Oral (Tema Livre)
957-1 | Confluências de leituras em figurações romântico-autoficcionais: Sarmiento e Whitman lidos por Borges | Autores: | Breno Anderso Souza de Miranda (PÓS-LIT UFMG - Pós-Graduação em Estudos Literários UFMG) |
Resumo Se o que Jorge Luis Borges entendeu como romantismo foi apenas formalismo conceitual e retórico (como lhe era muito característico) sem nenhuma relação à temporalidade do romantismo que ficou conhecido como escola literária (em suas diversas facetas), qual então seria o sentido de se despender alguma atenção a autores canônicos dessa “escola” como Sarmiento e Whitman, não como simples figurações abstratas, mas enquanto artífices dessa visão de mundo? Borges foi leitor de Sarmiento e Whitman durante um longo processo de sua escrita. Os comentários de Borges sobre esses escritores estão relativamente distantes de visualizá-los como o que ficou conhecido como “gênios” românticos. A presença marcante desses escritores em sua biblioteca “real” ( que não era tão infinita mas muito seletiva e contingente) desperta interesse para discutir mais uma vez pontos ambivalentes de seus valores críticos e estéticos e de seu processo de escrita. Distante de uma apologia ao fantasmal e a algum essencialismo estético, ficcional ou literário, a rígida distinção entre os estilos clássico e romântico, mesmo que elaborada por um Borges “teórico” que pairaria sobre suas ironias e sobre as querelas acadêmicas e cotidianas, não nos dá arcabouços suficientes para interceder por uma mimesis pretensamente borgiana em seu ato de leitura, ou até mesmo a recusa de toda e qualquer mimesis em sua ficção-crítica. Sim, o "arquiteto de universos" não tivera o poder de se eximir da série literária e do mundo, entendido não apenas como materialidade. O universo borgiano atravessa e é atravessado pela mimesis moderna, segundo a entendeu Philippe Lacoue-Labarthe. Aqui mimesis não pode ser confundida como imitação do “real”, como a simples leitura de uma suposta “realidade”, mesmo que ideal, ou com alguma tentativa de se aproximar da verossimilhança. Alguma lógica da mimesis perpassaria pelo paradoxo e não pela simples reprodução ou representação do que quer que seja. Paradoxos e “duplos” que não cessariam até mesmo no narrador borgiano de ensaios, prefácios e textos críticos (que não se situam no terreno literário propriamente dito). Assim Borges poderia ser lido como um autor-narrador-leitor de aproximações e não distanciamentos em relação ao mundo, mesmo que ficcional. O Borges “empírico” sai à procura de autoficções, de figurações de escritor em alguma intensidade crítico-romântica e utópica, ambiguamente expressiva e alusiva. A questão que nos preocupa não é a luta sem partidos ou vencedores da ficção borgiana contra os tais biografismos, seus e dos “outros” e sim a imaginação-construção de mitos autoficcionais, dentro e fora das páginas dos livros lidos e escritos. Borges disse alguma vez que queria ter sido Walt Whitman ou que era seu amigo íntimo. Já sobre Sarmiento: “antes de la historia está el mito y por ese crepúsculo andan formas que, incomprensiblemente, son otras (…). Tales monstruos pueden ser fruto de un arte combinatorio de la imaginación, (…), pero también pueden figurar la sospecha de que cada cosa es las otras y de que no hay un ser que no encierre una íntima y secreta pluralidad”. (CNPq) |