XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:469-1


Oral (Tema Livre)
469-1As múltiplas facetas de Joaquim Manuel de Macedo: A luneta magica e uma aproximação com Hoffmann.
Autores:Juliana Maia de Queiroz (UNIPINHAL - Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal)

Resumo

A apropriação de objetos ópticos por narrativas fantásticas é algo recorrente no interior do gênero romanesco, sendo que muitos dos contos de Hoffmann, inclusive O homem de areia, que circulou no Brasil Oitocentista, lançam mão desses instrumentos que permitem ver pessoas ou situações de uma maneira diferenciada, seja para evidenciar a realidade observada ou realçar a fantasia. O Rio de Janeiro do século XIX, sobretudo sua segunda metade, assistiu a uma intensa circulação de romances. A crescente produção nacional convivia com a circulação de obras portuguesas, francesas, norte-americanas, inglesas, espanholas e também de língua alemã. Estudos centrados na análise do diálogo entre as literaturas brasileira e alemã indicam E. T. A. Hoffmann como um dos autores que influenciaram também os escritores nacionais. Alguns de seus contos foram publicados em periódicos brasileiros desde a década de quarenta do Oitocentos, conforme afirma Hélio Lopes, para quem é possível que outros contos tenham circulado antes. Quem comprova esta hipótese é Karin Volobuef em ensaio mais recente. A pesquisadora aponta a relação entre Hoffmann e Macedo, especificamente no que diz respeito ao romance A luneta mágica, partindo da análise que Flora Sussekind realiza no ensaio “O sobrinho pelo tio”. Sussekind afirma que A luneta mágica teria como fonte inspiradora provável o conto de fadas humorístico, Meister Floh. A influência de Hoffmann, conforme Karin Volobuef, não se restringiria, contudo, a esta narrativa específica apontada por Flora Sussekind. Para Karin Volobuef, a narrativa Klein Zaches poderia ser outra referência temática de A luneta mágica. Os dados de outra pesquisa ainda mais recente, empreendida por Ana Laura Donegá, apontam não apenas a presença de narrativas fantásticas no periódico Novo Correio de Modas (1852-1854), dos irmãos Laemmert, mas especificamente do conto O Homem de Areia, de Hoffmann. Publicado no primeiro semestre de 1852, esta narrativa teve seu título traduzido para “Coppelia, ou a moça sem coração” e, segundo Donegá, “Hoffmann foi, inclusive, personagem de uma narrativa biográfica chamada ‘O albergue do poeta’, na qual se contou sua origem humilde e as dificuldades enfrentadas por ele ao lado de sua mulher antes que suas obras conquistassem sucesso.” O nome de Hoffmann aparece também em um dos catálogos da Livraria Garnier, dos anos setenta do século XIX, junto a outros autores, compondo uma espécie de coletânea, intitulada “Cousas extraordinarias: O escaravelho de oiro, A febre dos diamantes, Amor nas trevas, Inglezes e Chinezes, por Poe, Hoffmann, Scribe, Méry.” Percebemos, assim, que as narrativas de Hoffmann, tendo circulado no Brasil oitocentista, dialogaram diretamente não apenas com os autores nacionais, bem como com os leitores brasileiros do século XIX. Macedo, ao lançar mão de elementos do gênero fantástico, neste romance, abriria ainda mais seu leque de possibilidades narrativas destinadas aos mais variados nichos de público.