XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:951-1


Oral (Tema Livre)
951-1Nomadismo, língua e escritura em Os Nomes de Oran, de Hélène Cixous
Autores:Patricia Rodrigues Esmanhoto (UFPR - Universidade Federal do Paraná)

Resumo

A presente comunicação pretende apresentar a questão do nomadismo na escritura da escritora judia, de origem argelina e alemã e de fala francesa, Hélène Cixous, a partir da análise do texto Les Noms d'Oran (2003). Nesse texto, Cixous retorna à sua cidade natal na Argélia e nos leva em uma peregrinação por ruas e paisagens que associa as línguas de sua infância - francês, alemão, árabe e hebraico - à natureza, aos odores e aos alimentos, os quais estão, por sua vez, inextricavelmente associados às palavras. É um percurso de riquezas recordadas, mas também de luto pela perda dos "tesouros sonoros" que o saber (o aprendizado do significado corrente das palavras) provoca de maneira irreversível. A escritura de Cixous, autora literária inédita no Brasil, é marcada pelas questões do multilinguismo (comum a toda literatura magrebina ou a autores de origem magrebina exilados em outros países, como é o caso dela), do exílio, da memória, do nome, do estrangeiro e da hospitalidade. Nesse sentido, é preciso lembrar que Cixous manteve um íntimo diálogo de 40 anos com o filósofo Jacques Derrida, também judeu franco-argelino, sobre todas estas questões, tendo ambos escrito sobre a obra do outro ou, ainda, obras em parceria. O nomadismo existencial de Cixous, dividida entre vários países, culturas e línguas, acaba por fazer das línguas seu único "território", para além de qualquer nacionalidade. Na sua escritura, há uma paixão pelo intraduzível das línguas, intimamente ligado ao aspecto da oralidade intrincada na escrita, assim como ao da opacidade (línguística e cultural) - ao direito à opacidade que ela, tal como Édouard Glissant, reivindica à literatura, ao saber e às relações culturais e humanas.