XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:413-1


Oral (Tema Livre)
413-1Fantasmas no Universo Literário Inglês: Complexidades Dramáticas e Teológicas na Inglaterra do Século XVI
Autores:Régis Augustus Bars Closel (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)

Resumo

Geralmente se relaciona muitos eventos do drama elisabetano ao período dramático precedente de maior impacto, cujo conhecimento chegou até os nossos dias, isto é, as tragédias e comédias latinas. O tragediógrafo Lucius Annaeus Sêneca é visto como o grande responsável por elementos temáticos, estilísticos e estruturais das tragédias de Thomas Kyd, Christopher Marlowe e William Shakespeare. Contudo, ao recorrer apenas à tradição trágica, todos os elementos desenvolvidos nos muitos séculos que os separam dos latinos e a própria época em que os dramas do século XVI inglês foram escritos são deixados de lado. Esta camada compõe diversas outras tradições que se mesclam para formar o drama elisabetano.
Durante o século XX, esta discussão frequentemente oscilou entre a tradição trágica e a chamada “Influência de Sêneca” e a menos comum e conhecida defesa das tradições nativas que tentavam remover qualquer relação entre o dramaturgo latino e as grandes obras como Hamlet, Richard III, de Shakespeare e The Spanish Tragedy, de Thomas Kyd, entre outras. A leitura crítica e histórica dessas obras mediada por uma leitura das tradições populares e outras obras importantes inglesas ou traduções de outros latinos, como Virgílio e Ovídio, no século XVI, aponta mais para uma fusão de tendências, não cabendo optar por um lado ou outro da discussão. Entre os elementos geralmente levantados, encontram-se: o verso branco, a divisão em cinco atos, a esticomítia, o fantasma e o tirano.
O elemento comum mais intrigante a ambas as formas, que se prestou para reconhecer ou não a influência de Sêneca nesse período, aponta para o tratamento dado ao sobrenatural, em especial ao uso de fantasmas como personagens. Tal recurso dramático encontra-se, na tradição trágica, desde Ésquilo. Na Inglaterra, a partir de obras que seguiam o estilo De Casibus Virorum Illustrium (1355-60), de Giovanni Boccaccio, surge uma obra coletiva, The Mirror for Magistrates (1559), na qual a biografia é narrada pelo seu próprio fantasma a um grupo de interlocutores que avaliam sua queda. Este tipo de leitura funde-se ao gênero trágico. Durante e depois da época em que Sêneca foi traduzido, em Londres, aparecem as primeiras tragédias inglesas, como Gorboduc (1561), Gismond of Salerne (1567-9), Cambyses (1569), Misfortunes of Arthur (1588) e Locrine (1586-94?). Deste grupo reduzido, o fantasma faz parte de diversos enredos. Cronologicamente, seu papel dentro da tragédia desloca-se da total observação e comentário sobre a ação, passando, gradualmente, das pequenas intervenções em sonhos e aparições para os outros, até ganhar objetividade e presença marcante como no Hamlet.
No plano filosófico e teológico, havia, desde a Reforma Protestante, muita discussão sobre fantasmas, em especial pela falta de acordo entre Católicos e Protestantes sobre a existência do Purgatório e os muitos relatos de aparições. Há ainda o elemento popular que, antes da Reforma, o associava como um sinal de morte próxima ou um pedido por orações e doações. O ser que surge do além clamando vingança é posterior e caro à tragédia elisabetana, algo que tem em seu passado todas essas tradições mescladas e adaptadas.
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