Oral (Tema Livre)
902-1 | HISTÓRIAS REVISITADAS: A CONSTRUÇÃO DO METAFICCIONAL NOS ROMANCES DO PÓS-BOOM DA LITERATURA LATINOAMERICANA | Autores: | Wanderlan da Silva Alves ((UNESP/SJRP) - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA(UNESP/SJRP) - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA(UNESP/SJRP) - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA(UNESP/SJRP) - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA) |
Resumo A produção literária latinoamericana assumiu muitas vezes para si, ao longo da segunda metade do século XX, a função de (re)escrever e (re)visitar a história político-cultural da América Latina, de modo a repensar as marcas do passado ainda significativas para seu presente ou de driblar a censura e o cerceamento à expressão do indivíduo, por vezes impostos por regimes políticos autoritários. Esse caráter profundamente crítico manifestou-se, entre outros, nos chamados romances do pós-boom (CHIAMPI, 1996), por vezes questionados pela crítica de arte mais tradicional por seu experimentalismo formal e pelo diálogo que estabelecem com a cultura de massas (MONEGAL, 1968; RAMA, 2005 [1984]). Romances como Cobra (1972), de Severo Sarduy, El beso de la mujer araña (1976), de Manuel Puig, La casa de los espíritus (1982), de Isabel Allende, Bolero (1983), de Lisandro Otero e La guaracha del Macho Camacho (1985), de Luis Rafael Sánchez, são construídos por meio de procedimentos e materiais híbridos (CANCLINI, 1998; 2003) cuja articulação foi capaz de mobilizar estilemas provenientes de distintas instituições sociais (igreja, estado, família, etc.) e de engendrar, no discurso literário, um lugar possível de trocas e ressignificações simbólicas representativo da complexa realidade social e antropológica latinoamericana de seu presente, incorporando ou representando, no corpo de sua linguagem, estruturas e formas simbólicas do período pré-moderno (como as culturas indígenas), do período moderno (a própria constituição dos Estados) e do período pós-moderno (reestruturação da família, reorganização do papel das instituições públicas e do mercado de bens de consumo), que na América Latina são, por vezes, contemporâneas entre si. Tais trocas e ressignificações constituem um espaço particular da produção literária dos anos 70-80, pois, enquanto documentos de cultura que se voltam para a própria história, elas apresentam sérios questionamentos acerca da história latinoamericana: seriam elas um salto (BENJAMIN, 1984) rumo ao dissonante, ao incompleto, ao inacabado, mas, ao mesmo tempo, a uma possibilidade de reinterpretação de nossa cultura? Consistiriam num modo de tentar expressar, por meio de sua linguagem, como as ruínas do passado ainda são perceptíveis e recuperáveis para seu presente e para a sua história? Seriam um modo de procurar salvar o legado cultural dos mitos e dos deuses (La casa de los espíritus, por exemplo) e, enfim, de uma expressão latinoamericana no contexto da Modernidade ou, mesmo, da Pós-modernidade? Ou seriam, ainda, uma estratégia para driblar as inúmeras formas de coerção e controle que sempre estiveram presentes na configuração do dizer e do ser latinoamericanos (El beso de la mujer araña, por exemplo)? Esses romances se mostram, portanto, essencialmente políticos e potencialmente críticos de sua própria condição dentro da “América amarga, América descalza, América en español” (GALEANO, 1989) onde são criados. Uma vez que a vida social se presentifica na literatura principalmente pela linguagem (TINIANOV, 2004), e a linguagem é histórica e social, propomos analisar os procedimentos por meio dos quais os romances mencionados articulam à sua estrutura textual elementos temático-formais que sustentam sua consciência estética e sua natureza crítica e adquirem, desse modo, um caráter metaficcional (HUTCHEON, 1991). |