Oral (Tema Livre)
936-1 | Narrativas transmídias e novos esquemas cognitivos: evolução e adaptação nos sistemas da escritura | Autores: | Glaucio Aranha Barros (OCC - Organização Ciências e Cognição) |
Resumo A sociedade contemporânea tem sido marcada por processos acelerados de mudanças e rupturas de fronteiras que, durante a modernidade, foram excessivamente valorizadas. Tais fronteiras, muitas vezes, turvavam a percepção para a complexidade dos mais diversos fenômenos, dentre os quais o literário. Henry Jenkins destaca o crescente processo de convergência dos saberes em nosso atual estágio sócio-econômico-cultural, o qual configura o que ele denomina de sociedade de convergência . Este processo seria impulsionado, principalmente, pelas transformações tecnológicas, que afetam múltiplas instâncias, dentre as quais os sistemas da escritura. A emergência das narrativas transmídias dá relevo a um novo estatuto da produção textual, que se ajusta às próprias transformações do ser humano na contemporaneidade, ou seja, aos novos esquemas cognitivos que hoje atravessam o pensar e o sentir. Em face da importância de se estabelecer uma reflexão interdisciplinar acerca da emergência das novas formas de escritura, elege-se no presente trabalho as chamadas narrativas transmídias como recorte e ponto de partida face sua imanente descentralização. Parte-se da premissa de que as rupturas e transformações das formas estão inextrincavelmente relacionadas com o processo de adaptação cognitiva humana e com a evolução da linguagem. Neste sentido, é proposta aqui uma análise acerca do sistema de escritura daquelas narrativas, partindo do campo da Literatura rumo a um diálogo com as ciências cognitivas, em especial as neurociências. Atento ao fato de que os campos de saber são permeáveis, serão aqui articulados conceitos e princípios da Teoria Literária, a percepção de Brian Boyd sobre a narrativa como ferramenta cognitiva de adaptação e evolução humana e, por fim, os estudos de Semir Zeki e de V. S. Ramachandran que propõem a aproximação destes campos, sob a perspectiva de uma neuroestética . Assim, a presente proposta está alinhada com perspectivas como a de Jonathan Gilmore que destaca a necessidade de construir pontes que diminuam o abismo entre as artes (dentre as quais a Literatura) e as neurociências. Orientação esta também partilhada por Robert Irwin que sugere a aproximação dos campos como necessidade para o enriquecimento do diálogo entre o “mundo sensível” e o “mundo cognitivo”. Busca-se, deste modo, entender a formação de novos sistemas de escrituras como processos de adaptação e de evolução humana. Vista de tal modo, sugere-se uma abordagem da escritura como componente inserido no corpo e na mente. Trata-se, portanto, de perceber o texto como parte inseparável da condição humana e as metamorfoses da escritura como parte do seu desenvolvimento, da experiência de humanidade ciente de , como aspecto fundamental para a constituição do saber diante de um mundo em constante mutação. Assim, a escritura e as adaptações dos esquemas cognitivos se complementam como espelhos convexos refletindo e amplificando um ao outro. |