Oral (Tema Livre)
96-1 | Waly Salomão: edênico e apocalíptico | Autores: | Elzimar Fernanda Nunes Ribeiro (UFU - Universidade Federal de Uberlândia) |
Resumo Em 1972, Waly Salomão (então se apresentando como Waly Sailormoon) publicou Me segura qu’eu vou dar um troço, considerado como uma das mais fundamentais obras do momento pós-tropicália. A obra trazia consigo a angústia de uma jovem geração de artistas que viu seu anseio vigoroso de provocar de mudanças significativas no panorama sócio-cultural brasileiro barrado pela coerção exercida pelo totalitarismo conservador do Regime de 1964; trazia também as marcas da experiência brutal do encarceramento do autor no presídio do Carandiru. Dilaceramento, agressividade, espírito catastrófico, iconoclastia são algumas das características que configuram a estética transgressora do livro, numa experiência radical, em que o escritor força insistentemente os limites da criação poética, Entretanto, o alto nível de inventividade e quebra de padrões não implica em recusa da tradição, pelo contrário, o imaginário judaico-cristão é ativado como fonte de toda uma simbólica que expõe o desejo de transcendência do poeta, que busca na experimentação artística uma liberdade não vivida fora dela. Este trabalho estuda a presença dos mitos bíblicos no poema que abre o livro, intitulado “Profecia do Nosso Demo”, observando como a mítica edênica (com sua visão da criação de um mundo novo e original) e a mítica apocalíptica (com sua noção de destruição, catástrofe final e julgamento definitivo) se unem numa oposição complementar que sintetiza uma vontade extrema de purificação e recriação do mundo. |