Oral (Tema Livre)
789-1 | Trânsitos culturais: (re)invenção nacional e experiência diaspórica em Nação crioula de José Eduardo Agualusa. | Autores: | Wesley Barbosa Correia (CEAO/UFBA - Centro de Estudos Afro-Orientais) |
Resumo Nação crioula: a correspondência (secreta) de Fradique Mendes figura-se como espaço de observação da articulação de elementos identitários no que concerne à “invenção da nação” bem como da manifestação de planos ideológicos distintos assim representados através da linguagem. Não obstante, o escritor angolano José Eduardo Agualusa revela a natureza de uma profunda malha relacional construída cultural e historicamente entre Angola e Brasil, a partir da política do Estado Colonial Europeu comum aos dois países. Para isso, duas estratégias discursivas se evidenciam no decorrer da narrativa epistolar: a primeira delas está relacionada à necessidade peremptória de resguardar e analisar aspectos etno-raciológicos no fenômeno do “(trans)nacionalismo” – para se pensar a problemática em termos diaspóricos – e a segunda, uma espécie de revisão dos registros históricos oficiais bastante disposta a reconfigurar os espaços geopolíticos dessas colônias no contexto da pós-modernidade. A razão pela qual Agualusa reconstrói o personagem Carlos Fradique Mendes, originalmente criado por Eça de Queirós para representar as novas idéias e as mais importantes correntes do pensamento europeu do final do século XIX, “um homem de idéias determinante para o movimento intelectual do seu tempo” segundo o escritor português, é de que reside aí a possibilidade real de apropriar-se do discurso assimilado como hierarquicamente superior a fim de evidenciar-lhe as incongruências, mobilizando-o e tornando-lhe públicas as vacuidades, ou ainda para destituir-lhe a sacralidade unilateralmente legitimada. Ao fazê-lo, Agualusa acaba por estabelecer novos focos de análise das relações sociais em Angola oriundas do colonialismo europeu e do trânsito que se tornou possível via Atlântico Sul entre Europa, África e Brasil. Assim, é possível identificar o Fradique Mendes em Nação crioula como um sujeito desterritorializado a quem o espírito cosmopolita e as experiências acumuladas através das viagens conferiram uma identidade multifacetada, nacionalmente heterogênea e polissêmica.Neste processo, torna-se inevitável o diálogo, quando não o confronto, entre as teorias que subsidiam o próprio conceito de nação, arquivo, memória, hibridismo cultural, considerando dentre outros os estudos de Benedct Anderson, Homi Bhabha, Stuart Hall e Paul Gilroy.
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