XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:178-1


Oral (Tema Livre)
178-1FACES E CONTRAFACES DO “CIVILIZADOR ERÓTICO”: COLONIALIDADE, SEXUALIDADE E TRANSCULTURAÇÃO EM YAKA, DE PEPETELA, E EM A REPÚBLICA DOS SONHOS, DE NÉLIDA PIÑON
Autores:Jesiel Ferreira de Oliveira Filho (UFS - Universidade Federal de Sergipe)

Resumo

Refletindo sobre as significações ambíguas que a mestiçagem assume na construção identitária brasileira, o antropólogo Osmundo Pinho assinala que o projeto nacional de integração pela miscigenação articula-se intimamente com “projetos subjetivantes” baseados no consumo intensivo do corpo do outro através do sexo e do desejo, articulação a partir da qual se efetiva uma “economia política da raça e do gênero” que desempenha um papel central no agenciamento dos conflitos socioculturais brasileiros. Dessa forma, fantasias sexuais associadas a marcas identitárias convertem-se em fatores estratégicos na produção de discursos — assim como de “interidentidades”, nos termos de Boaventura Santos — que endossam ou flexibilizam os ordenamentos raciais instituídos pela razão colonial, entrecruzando frustrações e compensações eróticas com as disputas por direitos sociais e referentes culturais. A comunicação pretende analisar imagens literárias selecionadas entre as obras indicadas, tendo em vista realizar, no âmbito de um trabalho comparativo entre representações angolanas e brasileiras, uma caracterização contrastiva de processos de construção identitária do sujeito masculino branco nesses distintos e análogos contextos mestiços. A interpretação dessas imagens e desses processos sugere que a internalização de valores africanos, ao promover aquilo que Santos denomina de “hibridações emancipatórias”, exerce potentes efeitos de deslocamento e reversão sobre os modelos de autoridade despótica que ajustam aqueles sujeitos aos esquemas de poder da colonialidade lusófona.