Oral (Tema Livre)
1029-1 | O insólito na arte sequencial (histórias em quadrinhos) ambientada no sertão | Autores: | Roberto Henrique Seidel (UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana) |
Resumo O assim chamado “sertão” brasileiro, desde a sua emergência enquanto imagem/conceito descritivo de uma região/geografia/local na obra “Os sertões”, de Euclides da Cunha, tem gerado vasta produção artístico-cultural. Mitos, lendas, contos populares; histórias de cangaceiros e de assassinos sanguinários; histórias de assombrações, de horrores e de misticismos de toda ordem povoam o imaginário do ser “sertanejo” e proporcionam subsídios para a criação e recriação de obras simbólicas. A hipótese de trabalho que orienta o presente trabalho é que, o próprio sertão sendo plural — considerado, portanto, de uma forma não-essencialista —, pode ser encarado na atualidade como espaço de disputa sócio-simbólico, ensejado por um imaginário social resultado de processos híbridos e transculturadores de várias matrizes culturais (tais como o armorial-medieval, o indígena, o afro-americano), bem como eminentemente caracterizado por temporalidades sobrepostas e imbricadas de forma complexa. Tais temporalidades sobrepostas geram conflitos entre o velho e o novo; o antigo e o moderno; práticas sociais obscurantistas e aquelas ditas iluministas; conflitos estes de ordem simbólica, que se plasmam nas narrativas (visto que o conflito modernizador é um conflito de linguagem), sendo ainda uma das marcas do insólito encontrado nas narrativas fantásticas tradicionais, elas mesmas parte de uma tradição literariamente marginal. O próprio “real” então se dará neste “nó” — do tipo borromeano lacaniano, em que o imaginário, o simbólico e o real se encontram —, aparecendo nas representações ficcionais com a característica da duplicidade e da ambiguidade, ao tempo em que se problematiza a emergência do sintomático (o quarto termo no nó) em termos sócio-simbólicos. Do ponto de vista esboçado, ancora-se no lastro teórico dos estudos culturais, da psicanálise e da teoria literária — especialemente de interesse são a narratologia e a teoria dos gêneros —, rumo ao exercício da crítica cultural. O projeto dedica-se ao estudo de obras em que o elemento do insólito surja como relevante para o contexto, na literatura, na arte sequencial e no cinema. A presente comunicação, por seu turno, dedica-se à análise dos aspectos do insólito na arte sequencial — em histórias em quadrinhos ambientadas no sertão. Tem-se por base publicações dos anos 80 do século passado, década que foi especialmente produtiva no cenário dos quadrinhos nacionais. Os resultados aqui apresentados dizem respeito tanto à forma como o insólito é trabalhado tecnicamente nestas histórias quanto ao tipo de imaginário social mobilizado; elucida-se ainda outros aspectos mais propriamente da sociologia da recepção, tais como, público leitor/consumidor, formas de distribuição, etc. A presente pesquisa está atrelada à linha “Poéticas da modernidade” do PPG em Literatura e Diversidade Cultural da UEFS e à linha “Margens da literatura”, do PPG em Crítica Cultural da UNEB II. |