XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:248-1


Oral (Tema Livre)
248-1O valor da letra ou o sentido do número: uma aproximação entre literatura e matemática
Autores:Vinícius Carvalho Pereira (IFMT - Instituto Federal de Educação e Tecnologia de Mato Grosso)

Resumo

Tomadas não só pelo senso comum, mas mesmo pelo meio acadêmico, como áreas antípodas, Literatura e Matemática foram segregadas ao longo de séculos de investigações artísticas e científicas. Assim, divididos em esferas estanques, letras e números (escrituras, enfim!) tiveram suas relações - semióticas, cognitivas e mesmo gráficas - eclipsadas, o que urge ser repensado enquanto alienação entre arte e ciência, que empobrece e embota a reflexão teórica. Afinal, é como escritas e formas de representação do mundo que a literatura e a matemática brotam das mentes e mãos humanas para contar alguma coisa, sejam fábulas ou quantidades, letras ou números. Ademais, se Barthes, segundo o conceito da Mathesis, já demonstrara como a Literatura dá sabor ao saber (por que não matemático?), desestabilizando-o, a própria matemática está cheia de ficções, criando mundos possíveis, verossímeis ou não, mas não necessariamente reais. Da geometria não euclidiana, que descreve espaços inconcebíveis no mundo real, às características algébricas e combinatórias que regem a formação de qualquer enunciado, a enunciação revela-se sempre um jogo de algoritmo (algum ritmo?) e simbolismos, em que a cadeia de significantes gira em torno de um vazio jamais preenchido, tal como os infinitos descobertos pelo matemático Cantor, que sempre cabem em um infinito maior do que os anteriores, mas nunca atingem um fim. Muito mais do que certezas e medidas, a matemática que se propõe aproximar da literatura neste trabalho relaciona-se com a crise dos fundamentos que abalou o conhecimento sobre os números no século XX. Para além de ciência, a Matemática se assume nesse contexto como estética, comprometida não com uma descrição fidedigna de fenômenos, mas como sistema autossuficiente, que aponta para si mesmo e significa em seus silêncios e hiatos, assim como no pós-estruturalismo literário. Cálculos de incertezas, probabilidades de impossíveis: o que seria isso, senão ficção e poesia? Do mesmo modo, trapaças estruturais da narrativa, levando a enunciação ao seu limite enquanto escritura, tão frequentes em Borges, Cortázar, Calvino ou Pérec, não seriam delírios algébricos, geometrias inverossímeis de palavras-espaço, como preceituava Genette? Este trabalho propõe-se, pois, investigar essas relações tão vivas, mas tão negligenciadas, entre o literário e o matemático, a partir de uma análise da produção artística de membros do grupo francês Oulipo. Tais escritores e matemáticos da década de 60 viveram o estruturalismo e o pós-estruturalismo francês imersos na revolução que se operou nos estudos matemáticos, de modo a produzirem romances, contos e poemas em que o algébrico, o geométrico e o literário se tornam indissociáveis, fazendo-nos repensar, portanto, a polissemia de todo contar.