Oral (Tema Livre)
559-1 | NOMEAR O DESEJO: HOMOEROTISMO, GÊNERO E RESISTÊNCIA EM A CONFISSÃO, DE BERNARDO SANTARENO | Autores: | Jorge Valentim (UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos) |
Resumo A partir da concepção dos conceitos de homoerotismo (COSTA, 2002), gênero (BENTO, 2006; BUTLER, 2010) e resistência (BOSI, 2002), propomos uma leitura da peça em um ato A confissão, de Bernardo Santareno, inclusa na tetralogia Os marginais e a revolução (1979). Para além de uma abordagem de temas ligados à questão da homossexualidade, nesta peça, o autor sublinha sobretudo personagens marginais, colocados de maneira segredada da grande Festa de Abril de 1974. Se as conquistas feministas apontam um encaminhamento das mudanças sociais no Portugal pós-74, a ausência e o silenciamento de abordagens críticas e publicações sobre obras que se debruçam sobre a questão dos gêneros é uma evidência que não pode ser apagada ou esquecida. Neste sentido, o teatro de Santareno tem uma função fulcral nos cenários intelectual e artístico portugueses, posto que antecipa questões estudadas ao longo das décadas de 1980 e 1990, constituindo-se uma obra avant la lettre. A peça “A confissão” pode ser tomada como um exemplo tutelar, já que centraliza suas atenções num personagem travesti, mas já com características de um personagem transexual. O choque entre o ultraconservadorismo e a moral social, representadas pela figura do confessor, e o desejo de liberdade e a vontade de expressão, entretecidos nos discursos de Françoise, coloca este texto de Santareno como um daqueles em que o teatro de resistência e de contestação atinge um ápice inequívoco. |