XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:977-1


Oral (Tema Livre)
977-1Teixeira e Sousa e a formação do romance moderno brasileiro - diálogos com o leitor e reflexões metalinguísticas.
Autores:Hebe Cristina da Silva ()

Resumo

Ao longo do século XIX, principalmente nas décadas em que foram produzidos os primeiros romances modernos brasileiros, era marcante a presença de paratextos através dos quais os autores se dirigiam ao público leitor. Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa (1812-1861), escritor oitocentista que, graças à publicação de O Filho do Pescador (1843), é um dos nomes comumente associados ao título de “primeiro romancista brasileiro”, foi um adepto dessa prática. Autor de seis romances, três obras poéticas e duas peças teatrais, Teixeira e Sousa utilizou estratégias diversificadas para se comunicar com o público através de prefácios, cartas, didascálias e prólogos presentes em suas publicações. Analisando esses textos, podemos recuperar o projeto literário do autor e suas reflexões sobre aspectos formais e temáticos relativos a várias formas literárias, dentre as quais se destaca o gênero romanesco, principal objeto de suas reflexões. Recuperando seu projeto literário, é possível verificar que o romancista cabofriense estava a par das discussões e das preferências dos homens de letras de seu tempo, principalmente no que se refere ao que se esperava, em termos gerais, de um bom romance brasileiro: personagens que despertassem a identificação do leitor e vivessem situações que fossem ambientadas em solo brasileiro, incluíssem costumes nacionais e possuíssem um final edificante. O prólogo de A Providência (1854), o último romance que publicou, é bastante exemplificativo do modo como o autor explorou os paratextos em suas obras. Nele, o escritor deu informações sobre a estrutura e o conteúdo da narrativa e reforçou seu apreço pela inclusão da moralidade e da chamada “cor local” nos romances. Além disso, mencionou os elementos que o leitor deveria considerar para perceber qual era o “alvo” a ser atingido pelo enredo e apreciar a “moralidade” presente na narrativa. Indício de que o autor se preocupava com a recepção de suas obras, os paratextos elaborados por ele parecem ter tido uma influência positiva sobre os leitores, colaborando para que obtivesse o êxito que almejava. Afinal, apesar de a maioria das Histórias Literárias publicadas ao longo do século XX atribuir ao romancista cabofriense a imagem de escritor secundário que produziu obras carentes de valor estético, Teixeira e Sousa foi apreciado pelos seus contemporâneos e figurou como um “homem de letras” de renome em algumas publicações oitocentistas. É o que atestam alguns periódicos que circularam no Rio de Janeiro ao longo do século XIX, seja no espaço destinado à crítica por uma revista literária ou no anúncio de um jornal diário. Recuperando e analisando os textos presentes nesses impressos, ficou evidente que Teixeira e Sousa obteve um lugar de destaque entre os escritores de seu tempo e foi apreciado pelo público leitor oitocentista. Afinal, seus romances tiveram um número significativo de edições e obtiveram apreciações críticas favoráveis, resultado que certamente deve parte de seu sucesso às palavras que o autor dirigiu aos leitores através dos paratextos que acrescentou às suas obras.