Oral (Tema Livre)
617-1 | O ponto de vista do outro em “Axolotl”, de Julio Cortázar | Autores: | Ana Carolina Cernicchiaro (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina) |
Resumo Este trabalho propõe pensar o “Axolotl”, de Julio Cortázar, como um conto sobre o ponto de vista do outro, um absolutamente outro tão estranho quanto pode ser a larva de uma salamandra e, ao mesmo tempo, tão próximo que se torna um duplo do narrador. Inevitável não lembrar do unheimlich de Freud, para quem o duplo representa uma espécie de consciência do self. Dando um novo sentido a esta idéia, podemos pensar que essa “consciência” se forma justamente porque é ao outro que cabe a pergunta sobre o eu. É no embate com o outro que chegamos a uma consciência de nós mesmos. Conforme ensina a lição levinasiana, é somente neste encontro ético que se forma uma subjetividade. Neste sentido, ao introduzir este corpo estranhamente familiar, mais do que produzir estranhamento (conseqüência tanto da monstruosidade do axolotl quanto da transformação inumana do narrador), o texto cortazariano se revela um trabalho de performance que dá boas-vindas ao outro inumano, apresentando o eu como um devir entre multiplicidades e ressaltando a impossibilidade de demarcar o eu e o outro, o sujeito e o objeto. Mais que isso, aliás, aponta para o fato de que é pelo ponto de vista desta alteridade absoluta, tão estranha e tão próxima a mim, que posso me perceber como um ser incompleto, um ser que só existe com o outro, um ser no mundo, com o mundo e para o mundo. |