XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:389-1


Oral (Tema Livre)
389-1Debates em torno da arte e da técnica: as primeiras visitas de três homens de letras ao cinematógrafo (1894-1903)
Autores:Danielle Crepaldi Carvalho (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)

Resumo

O desenvolvimento técnico ocorrido até o final do século XIX alterou o estatuto da produção artística. A imprensa passou a absorver cada vez mais homens de letras, tornando possível a profissionalização do ofício. Porém, escritores igualmente precisaram atender aos anseios de um novo público, acostumado a um cotidiano cada vez mais cercado por estímulos visuais: fotografias, propagandas, vistas cinematográficas etc. Esta tensão é percebida na leitura das crônicas a respeito do cinematógrafo publicadas em jornais do período por três literatos de destaque na cena cultural carioca: Olavo Bilac, Arthur Azevedo e Figueiredo Coimbra. Nelas, a empolgação com o invento não raras vezes dá lugar ao temor de que as “imagens em movimento” ocupem na sociedade o espaço antes reservado à literatura. Isso começa a se desenhar em 1894 – um ano antes de os irmãos Lumière realizarem, na França, a primeira sessão paga do cinematógrafo – quando Olavo Bilac, após assistir a fitas do recém-inventado kinetoscópio de Edison, se diz horrorizado ante a possibilidade de a máquina registrar "ad eternum" os gestos da mulher amada. A evocação nostálgica possibilitada pela memória – e traduzida pela arte – é, segundo o escritor, suplantada pela realidade fria tomada pela máquina e impressa em celuloide, o que torna o inventor um “criminoso de lesa-poesia”. Os lamentos de Bilac convivem, na imprensa, com discursos mais simpáticos ao medium. Um deles é de Arthur Azevedo, que, por ser um dinâmico autor de teatro cômico-musicado, consegue dialogar melhor com o variado espetáculo cinematográfico (que misturava fitas documentais, cômicas e fantásticas; em branco e preto ou coloridas). No entanto, tal diálogo não é isento de tensões, especialmente quando o afã do escritor de agradar as plateias chocava-se com sua luta por um teatro que a educasse esteticamente – nesses casos, o cinematógrafo recebe as mesmas críticas negativas voltadas ao teatro que visava unicamente ao entretenimento. Um contraponto é Figueiredo Coimbra – como Azevedo, autor de teatro popular e cronista de prestígio – que, numa perspicácia pouco comum à época, ensaia uma reflexão sobre a técnica que tornava possível a realidade apresentada pelo cinematógrafo, o que o ajuda a compreender porque o invento se tornava tão popular. Nesta comunicação, pretendo analisar os textos cronísticos a respeito do cinematógrafo publicados por esses três homens de letras entre 1894 e 1903, buscando compreender de que modo o invento concorreu para o questionamento, a redefinição e/ou a manutenção dos lugares que ocupavam na sociedade. Pesquisa Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de S.P. (FAPESP)