XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:101-1


Oral (Tema Livre)
101-1O tema de Narciso na lírica moderna: espelho e inquietação
Autores:Ana Maria Lisboa de Mello (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do SulPUC-RS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul)

Resumo

A criação lírica tem profunda afinidade com o mito. Os poetas, em diferentes épocas, fazem renascer ou regenerar, através de sua imaginação, símbolos arquetípicos, próprios dos mitos. De acordo com Cassirer, a linguagem e a arte se desprendem do pensar mítico e, na criação artística, a palavra conserva o “poder figurador original” do mito, ao mesmo tempo que o renova. Aberta a uma liberdade imprevisível no jogo das significações e na experimentação da linguagem, a lírica moderna reapropria-se desse passado, mantendo o diálogo com um “patrimônio poético, mítico e arcaico" da humanidade, conforme observa Hugo Friedrich. A presença do mito na poesia acusa-se através da retomada de imagens arquetípicas cujas forças continuam a aludir a um estado anímico, uma idéia ou um sentimento do mundo, a exemplo do emprego do “mar” ou da “noite” para referir-se a uma força, a um mistério impenetrável, a uma origem ou estado anterior à criação. No nível do tema, expressão particular de um motivo, segundo Raymond Trousson, a lírica recupera, dos relatos da mitologia clássica, personagens (tal como Narciso) e suas situações dramáticas, para dar lugar a reflexões associadas àquilo que elas podem simbolizar em um determinado imaginário cultural. O mito de Narciso corresponde a imagem do Poeta que contempla, que transforma o que vê em símbolo (Natureza é “uma floresta de símbolos”, segundo versos de Baudelaire), expressando a perplexidade, a angústia e a inquietude que advém do ato de reflexão, motivo por que continua a ser uma figura presente, em constante metamorfose, na produção poética moderna.