XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:1016-1


Oral (Tema Livre)
1016-1Nos limites: a experiência do tempo na literatura e no cinema de Clarice Lispector y Lucrecia Martel.
Autores:Hernán Rodolfo Ulm (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Resumo

Neste trabalho tentamos dar conta dos modos da experiência da temporalidade na literatura e no cinema contemporâneos, dado que tal experiência é privilegiada na hora de se pensar os modos de produção da subjetividade no mundo atual. Neste sentido, as artes constituem uma uma “sintomatologia da cultura” que visa atingir e diagnosticar os modos de constituirmos em nosso próprio horizonte cultural. Desse modo, as artes fazem a crítica das maneiras estereotipadas da construção do sentido: se, de um lado, as palavras e as imagens dos meios massivos de comunicação procuram estabelecer um modo de nos fixar numa identidade sempre repetida, de um outro lado a literatura e o cinema buscam atingir as fronteiras nos que [nas quais] as palavras e as imagens podem, finalmente, alcançar os seus próprios limites expressivos. Há algo que as palavras não podem dizer. Há alguma coisa que as imagens não podem fazer visível. Neste sentido, a literatura e o cinema mostram o irrepresentável nas palavras e nas imagens. Partindo da análise das obras de Clarice Lispector (na literatura) e Lucrecia Martel (no cinema) procuraremos mostrar as formas em que a temporalidade é questionada e assumida nas suas obras, na tentativa de dar uma imagem do tempo que não responde às características tradicionais do “aqui” e do “agora” com que o pensamento organizava a experiência. Essa forma da experiência da temporalidade questiona as formas tradicionais da narratividade (estruturadas na fórmula aristotélica de princípio, meio, fim) tanto como as formas da construção ética da subjetividade. O que é que é fazer uma experiência do Eu no mundo contemporâneo? Há ainda espaço para uma experiência desse jeito? Ou temos de nos abrir a novos modos de subjetivação? Há ainda possibilidades para a narratividade? Seguindo algumas indicações, por um lado, da crítica literária (Barthes, Blanchot, Deleuze) que mostram a necessidade de ir para além das teorias estruturalistas do signo na hora de dar conta da experiência literária e, por outro, da crítica cinematográfica e dos estudos audiovisuais (Rancière, Deleuze, Didi Huberman, Comolli, Bellour) que assinalam as peculiaridades das imagens como meio de expressar estas transformações, tentaremos assinalar os limites em as palavras e as imagens se encontram e sua pertinência na hora de dar conta da experiência da temporalidade contemporânea, e também as conseqüências que tais experiências revelam para a possibilidade de uma ética. Assim o objetivo deste trabalho é, finalmente, sugerir algumas idéias pelas quais a experiência do tempo é apresentada nas obras das autoras trabalhadas dando lugar a um modo peculiar de construção da subjetividade.