Oral (Tema Livre)
97-1 | Anos de desaprendizagem: livros e leituras do primeiro Beckett | Autores: | Fabio de Souza Andrade (USP - Universidade de São Paulo) |
Resumo A publicação do esperado primeiro volume da correspondência escolhida de Samuel Beckett ("The letters of Samuel Beckett - 1929-1940", Martha Fehsenfeld e Lois Overbeck, ed., Cambridge University Press, 2009)abre mais uma janela para o diálogo, sempre polêmico, de sua literatura feita de impasses com a tradição.
Para além dos exemplos publicados de sua crítica literária,vazada num estilo idiossincrático e sem meio-tom, enfrentando e se medindo diretamente com os grandes autores (vejam-se o ensaio "Dante...Bruno.Vico..Joyce", de 1929, e o pequeno livro sobre o autor de "À la recherche du temps perdu", intitulado "Proust", de 1931), as cartas trazem as escolhas deste "Beckett avant Beckett" ainda frescas e tateantes, as ruminações e iluminações de um leitor em formação. Impregnado até a medula de filosofia, poesia e ficção europeias, Beckett fez de sua obra um processo severo contra sua formas ameaçadas de caducidade pela experiência contempôrânea. Nele, as cartas passam a se inscrever desde logo como peça das mais importantes, provas materiais de defesa e acuasação que variam da adesão total, expressa em transcrições como sinal de empatia, à recusa sarcástica, anotada em agulhadas breves, mas com endereço certo. Ao lado dos recentes "Beckett's books: a cultural history of Samuel Beckett's 'interwar notes'", de Matthew Feldman (Continuum, 2006) e "Beckett's Dantes: intertextuality in the fiction and criticism", de Daniela Caselli (Manchester University Press, 2005), a edição da correspondência vem encorpar vertente nova e significativa dos estudos beckettianos: a dos anos de formação de sua literatura da despalavra. |