XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:513-1


Oral (Tema Livre)
513-1Identidade e peregrinações discursivas: Rafael Alberti em torno ao museu do Prado
Autores:Valeria de Marco (USP - Universidade de São Paulo)

Resumo

A historiografia literária, sempre em busca de uma leitura normalizadora, tende a construir e expor a trajetória de Rafael Alberti em fases ou etapas. Na juventude, desenvolvera sua vocação de pintor; iniciara sua carreira de poeta na década de 1920, acompanhando a pauta das vanguardas e a da poesia pura, caras ao mestre Juan Ramón Jiménez e àquele grupo de jovens da elite espanhola integrado por Pedro Salinas, Jorge Guillén, José Bergamín, Emilio Prados, García Lorca e outros. Como a absoluta maioria da inteligência, aderira aos projetos culturais da II República e, às vezes, pusera seus versos, peças de teatro ou produção editorial, como a revista Octubre, a serviço da revolução. Também como a maioria dos intelectuais, durante a guerra civil espanhola, engajara sua atividade artística na luta contra as forças fascistas do general Franco. Finalmente, teria ele amadurecido durante o longo exilo, elaborando, assim, uma obra singular e original. Tal sucessão não seria uma sintaxe eficaz para diluir rupturas, fracassos, derrotas e, sobretudo, contradições e traumas constitutivos das trajetórias de tantos intelectuais desta nossa era da catástrofe? O próprio Alberti em suas memórias -La arboleda perdida- procura com freqüência amenizar tensões e dar à sua história um andamento de continuidade. Mas no conjunto de sua obra há acessos tanto à sua vivência quanto à sua percepção e interpretação da violência que a guerra civil e o conseqüente êxodo dos vencidos imprimiram na sua vida e no corpo da sociedade espanhola. Para explorar uma possibilidade de aproximação a esse território da instabilidade, examina-se um dos aspectos da produção de Alberti que alude à descontinuidade como movimento propulsor da voz poética. Trata-se de analisar a relação, sempre em permanente mudança, entre ele e o museu do Prado. Esta é recorrentemente elaborada em um mosaico de textos: a crônica “Mi última visita al Museo del Prado”, poemas de Vida bilíngüe de un refugiado español en Francia, A la pintura, Retornos de lo vivo lejano, a peça de teatro Noche de guerra en el Museo del Prado, além de muitos fragmentos de La arboleda perdida. São peregrinações discursivas que captam aproximações a vivências traumáticas, deslocamentos do lócus da escrita, derivações da rememoração, trânsito pelos gêneros literários e reconfigurações da identidade no campo da memória social.