Oral (Tema Livre)
1115-1 | TROPIC OF ORANGE E A POLISSEMIA DE TRÂNSITOS SOCIAIS E NARRATIVOS | Autores: | Ricardo Maria dos Santos (FCLAR - UNESP - Faculdade de Ciências e Letras - UNESP) |
Resumo No romance Tropic of Orange, da escritora norte-americana Karen Tei Yamashita, publicado em 1997, personagens de origens étnicas e nacionais variadas se encontram e desencontram na cidade de Los Angeles, configurada como uma metrópole à beira do colapso em termos humanos, sociais e físicos. A narrativa põe em ação um panorama polifônico das agruras, conquistas e perplexidades de sujeitos vivendo em um mundo caracterizado pelo movimento contínuo de populações e de sentidos que surgem em consequência da globalização de mercados, econômica e midiaticamente sem fronteiras. Ao colocar em cena os embates de imigrantes e de populações à margem da sociedade capitalista triunfante, a romancista nipo-americana cria um plano de conexões entre as personagens, a que chama de HyperContexts, ao longo de uma semana completa, em que a segunda-feira é tematizada pelo “solstício de verão”, a terça-feira pela “via de diamante”, a quarta-feira pela “diversidade Cultural”, a quinta-feira pelo “frenesi eterno”, a sexta-feira pela “inteligência artificial”, o sábado pela “rainha dos anjos” (trocadilho com Los Angeles) e, finalmente, pela “a orla do Pacífico”. Através da mimetização do registro verbal de Gabriel, repórter em Los Angeles com o sonho de construir um refúgio no México; sua namorada Emi, produtora de TV; Buzzworm, um “assistente social” das ruas e guetos; Rafaela e Bobby, um casal de imigrantes vindos de culturas díspares e que se (des)encontram na metrópole norte-americana; Manzanar, médico que abandona tudo para reger a música do tráfego caótico das autovias, e de Arcangel, artista popular de origem indígena, Karen Tei Yamashita problematiza experiências de personagens que cruzam fronteiras físicas, mentais e até supra-reais. Nesse último caso, o uso de elementos de realismo mágico auxilia a configuração de discursos multifacetados, enunciados por habitantes dos grandes centros urbanos de uma sociedade pós-industrial e multicultural, em constante questionamento de identidades, tradições e influências a que todos estão infensos.
Ao utilizarmos o arcabouço teórico de Bakhtin, especialmente do dialogismo, de Baudrillard e de Homi Bhabha, pretendemos demonstrar como a escritura da romancista logra executar um caleidoscópio narrativo-cultural, vocalizando as o esfacelamento da experiência contemporânea, ao mesmo tempo em que potencializa as combinações e transformações híbridas de identidade(s) sendo negociadas e do confronto entre concepções hegemônicas de Primeiro Mundo e de Terceiro Mundo, no que esses dois termos têm de mais problemático. Nesse universo ficcional em que “trânsito” percorre todo um espectro polissemântico, cabe ao olhar crítico e arguto de escritores como Karen a delicada tarefa de dar um corpo e voz temático-narrativos a tais múltiplos deslocamentos, que se entrecruzam e multiplicam. |