Oral (Tema Livre)
944-1 | Olhares estrangeiros | Autores: | Adriana Sucena Maciel (PUC - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) |
Resumo Os griots, homens e mulheres da África Ocidental, numa cultura centrada na oralidade, são os responsáveis por manter viva sua história, são os artesãos da palavra. Nesta cultura, a palavra carrega, assim como tudo o que vive, uma força concreta e perigosa, o artesão aprende a domá-la. Griots são tradicionalistas, genealogistas, contadores de histórias, músicos, conselheiros, seu ofício é se ocupar da palavra, que, durante sua performance, está sempre ligada a outras artes, como a dança e a música. Sua tradição remonta ao século XI, e eles têm, até hoje, grande atuação nos países em que vive. O espaço literário é o espaço da oralidade, que, aqui, não parece responder a uma falta de escrita, mas uma opção ética, que, para alguns pensadores africanos deve ser chamada de oratura.
O encontro com a arte dos griots, com a maneira como ela se integra ao cotidiano dos lugares que ocupam, uma arte que não delimita fronteiras rígidas entre diferentes formas de expressão, que tem a palavra como centro fluido, enfim, com este outro, pode proporcionar estranhamentos potentes sobre a maneira como o chamado ocidente, conceito que também parece um pouco flutuante hoje, produz arte e se relaciona com diferentes linguagens. Cada vez mais as fronteiras entre linguagens e espaços parecem embaçadas. Estamos sempre, de alguma forma, em movimento, ocupando espaços estrangeiros. Mais do que buscar entender as diferenças, que, por vezes apresentam limites concretos, e confortá-las, o encontro com o outro, sempre desconhecido, possibilita, na volta, um olhar contaminado, olhar de estranhamento para a cultura da qual fazemos parte, tornado-nos, também de nós, estrangeiros
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