Oral (Tema Livre)
522-1 | Há algo de positivo no atraso? Conseqüências da chegada tardia da imprensa para a formação de um sistema literário no Brasil. | Autores: | Bruno Guimarães Martins (UFMG - Universidade Federal de Minas GeraisPUC RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) |
Resumo Adotar uma perspectiva sistêmica significa revelar a importância do medium para a delimitação de um sistema literário que se constitui em face à sociedade. Desta forma, a consolidação de um sistema literário próprio implica uma diferenciação com uma série de práticas que emergem, por contraste ao literário, como orais, ou como “não-literárias”. Temos então que o próprio processo de formação e fortalecimento do sistema literário se constitui como lugar privilegiado para se observar o que o caracteriza. Quaisquer discursos que participam de uma noção de “atraso” tem como base uma projeção histórica linear, onde três séculos e meio distanciam o aparecimento da imprensa no ocidente de sua chegada ao Império do Brasil. Não se trata de negar tal linearidade, mas de questionar a noção evolutiva implícita em tal raciocínio, que não só nos destina, eternamente, a uma posição irrelevante, mas encobre particularidades da nossa própria história que não se encaixam nesta forma de ordenação. Se concordamos que certas prescrições normativas parecem perder suas forças na medida em que se afastam dos centros de onde são produzidas, talvez haja um certo privilégio em se observar a margem. Se estar à margem implica em flexibilizar, adaptar, modificar, distorcer modelos, ao se observá-la é necessário juntar à atividade auto-reflexiva os mesmos movimentos. Foi justamente o “atraso”, ou seja, a constituição de um sistema secundário, o que proporcionou uma espécie de liberdade para que se formasse um sistema literário próprio no Brasil. A compreensão “positiva” do atraso implicaria no seguinte encadeamento de hipóteses, que pretendemos demonstrar neste artigo: a) O atraso na instalação da imprensa proporciona uma situação particular onde o medium impresso sofre dificuldades de “naturalização”, estas dificuldades se devem não só ao atraso histórico, mas à forte presença de uma cultura oral; b) Instaura-se, no seio do sistema letrado em formação, um espaço de conflito com um vigoroso sistema oral, fazendo surgir uma lógica paradoxal e ambígua que passa a caracterizar o sistema literário; c) A função de esclarecimento implícita na ordem escrita tem sua eficácia suspensa, para se ativar esta função é necessária a auto-consciência de sua lógica paradoxal e das ambigüidades dela decorrente. Além da análise da historiografia e da crítica literária, elegemos o “primeiro editor digno deste nome entre nós”, Francisco de Paula Brito, como personagem central para exemplificar as hipóteses que acabamos de descrever, ou seja, como resultado “positivo” do atraso. Atuando de 1831 a 1860, Paula Brito e sua “Sociedade Petalógica” são uma importante peça para se compreender algumas característica do sistema literário Brasileiro. As atividades das diversas tipografias que possuiu no período, além da auto-reflexão bem-humorada formulada pela “Petalógica”, podem esclarecer particularidades da nossa história obscurecidas pela interpretação negativa que o atraso teima em nos impor. |