XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:583-1


Oral (Tema Livre)
583-1A história compartilhada na literatura contemporânea
Autores:Marcela de Araujo Pinto (UNESP - IBILCE - UNESP - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas)

Resumo

Esta comunicação objetiva analisar de modo comparativo os romances Paradise, da autora norte-americana Toni Morrison (1997), e Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz (1997), da autora brasileira Heloisa Maranhão (1997), como leituras da humanidade em movimento, indo ao encontro, portanto, do aspecto proposto pelo simpósio “A literatura contemporânea em movimento”. Os dois romances revisam o conceito histórico de nação ao focalizarem personagens híbridas, que empreendem jornadas em busca de um lugar para morar, em espaços inconstantes e escopos temporais seculares. Embora engendrem uma mesma categoria de revisão histórica, os textos elaboram-na de maneira diversa. Paradise apresenta, em um mosaico de pontos de vista de várias personagens, um grupo de afro-americanos, na década de 1970, vivendo em cidade exclusivamente composta por negros, em Oklahoma, esforçando-se por manter padrões de convivência social que eles sentem ameaçados por um grupo de mulheres habitantes das proximidades da cidade. Em Rosa Maria, a vida de uma figura histórica brasileira do século XVIII coloca-se em relação direta com a de uma personagem-escritora, quando esta, no século XX, desenvolve um texto literário para narrar a vida da (ex)escrava e (quase) santa Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz. Da análise entre essas duas narrativas delineia-se um conceito de “história compartilhada”. “História compartilhada” é a expressão utilizada por Toni Morrison em uma entrevista citada por Ashraf Rushdy (1999, p.45), em “Daughters Signifyin(g) History”. Morrison declarou o seguinte nesta entrevista: “as raízes são menos uma questão geográfica do que um sentimento de história compartilhada; estão menos relacionadas com um lugar do que com o interior das pessoas”. A referida expressão sugere uma ideia que esta comunicação aspira desenvolver como um conceito de crítica literária. A história compartilhada avulta-se na literatura: nas metáforas elaboradas pela linguagem; na narrativa que constrói subversões de tempo cronológico e espaço fixo nos cronotopos; na problemática da referência da linguagem ao “passado histórico” e ao “real” como discussão filosófica; em processos de hibridação transformativos do campo do imaginário da sociedade contemporânea. A metaforicidade da história compartilhada cria imagens cronotópicas “líquidas” para representar o interior das pessoas. O percurso teórico para o desenvolvimento do conceito de “história compartilhada” abrange, principalmente, reflexões de Roland Barthes, em Como viver junto (2003), de Paul Ricoeur, em A metáfora viva (2005), de Mikhail Bakhtin, sobre o cronotopo (2002), de Linda Hutcheon, sobre metaficção historiográfica (1988; 1993), de Lucia Santaella, em Linguagens líquidas na era da mobilidade (2007), de Tania Carvalhal, em O próprio e o alheio (2003).