Oral (Tema Livre)
169-1 | O intérprete como testemunha do que (h)ouve entre línguas | Autores: | Maria Viviane do Amaral Veras (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas) |
Resumo Você não deve se envolver. Esse mandamento foi invocado para todos os intérpretes que traduziram os relatos das vítimas e os depoimentos dos torturadores durante os trabalhos (de julho de 1995 a agosto de 1997) da Comissão Verdade e Reconciliação (CVR) na África do Sul. O intérprete é uma figura em geral apagada nas teorias do testemunho, há poucos estudos sobre seu trabalho e, menos ainda, estudos que discutam a diferença de estar ali, de corpo presente, mas discreto, separado, apartado da cena de que, no entanto, participa. No contexto da CVR, proponho duas questões: é possível pensar o intérprete tradutor como parte, como testemunha, sublinhando o fato de que a língua da Comissão, o inglês, é uma língua de tradução, e essa não é a língua das vítimas nem de boa parte dos torturadores? Como não se envolver se o intérprete não escapa à contingência do que é ouvido, disso que, estando além da neutralidade ideal, joga com sua impotência e vai além do domínio perfeito das línguas que traduz? |