Oral (Tema Livre)
955-1 | DA REFLEXIVIDADE À VOZ. ALGUNS PRESSUPOSTOS MODERNOS EM XEQUE NAS POÉTICAS DE WALY SALOMÃO, PAULO HENRIQUES BRITTO E RICARDO DOMENECK. | Autores: | Roberto Zular (USP - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ; Roberto Zular (USP - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) |
Resumo No fogo cruzado que configurou a relação entre poesia e crítica no Brasil durante a consolidação do campo literário no correr do século XX, tendo resultado aparentemente em um prestígio maior dos críticos sobre os poetas e em um certo descrédito da teoria, pensar a relação entre essas instâncias (teoria, crítica e poesia) impõe uma tarefa das mais difíceis que propomos tratar a partir de dois eixos:
1) um viés histórico, ligado ao próprio surgimento da poesia moderna nos países do norte e que a partir da noção romântica de reflexividade instaura uma tensão entre a prática poética e a necessidade de formulações críticas e teóricas no limite do próprio abandono da poesia (e a relação que esse abandono tem com a forma romance) ou de uma cisão insuperável entre essas instâncias. Esse movimento que perpassa escritores tão diversos como Schlegel, Poe ou Baudelaire, será tratado a partir de Paul Valéry (e a leitura que ele faz desses poetas), o seu silêncio, a escritura dos cadernos, sua atividade crítica e a constituição de uma poética como teoria do poema enquanto prática.
2) Esse momento do alto modernismo representado por Valéry nos servirá de pano de fundo para pensar o modo como a reflexividade e seu potencial crítico (aqui no sentido de uma problematização efetiva que coloca em crise valores e práticas) perdem sua força na contemporaneidade, quando os lugares de enunciação se encontram marcados por um novo arranjo de forças que se vê na lógica complexa do cinismo das enunciações que perpassam a poética de Paulo Henriques Britto, sua encenação do campo literário nos poemas e o giro em falso da reflexividade que aí se escancara. Como espécie de contraponto, mas ainda sintoma do mesmo problema, vemos uma explosão da oralidade e do empenho do corpo no corpo a corpo com a enunciação a exigir uma outra teoria da linguagem e da poesia em Waly Salomão e Ricardo Domeneck. Esses poetas nos servirão como uma espécie de bússola para situar a poesia num momento em que qualquer ato de fala parece estar fadado a produzir distorções entre o que se faz, o que se diz, o que se pensa e como se uma coisa desdissesse a outra continuamente. Se a reflexividade impõe a necessidade de articulação de duas lógicas contraditórias, o imaginário da crítica e a normatividade da teoria, a prática desses poetas parece apontar para um lugar da poesia em que essa contradição se encarna na voz, no corpo da voz, na borda de sua constituição enquanto som e palavra, enquanto fala e escrita. No limite tenso entre a palavra que precisa morrer para que haja canto e a música que precisa morrer para que haja palavra. Essa conciliação do inconciliável, esse ato impossível que atravessa a teoria e a crítica, talvez ainda se possa chamar de poesia.
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