XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:1055-1


Oral (Tema Livre)
1055-1POÉTICA E POLÍTICA EM MALLARMÉ
Autores:Larissa Agostinho (PARIS IV-SORBONNE - Universidade de Paris IV-Sorbonne)

Resumo

Quando entrevistado a respeito da prisão de Félix Fénéon, que costumava freqüentar a casa do poeta e que fora acusado de ser o autor de um atentado a bomba contra a Assembléia Legislativa francesa, Mallarmé declarou « Eu não conheço arma mais eficaz que a literatura », declaração que corresponde a postura do poeta que sempre se negou a falar abertamente de política. Esse tipo de comportamento Sartre nomeou de “anarquia branca” ou « terrorisme de la politesse ». E a partir de então a crítica sociológica contribui para manter esta imagem de Mallarmé, de poeta « estóico » (Sartre), prisioneiro de um « culto estéril e fetichista da forma » (Bourdieu) ou ainda o jornalista que cedeu aos seus princípios estéticos em nome de “besognes alimentaires” (Durand). Nosso objetivo é mostrar que na obra de Mallarmé ha um engajamento ao mesmo tempo poético e político, evidenciar esta intimidade entre universos aparentemente tão distintos foi uma tarefa que o poeta se impôs ao buscar em sua poesia uma forma capaz de escapar ao reinado da representação. O principio poético que estrutura a poética mallarmeana, emerge de uma critica da sociedade assim como de uma critica da literatura de seu tempo. Segundo o poeta a representação estrutura a vida em sociedade, pois ela é a base da democracia representativa assim como do capitalismo financeiro e industrial (« Grands faits divers »), este mesmo principio constitui a estética naturalista e da poesia parnasiana. Mallarmé procura criticar a linguagem representativa argumentando que esta se baseia em uma analogia entre as palavras e as coisas, que pressupõe a idéia mesma de poder falar das coisas do mundo, uma idéia que apenas mascara o real, que cria ilusões. Em tempos de arte autônoma em que a arte se define pela recusa de tudo que lhe é exterior, não seria por denegação que ela falaria da sociedade, como quer Bourdieu, mas através de mediações formais. Assim Mallarmé procurou em sua poesia desmontar a ficção para tornar visível seu processo de constituição e funcionamento. Essa operação só é possível, pois para Mallarmé a poesia deve ser um espelho da linguagem, um espaço onde a linguagem é pensada, e onde ela aparece em toda sua verdade. Refletir sobre a linguagem, e refletir a linguagem significa para Mallarmé estabelecer uma critica social e política do seu tempo, desvendando, o que para ele é o mecanismo responsável pela estruturação da vida social, a representação. Finalmente podemos dizer que a relevância deste trabalho reside no fato de procurar mostrar que o engajamento político de Mallarmé se deixa ler exclusivamente na sua poesia, através de sua constituição formal. Nossa metodologia parte da premissa de que a elaboração da poética mallarmeana (entendemos poética mallarmena o conjunto de textos críticos e teóricos do autor onde este desenvolve a sua idéia de poesia) deve fornecer à critica literária os princípios e parâmetros através dos quais a obra poética do autor deve ser compreendida e julgada.