XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:565-1


Oral (Tema Livre)
565-1Vidas na fronteira: margem, silêncio e disseminAção
Autores:Maria Cristina Cardoso Ribas (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Resumo

Vivemos hoje um momento de dispersão nos grandes centros que pode se transformar em tempo de reunião na ambivalência das fronteiras. Com esta expectativa, entendemos que determinados lugares definidos primariamente como espaço de vazio, exclusão, passividade, emudecimento podem representar, ao mesmo tempo, um posto privilegiado de observação, sobrevivência e voz, espaço este que desliza da simples horizontalidade e move-se entre formações culturais e processos sociais sem uma lógica causal centrada (Bhabba, 1998). Encontramos exemplo de tal dinâmica no texto literário e nossa leitura visa: ressaltar a força do que se apresenta, num primeiro olhar, como fragilidade e fuga; encontrar o presente como expressão de uma contemporaneidade que não é pontual ou sincrônica; e entender o passado como anterioridade que insere o outro nas fissuras deste presente. Ao analisar "A terceira margem do rio", de Guimarães Rosa, e "Teoria do medalhão", de Machado de Assis, buscamos reverter a propalada estagnação de um menino esperando a vida inteira na margem, lugar traduzido como exclusão, tanto quanto ressignificar a passividade de um jovem na maioridade que, aparentemente, submete-se ao conselho maquiavélico do patriarca. Separados por um século de criação, ambos os contos – um trágico, outro irônico - dramatizam a relação hierárquica pai e filho, retomam a culpa pela perda do modelo e o desespero, o alheamento ou conformismo pelo fato de os personagens filhos (não)preencherem a vacância daquele lugar dito superior nem corresponderem às expectativas paternas de perpetuidade. Os personagens dos filhos, nas duas narrativas, livres do postulado da continuidade (Foucault: 1989), não mais reproduzem as fontes e, como entendemos, o antes entendido como dependência, dívida, torna-se reescritura (Carvalhal: 1986). Rever a dívida implica em questionar o conceito de superioridade (Silviano: 1979) e sua contraface, o assujeitamento ao modelo – aqui os pais -, convertendo o novo texto – os filhos - em outro ponto de referência, espaço em que marginalizados se instalam, intervêm e constituem um observatório privilegiado. A reconfiguração espaço-temporal – o entrelugar - torna-se possível pelo abalo de significados e valores suscitado pelo processo de interpretação e o efeito de perplexidade que as atitudes dos personagens promovem no leitor; ao mesmo tempo representa a história da paternidade –ou orfandade – na formação cultural brasileira.