XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:391-1


Oral (Tema Livre)
391-1Memórias do eterno fascismo italiano: os projetos literários de Carlo Levi e Vasco Pratolini em Cristo si è fermato a Eboli (1945) e Cronache di poveri amanti (1947)
Autores:Gabriela Kvacek Betella (UNESP - Universidade Estadual Paulista)

Resumo

O relato de Carlo Levi se constitui de narrativa de memória entremeada de reflexão histórica e sociológica. A rigor, o livro mais conhecido do escritor conta com a objetividade do depoimento do homem engajado e não recusa a subjetividade do artista, podendo representar o gênero híbrido, tamanha a relação entre a função referencial e a função poética da linguagem. O texto é escrito em Firenze entre 1943-1944 evocando o período de 1935-1936 e os cenários meridionais e problemáticos da Lucania (Basilicata), do exílio de Levi como prisioneiro do regime fascista, manifestando o grande trunfo da narrativa neorealista italiana, que adquiriu uma linguagem capaz de incorporar a urgência da expressão dos valores humanos e sociais, seja através do ponto de vista do documentário ou graças à riqueza de nuances que relativiza a imparcialidade do narrador. Levi manifesta uma consciência extravasada do momento presente ao manipular sua própria vivência da década anterior, trazendo à tona problemas que agravam a severidade dos momentos decisivos da Segunda Guerra. O romance de Vasco Pratolini, escrito em tempos esperançosos pós-Resistência e publicado em 1947, revisita o passado através da recriação ficcional de um microcosmo fiorentino dos anos de 1920, durante a afirmação do fascismo. Trata-se de um trabalho que privilegia a criação, mantendo elos com a memória do autor, visto que ele nasceu e se criou em um bairro popular de Firenze, atravessando a adolescência ali durante o período retratado no romance. A estreita via del Corno florentina toma ares de palco teatral enquanto a crônica de seus moradores passa inevitavelmente pelo dia após dia, expressa no romance através da coralidade que estabelece uma dimensão igualitária entre as personagens na narrativa e nas cenas. Contudo, o escritor expressa particularidades com vistas no presente da produção, escrevendo no momento favorecido pelo contexto democrático sob a república parlamentar e o pluripartidarismo. Além de produzir uma operação épica de distanciamento importante na trajetória do escritor, o romance se aproxima do modelo populista de representação, bastante discutido pela crítica sob seu aspecto de esgotamento. Na trama as personagens formam um universo humano sufocado pelo espaço físico e social, pela repressão ideológica e psíquica, pela submissão imposta pela influência ou pela força. Vale dizer que ambos os romances podem ser estudados com base em sua habilidade em fazer sobressair a verdade almejada pelos discursos compostos em tempos de crise, reforçada pela ação e expressão sem provincianismo e sem aristocratismo compensatório.