Oral (Tema Livre)
412-1 | O papel ético do tradutor enquanto intermediador cultural: a construção paratextual em Paulo e Virginia de 1986 | Autores: | Giovana Bleyer Ferreira dos Santos (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina) ; Marie-hélène Catherine Torres (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina) |
Resumo Antoine Berman (2007) nos fala que a tradução é um processo de comunicação e de certa forma, de “introdução” (p.65), visto que ela possibilita que o leitor de chegada tenha contato com um texto que ele não poderia conhecer em outras circunstâncias. Este processo é realizado pela figura do tradutor que, tendo conhecimento da língua de partida e da língua de chegada, bem como do contexto de criação de determinada obra e do lugar que ela poderá ocupar no sistema receptor, se torna um “mediador cultural”, assumindo assim uma responsabilidade pelo produto final a que os leitores de chegada terão acesso: o texto traduzido.
Essa responsabilidade do tradutor tem gerado discussões em torno de uma ética do traduzir que, nas palavras de Berman (2007), pode ser marcada pelo desejo de “abrir o Estrangeiro enquanto Estrangeiro ao seu próprio espaço de língua”. Ou seja, de “reconhecer e receber o Outro enquanto Outro [...] acolher o Outro, o Estrangeiro, em vez de rejeitá-lo ou de tentar dominá-lo” (p.69). Para que isto ocorra, contudo, é necessário que haja ainda outro reconhecimento, o da visibilidade do tradutor, fato bastante discutido pelo teórico americano Lawrence Venuti.
Venuti (2002) em sua postura ética advoga que “as traduções sejam escritas, lidas e avaliadas com maior respeito em relação às diferenças linguísticas e culturais” (idem, p.20), pois em uma tradução, essas diferenças devem ser negociadas. Ele menciona por exemplo que, se deparamos com um texto “transparente”, que apresenta uma leitura “fluida”, podemos na maioria dos casos verificar que há também a invisibilidade do tradutor. Isto porque um texto traduzido que não cause um estranhamento no leitor de chegada pode esconder a diferença lingüístico-cultural existente entre os textos e entre os respectivos leitores. É claro que não desconsideramos que o próprio Venuti (2002) comenta que “as traduções [...] inevitavelmente realizam um trabalho de domesticação” (p.17). Contudo o que é importante mencionarmos aqui é que esta visão do autor não o impede de considerar que um trabalho de domesticação que deixe o discurso “transparente” pode ocasionar a destruição da letra. Desta maneira, e aqui entra em jogo a proposta deste trabalho, consideramos que a escritura de paratextos pode tanto viabilizar a manutenção da estrangeiridade do texto evitando a destruição da letra, quanto reforçar o importante papel que o tradutor possui como intermediador cultural, oferecendo, portanto, um caminho para que a tradução textual aconteça de forma mais ética. Como forma de ilustrar o que foi dito, propomos uma leitura dos paratextos que acompanham a tradução de 1986 do romance francês Paul et Virginie de Bernardin de Saint-Pierre. Estes paratextos, como poderemos verificar, materializam a função que lhes é dada por Gérard Genette (2009), eles cercam e prolongam o texto literário para “apresentá-lo, no sentido habitual do verbo, mas também em seu sentido mais forte: para torná-lo presente, para garantir sua presença no mundo, sua recepção” (p. 9).
|