XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:786-1


Oral (Tema Livre)
786-1DRAMATURGIAS EM IMPROVISAÇÃO: PROTOCOLOS DE CRIAÇÃO NAS ARTES DA CENA.
Autores:Marina Elias (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro) ; Ligia Losada Tourinho (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Resumo

Discutir dramaturgia(s) em um espaço fronteiriço diz respeito a reconhecer a pluralidade de significados e acepções de sua própria condição plural, entendendo que seus significados atuais não são sinônimos de texto dramático, mas podem também se referir a ele. As acepções contemporâneas de dramaturgia dizem respeito às estruturas artísticas que determinam a composição cênica, que podem ser definidas tanto através do texto literário escrito para ser encenado quanto através dos elementos que dizem respeito à concretude da cena, ao conjunto de presenças que definem o espetáculo enquanto matéria, às atualidades e virtualidades, estabelecendo um entendimento transdisciplinar que transpassa diversos campos do saber. O contexto pós-moderno propõe uma relação fluida, dinâmica e não excludente de possibilidades como perspectiva para pensar as relações entre o indivíduo e as coisas no mundo, nos permite o entendimento da(s) dramaturgia(s) para além da oposição entre texto e corporeidade. Não se trata de definir o espaço/ território da(s) dramaturgia(s), mas de perceber e compreender essa complexidade de aspectos e atributos em trânsito e devir. O entendimento dessa diversidade de possibilidades nos leva à hipótese de que a dramaturgia contemporânea se estrutura através de protocolos, paradigmas e paradoxos referentes à poética de cada artista e suas obras. A palavra protocolo se refere à territorialização de convenções e procedimentos que são dispostos à criação de uma determinada atividade. As dramaturgias, os elementos fundantes e estruturais de uma obra, são protocolos de criação. As dramaturgias em improvisação, afetadas pela efemeridade e complexidade de uma apresentação que ocorre no instante da própria criação, fazem reverberar fluxos criativos que jamais se repetirão. Dramaturgias inscritas pela pluralidade das corporeidades improvisadoras, que se propõem não a improvisar para gerar dramaturgias do corpo, do texto, do espaço ou da encenação, mas que se lançam ao exercício de improvisar dramaturgias como um fim em si: um fluxo dramatúrgico improvisacional como linguagem cênica. Neste contexto os improvisadores são a própria linguagem através da qual a dramaturgia será inscrita. Esta escrita será menos uma composição e mais uma decomposição coletiva de memórias, imaginações, pensamentos, movimentos, técnicas e afetos em dramaturgias. A dramaturgia improvisada se faz a partir da configuração coletiva ou singular de códigos (de movimento, ações, gestos, palavras, espaços, sons etc) que geram estruturas, que por sua vez podem desenhar narrativas e dramaturgias. Em contexto de improvisação, a dramaturgia do texto tende a se configurar mais como um lugar de comunicações sensíveis e perceptíveis do que lógicas e racionais. O sentido não é dado pela necessidade do discurso lógico e elaborado. É recorrente em espetáculos cujas dramaturgias são geradas e apresentadas em improviso, que haja um espaço para interferência direta do público nas dramaturgias da encenação, estabelecendo uma interatividade presencial na composição. O espectador sabe de antemão que tudo está sendo criado diante de seus olhos e a ele é oferecida a possibilidade de interferir direta ou diretamente no acontecimento cênico. As dramaturgias de encenações improvisadas aparecem como um potente procedimento pedagógico de criação e estruturação de composições convocando um espaço de discussão, aprofundamento e legitimidade.