Oral (Tema Livre)
846-1 | “Contra os donos oficiais da cultura”: crítica à esquerda e à direita no ensaísmo de Glauber Rocha | Autores: | Arlindo Rebechi Junior (USP - Universidade de São Paulo) |
Resumo Esta comunicação é um dos saldos da minha tese de doutoramento “Glauber Rocha, ensaísta do Brasil”. Trata-se, para este caso, de uma abordagem do ensaio praticado pelo cineasta e crítico baiano durante o período de sua volta do primeiro exílio, entre 1976 e 1980. Como método, privilegio a análise do seu trajeto intelectual em convivência com a análise de sua prática do ensaio político e de ideias em jornais e revistas, buscando, pela intersecção destas duas formas de avaliação crítica, a apreensão dos movimentos de Glauber pelo campo cultural brasileiro naquele final de década.
Em minha análise, parto de dois problemas centrais, presentes em sua trajetória: 1) depois de trazer a público cinco novos longas-metragens, entre novas produções e finalizações de filmes mais antigos, Glauber partira do exílio depois de esgotar as possibilidades de se executar outros novos projetos de cinema no estrangeiro; 2) desgastado com fração da crítica europeia, sua situação no Brasil não seria diferente, nem tampouco pacífica: depois da publicação de sua polêmica declaração na revista Visão, em 1974, chegava ao território nacional sob a pecha de apoiador dos militares.
No plano textual, Glauber encontrou no ensaísmo um lugar propício para encampar suas defesas políticas e sua defesa de uma forma fragmentária e ao mesmo tempo totalizadora de escrita. Sua linguagem recupera um estilo de exposição que privilegia a disposição de ideias na forma de fragmentos, como se fossem pequenos e explosivos textos. Encadeados um atrás do outro, estes minúsculos textos, formam um conjunto que ganha tanto pela independência de ideias como pela capacidade de se misturarem num fio condutor único e presente na arquitetura de um texto maior. Fica a demonstração nestes casos que sua busca por este estilo atesta uma hipótese central em seus trabalhos e em sua forma encontrada de exposição: a aliança e a conjugação em sua prática escrita com as tensões e os contrastes da experiência vivida tornaram-se, naquele momento de conturbada vida intelectual, a base para que extraísse sua matéria mais vulcânica e mais polêmica da realidade.
Entre as muitas opções possíveis de abordar seus textos, focalizo seus ensaios que reavivam a polêmica Alencar-Machado, em especial o de título “‘O Guarany’ e ‘Dom Casmurro’ ou a competição entre Iracema e Capitu pelo título de Misse Brazyl”, publicado no Jornal do Brasil, de 6 de setembro de 1976. Ramificados a esta polêmica, salientem-se ainda os textos “Makunayma (1)” e “Makunayma – 2”, publicados na Folha de S. Paulo, respectivamente, em 23 e 28 de setembro de 1978, época em que Glauber era colunista do periódico. Estratégico diante das suas ações dentro do campo cinematográfico e literário, Glauber fará de José de Alencar o seu modelo de intelectual. Não à toa. Porque, com o exemplo do escritor de Iracema, ele buscará recuperar não só a memória do passado em torno da consagração quase imediata do movimento do Cinema Novo, mas também alçar, mais uma vez, o seu antigo grupo na tradição cultural aberta por nosso modernismo literário nos primeiros decênios do século 20.
|