XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:776-1


Oral (Tema Livre)
776-1Escritores, tradutores e editores: o gauchismo universal de bolso e a subversão da lógica centro x periferia
Autores:Andrea Cristiane Kahmann (UFPB - Universidade Federal da Paraíba)

Resumo

Esta proposta de comunicação tem origem (principal, mas não exclusivamente) em nosso trabalho “Fronteira, identidade, narrativa: tradição e tradução em Sergio Faraco”, dissertação de mestrado em Literatura Comparada, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação das Professoras Léa Masina e Patrícia Lessa Flores da Cunha. Nesse trabalho, nosso escopo foi o de abordar a produção de Sergio Faraco, adentrando ao estudo de fronteiras e de suas implicações nas esferas antropológica, cultural e identitária. Flertando concomitantemente com os Estudos Culturais e os Estudos de Tradução, partiu-se de um duplo viés e considerou-se o enfoque na tradição, que Faraco leva a cabo na sua produção como contista, e na tradução que fez de Mario Arregui, escritor uruguaio com quem o sul-rio-grandense manteve uma amizade de quase quatro anos, documentada nas cartas trocadas durante o período. Propusemos, então, uma análise dos influxos platinos no sistema literário brasileiro, atentando para a oposição / aproximação do personagem gaúcho do Rio Grande do Sul com relação ao seu Outro castelhano e desvelando as construções de planos simbólicos de referência. O foco desta comunicação para o XII Congresso Internacional da ABRALIC é apresentar a hegemonia da diferença por meio da análise desse movimento do “Eu” que parte em direção ao “Outro” e que retorna a um “Eu” já alterado pelo contato com o Outro, que é o exercício de toda tradução. O que se pretende apresentar aqui, no entanto, diferencia-se das análises clássicas dos Estudos de Tradução por enfocar dois escritores eminentemente gaúchos e fronteiriços, mas cada um de um lado diferente da linha política. Os dois livros que Faraco traduziu de Arregui deixam entrever o engajamento de se pôr, na ordem do dia, a hegemonia da diferença. Mais do que mera reprodução do Outro em língua vernácula ou um processo de tradução cultural, o acolhimento dos platinos, por parte de Faraco, ilustra a disposição de trazer ao debate as semelhanças narrativas, culturais e ideológicas que unem esse pampa outrora sem alambrado. Um ponto interessante e ainda não analisado (nem sequer na referida dissertação de mestrado) é a abrangência que “Cavalos do amanhecer”, que mescla contos dos dois livros de Arregui traduzidos por Faraco, recebe quando editado pela L&PM no formato Pocket. Portanto, esta comunicação supera análises anteriores ao pôr em pauta o papel do editor como importante força na desestabilização do centro (como a Teoria dos Polissistemas Literários já tinha alertado) e o inclui nas análises da formação do (anti)cânone. Afinal, é por meio dessas duas engrenagens (tradução e edição em livro de bolso) que um periférico escritor uruguaio de província distante do centro de seu próprio país é hoje vendido a preços acessíveis em quiosques dispersos por cada canto deste Brasil com extensão continental. Para dar conta das propostas para esta comunicação, lançamos mão de pesquisa bibliográfica e entrevistas. Além de suprir uma lacuna na produção acadêmica, esperamos estar incitando novos temas em face das teorias críticas latino-americanas.