substituição desse passado por um presente que marcha conscientemente até a sua realização final. Dessa perspectiva, largamente difundida e repetida até hoje, a tarefa da modernização da cultura brasileira só seria possível pela intervenção de uma gradativa tomada de consciência, do progressivo esvaziamento de tudo que fosse imposição de modelos das metrópoles dos países chamados “adiantados”, ou, melhor, da sua assimilação crítica numa “dimensão organizada e cumulativa” que acabaria por constituir uma identidade. Qualquer outra opção corresponderia imediatamente a um arranjo de “idéias fora de lugar”, isto é, a uma modernização imperfeita, em que a precariedade intelectual ambiente seria propícia a uma ufanista consciência do atraso, a uma assimilação do modelo que o conserva como forma, mas o destrói como força de transformação: uma “modernidade seqüestrada”, segundo um muito recorrente chavão. Um exemplo recente dessa leitura é o artigo “A carroça o bonde e o poeta modernista” (1989), em que Roberto Schwarz aproxima o poema “Pobre alimária” (1925), de Oswald de Andrade, da ideologia e da estética da classe cafeeira emergente nos primórdios do Século XX. Nesse trabalho, o crítico pretende mostrar como o poeta modernista “auratiza o mito do país não-oficial” ao suprimir o antagonismo de classe entre os “símbolos” da carroça (pré-burguesa) e o bonde (moderno-burgués). Mediante a justaposição desses símbolos, o Modernismo elevaria “o produto à dignidade de alegoria do país” (1989, p.12). Essa elevação, segundo Schwarz, contribuiria a manter as prerrogativas da oligarquia emergente e se integraria facilmente ao discurso da modernização conservadora, impedindo de vez uma autêntica modernidade brasileira. Entretanto, se pensarmos o poema a partir da dialética da imagem e já não mais sob uma dialética do progresso (que acaba sempre sintetizando as oposições), veremos que não há como “situá-lo” absolutamente na história, que a sua força não cessa de ter acontecimento, que a identidade e/ou a consciência de si não esgotam o sentido. Na comunicação projetada tentarei mostrar como isso que antes chamei de “fórmula” se desenvolve em alguns dos textos críticos e teóricos de Mário de Andrade e o confrontarei com o poema “Tu” (muito próximo do “Pobre alimária”), lido “a contrapelo” dessa concepção narrativa ou teleológica. Palavras-chave: Poesia modernista, crítica literária, teoria literária, historiografia literária.