XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:1027-1


Oral (Tema Livre)
1027-1Homoerotismo em Yukio Mishima: questões de pesquisa
Autores:Victor Kanashiro (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)

Resumo

Esta comunicação apresenta as principais questões da pesquisa de doutorado “A homossexualidade na obra literária de Yukio Mishima: sociedade, sexualidade e literatura no Japão do pós-guerra”, sendo desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Unicamp pelo autor da proposta. Inserindo-se nas discussões em torno da relação sociedade e literatura, e em diálogo com os desenvolvimentos teóricos dos estudos culturais e da teoria queer, tal pesquisa procura problematizar como o contexto sócio-histórico do Japão do pós-guerra – e, especificamente, os discursos constitutivos de um dispositivo de sexualidade heteronormativo - se relaciona com a construção das narrativas e personagens homossexuais em dois romances de Yukio Mishima: Confissões de uma Máscara (1949) e Cores Proibidas (1952). Yukio Mishima (1925-1970) foi um dos escritores mais expressivos e polêmicos da literatura japonesa moderna, tendo sido indicado, sem vencer, ao Prêmio Nobel da Literatura por três vezes. Ator, cineasta, dramaturgo e escritor, sua vasta obra inclui 35 romances, 25 filmes e peças de teatro, 20 volumes de contos, além de ensaios crítico-literários, jornalísticos e filosóficos. Bastante influenciado por escritores e filósofos europeus como Goethe, Mann, Wilde, Sade, Dostoievski e Nietsche, a doutrina estética de Mishima dialoga também com a tradição literária clássica japonesa. Um dos primeiros autores japoneses modernos a tratar abertamente de temáticas homossexuais, Mishima retrata em sua obra um Japão do pós-guerra num intenso processo de modernização e reconstrução, além de temas como a morte, o erotismo, a misoginia, o culto ao corpo e à beleza, o suicídio, entre outros. Ainda que os estudos sobre a questão do homoerotismo na literatura venham se consolidando no campo intelectual brasileiro, são raros os estudos que procuram abordar tal tema nas literaturas fora do contexto euroamericano. Um primeiro olhar sobre a história do “sexo entre homens” na literatura japonesa, por exemplo, indica especificidades na construção histórico-cultural da sexualidade no Japão. De acordo com Leupp (1997), durante a era Tokugawa (1603-1867), o “sexo entre homens” era não somente tolerado em certos extratos da sociedade feudal japonesa, como também frequentemente celebrado na cultura popular. O autor mostra que, nesse período, o “sexo entre homens” nos monastérios budistas, na iniciação e socialização dos samurais e no mundo do teatro kabuki era prática socialmente reconhecida e frequentemente retratada na pintura e literatura (LEUPP, 1997). Pflugfelder (1999), no entanto, mostra como, a partir da Restauração Meiji (1868) – marco da modernização japonesa –, os discursos sobre o sexo entre homens se modificaram e criaram uma nova gramática, marcada pela patologização de tais práticas. É nesse sentido que esta pesquisa propõe uma leitura analítica das obras de Mishima focada na questão da homossexualidade, mas que problematiza as relações entre texto, contexto e autor, vislumbrando, assim, um espaço importante nos estudos sobre sexualidade e literatura, bem como nas pesquisas já desenvolvidas sobre o autor e sua obra. LEUPP, G. (1997). Male colors : the construction of homosexuality in Tokugawa Japan. Berkeley: The University of California Press. PFLUGFELDER, G. (1999). Cartographies of Desire: male-mlae sexuality in japanese discourse (1600-1950). Berkeley: University of California Press.