Oral (Tema Livre)
507-1 | PAISAGENS AFETIVAS EM VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO | Autores: | Adalberto Muller (UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) |
Resumo As emoções, os afetos e os sentimentos sempre fizeram parte da representações estéticas: da tragédia grega aos melodramas, passando pela grande tradição literária e pela pintura, que fixou e codificou a alegria, a compaixão, o medo, o rancor ou a melancolia em palavras, gestos e olhares. Nos últimos anos, porém, vemos proliferar uma série de discursos e teorias sobre os afetos e as emoções em diversas áreas do conhecimento (neurologia, psicologia, sociologia, filosofia, artes), que discutem as diferentes condicionantes e expressões dos afetos e das emoções, além dos incontáveis livros de auto-ajuda sobre o tema. No cinema dos anos 90/2000, cada vez mais o núcleo familiar e as relações afetivas, a vida íntima e cotidiana ganham proeminência. E não apenas no mainstream, que sempre explorou as formas e gêneros afetivos (sobretudo o através do melodrama) e as estratégias de controle dos afetos e emoções do espectador, mas no próprio cinema autoral. Por outro lado, os afetos e as emoções tem habitado o discurso dos estudos cinematográficos: da imagem-afeto de Deleuze aos “post cinematic affects” de Steven Shaviro, e nos estudos voltados para a questão do melodrama. É sobretudo a partir dessa última vertente que me interessa discutir um filme de viagem como "Viajo porque preciso, volto porque te amo", buscando entender o papel que neles desempenham emoções e afetos. Segundo Ismail Xavier, filmes como "Central do Brasil" começaram a deslocar o terreno da discussão política do público para o familiar, saindo da esfera do Estado e das relações de poder, para a esfera privada dos afetos. Para Xavier esse deslocamento de boa parte da nossa produção cinematográfica ficcional para questões afetivas – e sobretudo para o melodrama, enquanto “sedução moral negociada”, e para filmes em que se apresentam as “figuras do ressentimento” – ainda aponta para um “diagnóstico nacional”, ou seja, uma nova forma de alegoria. No entanto, será que não poderíamos pensar que se trata menos de um diagnóstico do que de um sintoma? Trata-se aqui de reconhecer esse território em que as emoções e os afetos escapam às formas de controle (político, estético) , de mapear essa paisagem afetiva que se apresenta no cinema brasileiro recente. De que modo a paisagem do sertão, uma paisagem marcada (desde "Os sertões") por uma tradição politizada, que discutia o espaço do sertão como dilema da modernização, é vista hoje por um olhar afetivo e emocional em um documentário (?) lírico-experimental como "Viajo porque preciso, volto porque te amo", que mostra imagens do sertão enquanto entrelaça considerações geológicas a dilemas íntimos e amorosos do narrador? Para responder a perguntas como essa, não basta colocar teoricamente a questão dos afetos e das emoções, é preciso entrar no terreno sensível da análise, da leitura entendendo o entrelaçamento da voz narrativa (em forma de diário) e do fluxo de imagens de caráter poético-documental. |