Oral (Tema Livre)
11-1 | O crime na escrita: ética e sagrado em Anagramas de Varsóvia, de Richard Zimler | Autores: | Lyslei Nascimento (UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais) |
Resumo Uma série de assassinatos brutais de crianças perpassa o romance "Os anagramas de Varsóvia", de Richard Zimler. Ao encenar esses crimes no gueto judaico em meio à Segunda Guerra, o escritor potencializa o mal, que se propaga fora dos seus limites. Dentro ou fora, ou, como numa caixa chinesa, a violência é descortinada, milimetricamente, como em um espelho. A narrativa policial com os seus elementos tradicionais permeados pela segregação dos judeus no gueto constitui uma estratégia narrativa que põe o leitor diante de uma estrutura labiríntica, em abismo. Diante do mal, representado pelo Nazismo, sua crueldade estampada na tortura, no assassinato sumário e na violação de todos os direitos do indivíduo, a série de crimes contra crianças reafirma a quase onipotência, a materialidade trágica da condição dos judeus. Zimler, ao potencializar esse mal, fazendo do gueto uma ratoeira, uma caixa de torturas, um labirinto de crueldades, faz, sem dúvida, um inventário do sofrimento. Longe de confortar o leitor, ao recriar o espaço confinado do gueto e, dentro desse espaço, a emergência do mal, o escritor reafirma, ainda, seu compromisso com vozes que foram silenciadas pelos desmandos da História, do poder, dos vencedores. “Apesar de todas as tentativas dos alemães para refazer o mundo, as leis naturais continuam a existir.” Assim, apesar de todas as tentativas revisionistas e negacionistas, a História tem o seu pendor na ficção. Espera-se, nesta comunicação, analisar a representação do crime e do mal no romance e avaliar até que ponto uma noção ética se aproxima do sentido religioso que a escrita possa “usar as partes dos corpos para fazer alguma coisa que não é humana”. Para o narrador, todos os templos são metáforas do corpo humano, logo, seria o corpo que daria origem ao conceito de sagrado. O crime e o assassinato seriam, portanto, vistos como uma forma de tirar do mundo tudo o que nele haveria de sagrado.
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