Oral (Tema Livre)
209-1 | “Rire à visage découvert”: imaginar Beckett no Brasil | Autores: | George França (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina) |
Resumo Se os dados indicam que os palcos brasileiros aguardaram até 1955 para conhecerem uma montagem de Esperando Godot, dada ao público pela primeira vez em Paris em 1953 com a direção de Roger Blin, é necessário, entretanto, notar que o programa com que Alfredo Mesquita a apresentou continha fragmentos de um texto de apreciação escrito por Paulo Mendonça em 1954 e publicado nas páginas da revista Anhembi, dirigida por Paulo Duarte. Nesse texto pioneiro, Mendonça, que morava em Paris, dedica-se a debater com Godot adulte, de Roland Barthes, e cria uma primeira imagem da peça, que repercutiria em sua circulação no Brasil e nas relações que se poderia travar entre o texto beckettiano e o grupo advindo dos quadros modernistas que habitaria a revista de Duarte e emolduraria os inícios da Escola de Arte Dramática e do Teatro Brasileiro de Comédias. Essa trama ainda incluiria o interesse de Mesquita por Ionesco e uma apreciação posterior do ator italiano Emanuele Corinaldi, que participa da montagem de Godot e posteriormente publica, também na revista Anhembi, suas considerações sobre a primeira montagem de Fim de partida. Esta comunicação pretende, ao mesmo tempo que apresenta as implicaturas e diálogos que os textos beckettianos estão sendo levados a estabelecer nas páginas da revista e na ação do grupo que orbita em torno dela, perfazer uma desconstrução da leitura hegemônica da ideia de um teatro dito "de vanguarda", que circula entre esses autores. Minha preocupação é com encontrar outra dimensão para a leitura dos textos de Beckett e desses que a ele se sobrepõem, em camadas. Penso, para além da ideia progressista que vem no bojo da noção de vanguarda, uma abordagem que prime pela singularidade, partindo da ideia de que quando se caminha na exaustão do sentido, quando Godot não vem, quando não é mais possível significar, quando parecemos estar perto do fim, não podemos deixar de entrever que o abismo do silêncio, como fim da linguagem, "é o começo, e, no entanto, continua-se". |