Oral (Tema Livre)
830-1 | REPRESENTAÇÃO E HUMOR EM DOIS ROMANCES CONTEMPORÂNEOS | Autores: | Sylvia Helena Telarolli de A. Leite (UNESP - FCLAR - Universidade Estadual Paulista) |
Resumo Esta comunicação apresentará a análise de dois romances de Luiz Ruffatto, "Eles eram muitos cavalos" (2001) e "Estive em Lisboa e lembrei de você" (2009), autor expressivo da ficção contemporânea no Brasil, procurando observar como nos textos o efeito de humor interfere no modo que se dá a representação da realidade. O cômico, entendido aqui como uma espécie de gênero, comporta distintas modalidades, delimitadas por nuances às vezes sutis; partimos do pressuposto de que nos dois textos encontra-se muito marcante a presença do humor. Entende-se humor como expressão vinculada à comicidade, mas que amalgama em sua constituição elementos cômicos e trágicos. Como sustentação para a análise serão utilizados estudos clássicos sobre o humor, como os de Pirandello ( "O humorismo") , Propp ( "Comicidade e riso") e Freud ( "O chiste e suas relações com o inconsciente") bem como será objeto de interesse o modo como a focalização atua no aguçamento ou na diluição do humor. No primeiro romance o humor é presença secundária, que aparece episodicamente, como recurso para atenuar o peso das situações de extrema tragicidade vividas por diferentes personagens no decorrer de um dia, em São Paulo; no segundo, o humor é presença visceral, indispensável à abordagem do cotidiano, tão verdadeiro quanto absurdo do protagonista, em Cataguazes, interior de Minas Gerais e depois em Lisboa. Os dois textos aqui abordados mostram que o humor pode expressar a crítica, mas pode também ser uma forma de lidar com os afetos dolorosos ou recalcados; em sua complexidade, abrange várias modalidades de riso e pode expressar, para além da crítica, também uma forma de acolhida, de reconhecimento e aceitação da diferença. As duas narrativas abordadas apresentam projetos de vida dissolvidos ao longo do tempo, ilusões e esperanças esgarçadas no confronto com as surpresas do destino, as reviravoltas que a vida dá. Em ambas as narrativas o autor recorre ao humor como forma de enfrentamento do ceticismo, ante a descrença em quaisquer utopias. O estudo dos temas de que trata o humor, assim como os recursos estilísticos, formais, estruturais utilizados para o seu traçado certamente elucidarão aspectos relevantes para a compreensão da maneira como, nos textos, o autor constrói sua representação da realidade brasileira. |