Oral (Tema Livre)
235-1 | A constituição da cultura pela fala como projeto de expressão coletiva no romance: achados e entraves da teoria e um breve passeio pelos narradores de Patrick Chamoiseau e Luiz Ruffato | Autores: | Geraldo Ramos Pontes Junior (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) |
Resumo A questão do “dizer o outro” na estética literária poderia não ser um problema conceitual se partíssemos ainda do pressuposto pós-estruturalista, herdado da psicanálise freudiana-lacaniana, segundo o qual, o sujeito é necessariamente falado pelo outro. Mas essa lógica se investiria de uma anulação das diferenças concebidas pela crítica da cultura hoje. Emanando do inconsciente, a fala diria o inconsciente, antes do sujeito. Apanágio de uma perspectiva que transcende toda cultura, haveria nessa concepção apenas “a” cultura, produto do irredutível antropológico preponderante, a proibição do incesto. Não haveria talvez o sujeito muito além de outros irredutíveis de gênero, como o feminino e o masculino, extensivos ao paterno e materno, peças centrais na questão edipiana e da compreensão mais clássica do objeto do desejo. Em outra perspectiva, ao problematizarmos a posição ideológica e/ou política de um autor, convergindo com a proposta deste simpósio, em sua lida com a representação do outro e do coletivo, estamos em um campo de crítica literária que retorna aos interesses sociológicos mais aptos a fustigar a existência do texto literário no apogeu da cultura e tecnologia comunicativa de massa em que vivemos, além de suas distintas formas de representação. Mas também não deixamos de apagar a questão do sujeito desejante, que retornaria à pauta sociológica pelo viés das discussões de gênero e representações de identidades, ou do autor como intérprete de coletivos em suas relações com o “transnacional”, ainda mais se pensarmos em novas subjetividades que começaram a por em questão a psicanálise baseada na família freudiana, por um lado da questão, ou na autoria de escritores centrados em uma identidade linguística e nacional. E em países de culturas exclousivamente atávicas, consequentemente. As novas facetas do desejo não se limitam a questões de gênero, pois também se reinventam novas legitimações culturais como um todo, e que se impõem no diálogo do autor com a sociedade, ampliando o horizonte do coletivo e do(s) outro(s), diante da força do discurso midiático que mais sirva, talvez, para limitar esse horizonte. Se essa é uma discussão que preocupa Stuart Hall (2003) e, em outros aspectos, Edouard Glissant (1991), ou ainda Patrick Chamoiseau et alii (1989), ela perpassa projetos editoriais de Luiz Ruffato, quando o autor mineiro organiza antologias que se legitimam ao se originarem de autores que representam genuinamente a fala ficcionalizada, ou quando usa um artifício de “anulação” da identidade do narrador para atribuir autenticidade ao relato de um que supostamente viveu o fato narrado, entre outros aspectos. Já no martiniquense Patrick Chamoiseau, trata-se de pensar a condição desconfortável da autoria literária e a estratégia da oralidade, no relato do outro e na aproximação com a cultura popular, como formas de mediar a autenticidade da produção da literatura, mantida no campo erudito francês metropolitano, com a crioulidade antilhana, fenômeno cultural ainda restrito ao “cidadão” antilhano, no âmbito nacional, como cultura francófona (ultramarina). Discutiremos em síntese várias dessas questões para contribuir ao debate aqui proposto. |