Oral (Tema Livre)
716-1 | O mais longe ir: identidades transversas em Bernardo Carvalho | Autores: | Ricardo Postal (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco) |
Resumo O esfacelamento das identidades uniformizadas é uma característica central do imaginário contemporâneo. Compreender-se enquanto sujeito significa expor-se a um constante embate com os outros para tentar, nas negociações e trocas culturais constantes, fomentar um espaço em que o dizer-se imponha um somatório de fragmentos que unidos forcem uma identidade. Tal figuração é uma condição transitória, porque sendo constantemente requerido a manifestar-se em diversos grupos, o sujeito troca sua aparência, e de acordo com a situação assume identidades mais adequadas para sua sobrevivência na selva social.
Uma personagem assim representada não demonstraria, porém, a angústia de um processo de rasurar-se constantemente nem a complexidade das rupturas provocadas, tanto nele, que muta, quanto em seu entorno, que é por ele mudado.
Na literatura brasileira contemporânea, uma poética do transitório se manifesta reiterada na escrita romanesca de Bernardo Carvalho, reverberando, através de personagens viajeiros a fragilidade de quaisquer laços que prendam o sujeito à completudes e simplicidades.
Neste trabalho analisaremos as maneiras como o imediato abandono, por parte das personagens, das suas vidas em curso, trocadas pelo desvendamento de enigmas obsessivos, refletem um vazio indizível da existência, preenchível somente pelo aventurar-se através de vidas outras que são lentamente tomadas para si. Nesse fluxo sempre avante para amalgamar-se no outro vão se operando alterações na identidade do viajeiro que dizem muito sobre a refração, no universo romanesco, dos aspectos da transitoriedade contemporânea, acima referidos, nos romances. |