Oral (Tema Livre)
719-1 | A TRAIÇÃO DA MEMÓRIA NA "AUTOBIOGRAFIA DE UMA SOBREVIVENTE DO HOLOCAUSTO" | Autores: | Mírian Sumica Carneiro Reis (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro) |
Resumo O artigo proposto pretende pôr em discussão as possibilidades da literatura para, senão responder, problematizar questões do tipo: como elaborar a experiência traumática em que as perdas vão do âmbito material ao simbólico para transformá-la em narrativa? Como tornar esse luto, cujo trabalho de superação ainda é necessário, em relato transmissível? A estrutura autobiográfica foi a opção feita por muitos dos sobreviventes de estados de exceção como o holocausto ou as ditaduras, porém, nesses textos, a ideia de constituição de um eu que se subjetiva através da fala é extrapolada. Nessas narrativas, o sujeito que se apresenta, diz eu e reivindica uma voz, o faz exatamente porque a estrutura fragmentária e descentralizada do texto autobiográfico é a única possível para expressar relatos pautados na memória.Por isso é que narrativas como "Paisagens da memória - autobiografia de uma sobrevivente do holocausto", de Ruth Klüger parte da negação do aparente esquecimento ocidental e de sua fáustica pretensão de progresso para questionar a história dos vencedores e dar voz à experiência dos oprimidos. Para tanto, a autora conta sua experiência de criança em Viena antes da guerra e depois, nos campos de concentração, extermínio e trabalho, respectivamente, Theresienstadt, Auschwitz-Birkenau e Christianstadt. Das lacunas e vazios da memória individual, Klüger resgata as lembranças de menina para analisar a realidade da guerra. Para isso ela assume o compromisso ético de reconhecer que o olhar lançado para a história não se isenta de suas vivências posteriores de mulher, adulta, mãe, professora universitária, austríaca naturalizada americana. No espelho da memória refletem-se as vivências passadas e as máscaras do presente e a perspectiva escolhida para elaborar tudo isso é da traição. |