XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:306-1


Oral (Tema Livre)
306-1Um Caeté de pluma na mão: Os embates de uma produção cultural periférica
Autores:Fernando Rocha (MIDD - Middlebury College)

Resumo

À época da escrita de seu primeiro romance, Graciliano Ramos ainda vivia em Palmeira dos Índios, cidade no sertão alagoano, distante dos pólos de produção cultural, seja em seu próprio estado, seja a nível nacional. Em diversos aspectos de Graciliano escritor refletem-se este deslocamento geográfico e consequente distanciamento das redes de relações sociais nas quais se assentavam a produção cultural nas Alagoas e no Brasil dos anos 30. Era avesso, como se sabe, ao Modernismo que irradiara de São Paulo; tinha uma relação ambivalente com a escrita, pois, se investia num esmero literário, revisando minuciosamente seus textos, também apontava para os limites e até mesmo repressão advindos da escrita; e, acima de tudo, transpunha os embates de uma produção cultural periférica para os seus romances. Nos três primeiros, Caetés, São Bernardo e Angústia, figuram personagens que aspiram ser escritores, mas que invariavelmente se deparam com as contradições de um intento de produção cultural a partir das margens. Como escrever sem um capital cultural adequado ou sem uma familiaridade com os pontos de vista dominantes no campo literário brasileiro de então? Como fazer circular toda uma produção literária sem o capital social necessário? Estas perguntas emergem nos três romances de Graciliano Ramos, tomando feições específicas a cada cenário e atores. Esta comunicação se concentra no primeiro romance, Caetés, buscando elucidar as seguintes questões: a) a relação de um sujeito subalterno com a história e com a recuperação do passado, já que o protagonista João Valério deseja escrever um romance histórico, tomando como modelos Gonçalves Dias e José de Alencar; b) a implícita negociação entre este sujeito deslocado, vivendo em Palmeira dos Índios, e as novas apropriações do passado indígena brasileiro propostas pelo Modernismo, baseadas na ideia de uma nova “modernidade” do primitivo; c) uma possível apropriação do produtor periférico da arte popular, que aparece de esguelha no romance, mas constitui foco de diversos ensaios recolhidos em Viventes das Alagoas, principalmente em relação à literatura de cordel. É na confluência e contradições destas diferentes questões que podemos situar o produtor periférico que Graciliano traça em seu primeiro romance.