XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:973-1


Oral (Tema Livre)
973-1“Falar de tradução, hoje, com o coração”: cenas da língua, do corpo e da memória
Autores:Maria Angélica Deângeli (IBILCE/UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho")

Resumo

Siscar (2005), num ensaio intitulado “O coração transtornado”, propõe uma leitura do pensamento derridiano a partir da problemática do coração. Numa espécie de endereçamento direto a Derrida, ele diz: “Como ter coragem de falar a Derrida, de falar sobre ele diante dele, mais uma vez, correndo inevitavelmente o risco de ousadia e ingratidão? Como ter coragem de reaprender a lê-lo, de renomear o outro diante dele e, assim fazendo, nomeá-lo outro para ele? Em sua própria língua ou na minha, o percurso é sempre aquele traçado pela tradução. Mas os desejos e arroubos da tradução são, também, um aspecto importante da leitura de Derrida. Como falar de Derrida, hoje, senão com o coração?” (Siscar 2005: 135, grifos meus). Parafraseando Siscar e seguindo o percurso traçado por essa leitura, a pergunta aqui nomeada seria de outra ordem, ou seja, caberia, talvez, perguntar-nos em nossa língua e na língua do outro: “Como falar de tradução, hoje, senão com o coração?” No cerne da questão, a instância do corpo como corpus tradutório irrompe de maneira inevitável, pois, naquilo que se nomeia tradução, vários corpos estão em jogo: o da língua, o do tradutor, o do texto, o da memória, enfim, trata-se de uma operação engajada no corpo daquilo/daquele que (se) traduz. A partir dessa visada teórica, na entrelinhas do corpo e/ou do coração, objetivamos então investigar na obra do escritor, poeta e tradutor marroquino Abdelkebir Khatibi, mais especificamente, em seu livro Amour Bilingue (1983), como todas essas presenças (da língua, do outro, do tradutor) comparecem em cena no ato e como ato de tradução, ou ainda, como todos esses outros não se apagam nunca da cena e do corpus da tradução, reiterando para sempre a alteridade constitutiva do/no ato de traduzir.