Oral (Tema Livre)
933-1 | “ROAD MOVIES NO MUNDO: TRÂNSITO EM TRANSE” | Autores: | Regina R. Felix (UNCW - UNIVERSITY OF NORTH CAROLINA) |
Resumo Muito se celebra, sob o cunho da perspectiva pós-moderna, o fim das hegemonias, das instituições (religiosas e racionalistas); celebra-se o esfacelamento da modernidade prenhe de abstrações totalizantes cujas certezas aprisionaram realidades e conhecimentos em poucos termos – o homem, a liberdade, o progresso. Sob novo escrutínio, revelaram-se experiências mais variadas e descontínuas; práticas múltiplas entre sexos, etnias, posições e desejos em movimentos plurais. Este ponto de vista pós-moderno se evidencia como uma supramodernidade que angaria consideráveis ganhos sociopolíticos. É a supramodernidade que tende a superar e transpor, antes discursivamente, toda forma de autoridade que se impôs através das convicções, principalmente científicas e organizacionais, da modernidade. Assinala, assim, a boa morte do convencional, como o atesta a visão pós-estrutural de Nietzsche, passando por Derrida e Foucault chegando a Lyotard, entre outros.
Há, porém, perspectivas pós-modernas que se afiguram como uma mega-modernidade ao exacerbarem os efeitos funestos da modernidade, a saber, o racionamento e compartimentalização próprios da produção e reprodução industrial e da sociedade de massa (e de consume) com seus efeitos danosos, em detrimento de laços comunais. A mega-modernidade se espalha predatoriamente através da multiplicação de aparatos tecnológicos que, tanto incitam o desejo de consumo renovado por objetos, como criam consumidores atomizados e desconectados de suas redes sociais concretas. Se alguns desses aparatos possibilitam uma bem-vinda sensibilidade e convivência em rede virtual, mais perniciosamente, como resultado de engenharias sociais e de produção, encenam uma aceleração espaciotemporal que enfatiza o ultra-indivividualismo na descontínua e episódica experiência do processo social. A morte malévola do convencional. Aqui a crítica cujo horizonte sugere uma justiça socioeconômica, se estende ao capitalismo global, ou capitalismo tardio, como discutem Harvey, Jameson e Bauman.
O presente trabalho procura mostrar que tudo o que nos leva a crer na possibilidade de livres trânsitos e fluxos, quebra de barreiras, e potencial ubiquidade – nem lá, nem cá, muito pelo contário; obviamente uma “síndrome de virtualidade adquirida” – ou seja, aquilo que é culturalmente variado, múltiplo e socialmente enredado, para surpresa dos indivíduos que pretendem transitar e exercer suas liberdades, se revela descontínuo, simulado e isolado. Não são as pessoas, mas os aparatos tecnológicos, materiais e virtuais, são aqueles que têm livres trânsito e fluxo, se beneficiam da quebra de barreiras, e rigozijam-se na sua própria ubiquidade.
Analiso quatro road movies – Road, Movie (Índia, 2009), Laila’s Birthday (Palestina, 2008), Cidade Baixa (Brasil, 2005) e Ten (Iran, 2002). Neles, aquela qualidade típica desse gênero fílmico, qual seja, a liberdade das vias abertas contra “a opressão das normas hegemônicas” (Steven Cohan e Ina Rae Hark, 1997) se choca com as realidades da pós-modernidade material. Ou seja, como o cinema internacional paralelo mostra o choque entre a supramodernidade e a mega-modernidade, como definidas acima, é o que este trabalho procurará mostrar. |