XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:310-1


Oral (Tema Livre)
310-1UMA CIDADE E UMA LITERATURA EM FORMAÇÃO: O ROMANCE A AFILHADA E A FORTALEZA DO FINAL DO SÉCULO XIX
Autores:Tiago Coutinho Parente (UFC - Universidade Federal do Ceará)

Resumo

A cidade de Fortaleza, no final do Século XIX, passou por um processo de urbanização e de mudanças sociais. Os jornais e as revistas tornaram-se os principais veículos dessa geração para expor seus pensamentos políticos e sua produção literária. Para garantir a existência desses periódicos, intelectuais organizavam-se por meio de confrarias, sociedades, clubes, academias. O crescimento urbano de Fortaleza acontece em paralelo com a expansão de agremiações e clubes de leitura. Surgem também as primeiras narrativas em formato de romance que tentam (d)escrever Fortaleza. Os exemplos mais sintomáticos são A Normalista, de Adolfo Caminha e A Afilhada, de Oliveira Paiva. Este artigo analisa como Fortaleza foi construída no texto A Afilhada, escrito por Oliveira Paiva, em 1889, nos rodapés do jornal Libertador. Oliveira Paiva, participante do Clube Literário, agremiação responsável pela publicação da revista A Quinzena, iniciou os debates, no Ceará, acerca da literatura naturalista que pretendia contar com embasamento científico para a sua composição estético-literária. Um ano antes de escrever A Afilhada, Paiva publicou, em A Quinzena, dois artigos com os títulos: Naturalismo e O que vem a ser uma obra naturalista?. Com essa escola literária, ele acreditava ser o começo de acabar com o provincianismo brasileiro. Em suas elucubrações sobre o Naturalismo, ele questionava o verdadeiro significado de copiar a natureza e chega à conclusão de que a imitação não pode ser mera reprodutora, mas também criadora da realidade. A criação, no entanto, estava submetida aos procedimentos e rigores das leis naturais. Para Oliveira Paiva, o método das ciências naturais deveria guiar o sentido de sua preocupação com o mundo no qual se vive. Consciente da necessidade de captar e criar a realidade, ele tenta demonstrar, em sua escrita, as transformações urbanas por qual Fortaleza passava. Porém, como lembra Antonio Candido, os escritores naturalistas eram contrários à idealização romântica, mas possuíam um posicionamento intelectual ambíguo. Sendo o naturalismo uma transposição direta da realidade, os escritores não encontravam elementos que justificassem o orgulho nacional. Permanecia o sentimento de colonização, com uma redução para elementos científicos, voltados para a animalidade ou para a construção de homem concebido como síntese das funções orgânicas. Oliveira Paiva, logo no segundo parágrafo do romance, mostrava Fortaleza como uma cidade “florescente”, um “organismo em formação”. Ele descreve os hábitos citadinos existentes em Fortaleza, e demonstra, a partir da trajetória de vida de duas personagens femininas, a existência de duas realidades distintas na cidade. Na Fortaleza de Oliveira Paiva, políticos, intelectuais e uma elite esclarecida sonham com progresso e contribuem para a expansão e consolidação do capitalismo no projeto urbano. Mas entre suas ruelas e becos, há ex-escravos e miseráveis que não conseguem acompanhar o projeto proposto pelas elites. O mundo iletrado se assusta com o apito do trem, morre esmagado pela tecnologia, ameaça o lazer da elite no sereno dos bailes. A cidade quer ser grande, mas a população iletrada torna-se um obstáculo. O artigo conta com o amparo teórico de Antonio Candido, Walter Benjamin, Angel Rama, Elisa Cevasco, Robert Schwarz.