XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:269-1


Oral (Tema Livre)
269-1Relações de dependência econômica e cultural configuradas em Budapeste de Chico Buarque
Autores:Flávia Helena (FAAT - FAAT - Faculdades Atibaia)

Resumo

Buscando responder ao questionamento sobre o modo como a literatura brasileira contemporânea contribui para a reflexão a respeito do país, esta comunicação pretende tecer algumas considerações sobre a obra Budapeste, de Chico Buarque, publicado no ano de 2003. Narrado em primeira pessoa, e a partir de um foco não confiável – unreliable narrator, na acepção de Wayne Booth – o romance relata, de forma não linear, a trajetória do ghost-writer José Costa, desde os tempos de faculdade, quando vendia sob encomenda monografias e trabalhos acadêmicos, no Rio de Janeiro, até o seu estabelecimento definitivo na cidade de Budapeste, capital da Hungria, depois de ser-lhe atribuída a autoria de Budapest, livro que afirma não ter escrito e que relata grande parte de sua vida. A partir dos deslocamentos do protagonista entre essas duas cidades o relato aborda o motivo do duplo, uma vez que o protagonista não somente se desloca entre os dois locais mencionados, mas estabelece vínculos duradouros em cada um deles. Além de experimentar uma vivência dupla que se alterna entre Rio de Janeiro e Budapeste, o protagonista revela-se um indivíduo que realiza diversas viagens pelo mundo, circulando pelos mais diversos países e contribuindo, portanto, para que se afigure na obra a questão da globalização. Essa hipótese se reforça se considerados a variedade de palavras de diferentes idiomas que se misturam ao português no decorrer do relato e o modo como o romance apresenta episódios que retratam a maneira como as culturas de diferentes países se mesclam. Essas constatações podem ser mais bem explicadas e fundamentadas se observados o modo como termos estrangeiros se espalham pelo relato. O uso exaustivo de expressões peregrinas sem o emprego de aspas ou outro expediente que as diferencie da língua em que se expressa o narrador, no caso, o português do Brasil, aponta para o uso desses termos não como algo estranho ao mencionado idioma, mas como algo já incorporado a esse sistema. A recorrência de termos peregrinos, provindos principalmente do idioma inglês, é um relevante sinalizador das influências estrangeiras sofridas pelo Brasil, tais como as que se manifestam nos domínios da cultura e da economia nos últimos cinquenta anos, o que revela certa tendência ao macaqueamento de modelos americanos como se buscará demonstrar. Assim, considerando o diálogo entre a realidade externa e a realidade que o romance estabelece, serão abordadas algumas configurações da realidade brasileira presentes no romance, observando-se os meios pelos quais a obra mimetiza e capta em sua estrutura aspectos essenciais da sociedade brasileira contemporânea. Desse modo, o objetivo será averiguar em que medida certos procedimentos formais e materiais que emergem no relato podem ser formas alegorizadas (entendendo alegoria como metáfora continuada) de dependência econômica e cultural do Brasil, inscrito no cenário internacional globalizado.