Oral (Tema Livre)
472-1 | Carolina de Jesus, Juan Francisco Manzano e Vik Muniz: subtextos e subversões. | Autores: | Lúcia Bettencourt (UFF - Universidade Federal Fluminese) |
Resumo Observando a obra do artista plástico Vik Muniz, cuja proposta de resgate de
objetos descartados no lixo tanto tem encantado o mundo das artes, lembramos
dos esforços da catadora de lixo Carolina Maria de Jesus cujo livro, Quarto de
Despejo, nos idos de 1962 ocupou corações e mentes pelo mundo. Ajudada por
Audálio Dantas, jornalista, seu diário, escrito em papéis descartados, em pedaços
de papelão e caixas reaproveitadas foi trabalhado e editado para chegar ao livro
que foi traduzido para 12 idiomas. Assim como ela, no século anterior o escravo
Juan Francisco Manzano foi encarregado, por um poeta abolicionista, Del Monte,
a escrever suas memórias. Seu texto, Autobiografía de un esclavo, editado por
Domingos Del Monte, também foi um sucesso e comoveu a opinião pública.
No entanto, os dois autores, uma vez que seus editores já não se interessaram
mais por suas (sub)versões, perderam a oportunidade de auto-expressão.
Foram silenciados e descartados, após terem sido oferecidos em espetáculo pelo
mundo.
Pretendemos refletir sobre as narrativas dos “afônicos” (“Os pobres têm que ser
afônicos” – Carolina, 1986, p. 201) e procurar aquilo que foi silenciado dentro de
seus textos. E ensaiaremos mostrar como esses silêncios permitem a construção
de uma obra que, ao mesmo tempo, desconstrói aqueles que tentam se constituir
como sujeitos.
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