Oral (Tema Livre)
945-1 | Sistemas poéticos de inquérito: a ideia de policial entre a poesia e a prosa de Roberto Bolaño | Autores: | Tiago Guilherme Pinheiro (USP - Universidade de São Paulo) |
Resumo Esta comunicação se propõe a investigar a relação tensa e particular existente entre a idéia de prosa e de poesia na obra do escritor chileno Roberto Bolaño. Essa tensão se verifica em três níveis: 1) ao longo da carreira do autor, que abandona a produção poética a partir de 1994 (ainda que haja poemas retrabalhados até 1998) para dedicar-se exclusivamente à prosa; 2) no próprio modo de produção do autor, já que muitos dos seus poemas (“Iceberg”,“Lupe”, “El gusano”, a série “Detectives”, etc.) serão retomados como material para seus romances e contos posteriores; 3) no interior de seus textos em prosa, em especial, em La Literatura Nazi en América e Los Detectives Salvajes, nos quais não só a produção poética é tematizada e dramatizada extensivamente (ainda que versos citados expressamente sejam muito raros), como também as possibilidades de uso e as formas de relações (entre autor-obra, entre obra-leitor, entre leitores, etc.) possíveis de serem travadas a partir delas.
Além de delimitar como cada um desses níveis aparecem e se relacionam entre si nos textos de Bolaño, gostaria de retomar nessa chave, um dos textos radiais tanto para a poesia como para a prosa modernas: a “Filosofia da composição” de Edgar Allan Poe. Esse ensaio possui uma larga história de leituras no interior da literatura latino-americana que inclui autores como Horácio Quiroga, Jorge Luis Borges, Júlio Cortázar, Ricardo Piglia, entre outros. Em especial, pretendo recuperar o modo como tal escrito foi lido a partir da idéia de “policial” (mesmo sendo um texto sobre a produção de um poema, fato central para a discussão que queremos travar aqui), designação que foi atribuída por Bolaño tanto aos seus romances, como também, e isso é mais incomum, a um certo conjunto de seus poemas.
De Poe, pretendo retomar três conceitos importantes: a) o procedimento de cálculo; b) a questão do efeito; c) a relação entre extensão, memória e tempo de leitura.
Dessa forma, não só poderemos nos aproximar dos diversos mecanismos que Bolaño põe em funcionamento a partir das relações entre poesia e prosa, mas também entender esses mecanismos como um modo estratégico de estabelecer um campo de problemas relacionados aos lugares de enunciação, de distribuição e de uso do discurso literário (editoras, ateliês, universidades, movimentos literários, etc.), pensando-os desde e em relação a regimes ditatoriais e estados dito democráticos. Tal movimento retoma e reformula a questão concernente à idéia de policial, tal como a utiliza Bolaño (e aqui podemos retomar a discussão de Jacques Rancière em O Desentendimento).
Com isso, esperamos entender melhor uma afirmação como “Literatura Nazi é meu único livro sobre poesia... Detetives Selvagens é um livro sobre uma comunidade”.
Bibliografia mínima
BOLAÑO, Roberto. Los Detectives Salvages. Barcelona: Anagrama, 2001.
_______. La Literatura Nazi en América. Barcelona: Seix Barral, 1998.
_______. Los Perros Románticos. San Sebastián: Kutxa Fundazioa/Fundación Kutxa, 1995.
_______. La Universidad Desconocida. Barcelona: Anagrama, 2007.
POE, Edgar Allan. The Portable Edgar Allan Poe. New York: Penguin Group, 2001.
RANCIÉRE. Jacques. La Mésentente: Politique et Philosophie. Paris: Galilée, 1995. |