Oral (Tema Livre)
1044-1 | A obra de Bernardo Élis entre o centro e a periferia do Brasil: a questão da nação brasileira.
| Autores: | Leila Borges Dias Santos (UFG - Universidade Federal de Goiás) |
Resumo A obra de Élis mostrou ao país parte da realidade social de Goiás, estado considerado periférico cultural e economicamente. Em seu universo ficcional está presente não a sociedade que o autor almeja, mas a que não aceita, com sua hierarquia e semi-escravidão, o que remete a uma realidade social degradada que teve início no período colonial. A obra de Bernando Élis se situa no regionalismo realista do modernismo, apresentando a chamada verticalização da consciência do autor em sua narração, pois ao revelar maior proximidade com seus personagens não se situa como narrador institucionalizado e de fala erudita. É o que Candido denomina de universalização necessária sobre uma realidade ficcional. Por meio dessa proximidade com a linguagem do homem degradado da pequena cidade subsumida ao mundo rural do interior de Goiás, Élis enaltece a cultura local revelando seu apelo universal em meio ao drama humano tecido em sua narrativa. Élis se situa no que Afrânio Coutinho denominou Regionalismo central, no caso, goiano, e observa sua inserção na consciência nacional introspectiva inaugurada pelos românticos e valorizadora das realidades locais e de sua peculiaridade política e cultural. A presente discussão destaca como a obra de Élis descortina a realidade social e cultural de pequenas cidades do interior goiano, cenário típico do que Freyre denominou “rurbanidade”, tendo como pano de fundo o coronelismo, reminescência do patriarcalismo colonial, em meio à chamada decadência do ciclo do gado. Élis auxilia na inserção do estado de Goiás na vida literária nacional, interferindo na auto-representação dos goianos e contribuindo para o desenvolvimento da literatura nacional com a confecção de uma obra oriunda do regionalismo realista moderno de cunho etnográfico e documental. Élis, diante da tragédia humana de seus personagens, busca atingir na realidade, por meio do seu recurso literário, a emancipação prometida pelo Iluminismo, mesmo que ausente na sua ficção. A degradação humana e o desespero presentes em sua ficção têm a função de constituir uma crítica social organizada por meio de sua sensibilidade criativa,dando voz a uma parcela da população que, do contrário, não seria percebida. É isso o que confere à sua obra, a universalidade literária que rompe com as construções imaginárias regional-nacional, centro-periferia. Nesse sentido, sua obra emancipa, pois universaliza ao fazer reconhecer o humano no outro coisificado pela herança escravista-hierárquica da colonização rural-patriarcal portuguesa, localizada no interior brasileiro, distante dos centros urbanos considerados nacionais e circunscrita a cultura, economia e geografia periféricas. O objetivo desse estudo é analisar a obra de Élis sob a perspectiva de uma desconstrução da relação centro-periferia existente na produção literária brasileira. Um resultado possível remeteria não a uma dissolução identitária das fronteiras estéticas, lingüísticas, etnográficas e sócio-culturais do país, mas sim, a uma desconstrução do status diferenciado entre interior e litoral, de maneira a não existir mais uma hierarquia entre as várias regiões com relação à representação nacional, o que potencializaria a concretização de uma democracia e de uma emancipação social ainda por se realizar, no que Candice Vidal denomina de dissonâncias de um único tom: a nação brasileira. |