XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:852-1


Oral (Tema Livre)
852-1Antropofagia crítica
Autores:Tiago Leite Costa (PUC - RJ - Pontifícia Universidade Católica)

Resumo

A Década de 1940 e o início dos anos 1950 abarcam a maturidade da atividade crítica de Oswald de Andrade. Data deste período uma série de ensaios, crônicas e teses acadêmicas que tematizam a história política e cultural do Ocidente moderno de um ponto de vista peculiar, a partir do qual o autor sugere um quadro original de motivações e conseqüências para alguns de seus principais acontecimentos. Nestes textos, Oswald desenvolve os alicerces teóricos da "visão de mundo antropofágica" que, embora tenha sido amplamente divulgada nas duas décadas anteriores, só tardiamente foi elaborada em minúcias pelo autor. Com efeito, dois empreendimentos conceituais motivam implicitamente as teses e ensaios antropofágicos. Um deles busca recuperar a dimensão órfica (mitológica) do pensamento primitivo e ajustá-la a um certo crivo laico e às conquistas técnicas do século XX; o outro pretende costurar as prioridades libertárias do individualismo moderno ao apelo utópico por justiça social, típico das ideologias coletivistas. Os dois vieses entrecruzam-se naturalmente, mas, ainda que remetam as tradicionais dicotomias religião-ciência e liberalismo-socialismo, no caso da antropofagia crítica, se estendem por caminhos mais amplos, sinuosos e matizados. Com base nessas premissas, Oswald de Andrade reinterpreta diversos episódios históricos que remontam à Antiguidade, à Idade Média, ao Renascimento e à descoberta da América, para diagnosticar os detalhes da formação cultural do ocidente moderno. Para tanto, o autor traça um amplo painel no qual análises históricas, filosóficas e antropológicas se misturam a invenção ficcional e poética. Nesse sentido, acredito que esses textos seguem de perto a tradição crítica mencionada na chamada do simpósio em questão, na medida em que realizam, por meio da associação entre literatura e estudos sociais, um exame original dos fenômenos históricos e culturais característicos do Brasil. Penso, igualmente, que eles constituem uma rica fonte de idéias para o debate crítico acerca dos limites entre os campos discursivos da interpretação e da criação (ou das teorias do conhecimento e do ficcional). O objetivo dessa comunicação, portanto, é apresentar um panorama geral dos ensaios e teses oswaldianos e debater de que modo a antropofagia crítica pode ser pensada, ainda hoje, como um operador conceitual que transita entre o ficcional e as diversas teorias de conhecimento modernas, possibilitando diferentes interpretações históricas e inusitadas visadas éticas sobre a constituição da cultura ocidental e brasileira na modernidade.