XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:1028-1


Oral (Tema Livre)
1028-1HISTORIOGRAFIA/TERATOLOGIA: A IRREDUTÍVEL OPOSICIONALIDADE DA CRÍTICA
Autores:Nabil Araújo (PÓS-LIT/FALE/UFMG - Pós-Lit / Faculdade de Letras / UFMG)

Resumo

Em "Writing the history of criticism now?" (1985), Dominick LaCapra responde a uma tal pergunta com uma outra, como se reconhecesse aí um obstáculo aparentemente intransponível: "como alguém escreve uma história de um 'objeto' radicalmente heterogêneo e internamente dialógico?" Uma tal visão das coisas, ele a avalizava por meio da citação de um trecho de On deconstruction (1982), de Jonathan Culler, no qual se fala da "confusão" da teoria literária contemporânea e da crítica como um campo constituído por "atividades aparentemente incompatíveis". O curioso é que no livro de Culler a heterogeneidade e a dialogicidade da crítica que tanto impactarão a LaCapra surgem como plenamente subsumíveis a um novo "gênero" de produção discursiva denominado "Theory", do qual Culler se esforçará por fornecer, a partir de então, a teoria: já num texto de 1987, ele nos oferece a narrativa da gênese, do desenvolvimento e da progressiva institucionalização da "Theory" na universidade norte-americana; uma década depois, publica o manual que coroará a institucionalização definitiva do referido gênero discursivo como prática teórico-crítica hegemônica no mundo de língua inglesa: Literary theory: a very short introduction (1997). Mas se já em On deconstruction a "Theory" é apresentada como um gênero essencialmente heterogêneo, dialógico e transdisciplinar (que abarcaria em si, portanto, as oposições de superfície no campo da crítica), a percepção, expressa por LaCapra em 1985, da crítica como uma "arena" onde disputam entre si "diversas práticas discursivas" não poderia ser remetida a um mero desconhecimento da boa nova pacificadora anunciada por Culler em seu livro, mas a algo como um recuo reversivo em relação àquilo mesmo que, nela, e justamente em nome de um certo ecletismo em matéria de crítica, inevitavelmente recalca uma heterogeneidade/dialogicidade de base que, como tal, permaneceria irredutível ao referido ecletismo. Nesse recuo, que se confunde com um desrecalcamento do irredutivelmente heterogêneo/dialógico da crítica, é uma certa operação historiográfica que se deixaria, então, entrever: não arquivadora e institucionalizante, como a historiografia convencional, mas desarquivadora, reveladora do subsolo de oposições indecidíveis no próprio alicerce das práticas teórico-críticas institucionalizadas (incluindo a "Theory"), e no qual reside, em última instância, sua própria historicidade. Em outras palavras, o horizonte heterogêneo/dialógico divisado por LaCapra revelar-se-ia não como um ponto de partida mas como um ponto de chegada de uma certa historiografia da crítica. A natureza dessa atividade historiográfica e do horizonte por ela revelado, bem como suas possíveis consequências para os estudos literários, isso é o que eu gostaria de abordar em minha comunicação, tomando por base um iluminador texto de Jacques Derrida, publicado em 1990, em que ele se ocupa criticamente da situação da "Theory" e da desconstrução nos EUA.