Oral (Tema Livre)
1113-1 | As “mini-histórias estranhas em redes internas secretas” de Joca Reiners Terron | Autores: | Milena Cláudia Magalhães Santos Guidio (UNIR - Universidade Federal de Rondônia) |
Resumo “Esquecer é uma função da memória tão importante quanto recordar” é uma das muitas frases perturbadoras de Curva de rio sujo, de Joca Reiners Terron, escritor cuja obra, composta de muitos gêneros, margeia temas caros à interpretação do contemporâneo, como a impossibilidade da descrição objetiva dos acontecimentos, o lugar incômodo do escritor, a estrangeiridade não apenas territorial etc. Levando em consideração o que autores como Walter Benjamin e Jacques Derrida dissertam sobre o estatuto da memória, esta comunicação interroga o modo como o movimento de esquecer/ recordar perturba até mesmo a linearidade das pequenas narrativas de Curva de rio sujo. Diversos vocábulos funcionam como sinônimo da impermanência, do apagamento da memória: manchas, fumaça, sombra, poeira, rastro. Toda paisagem que surge é, assim, envolta em uma espécie de neblina, que, como é dito no último texto, talvez não exista, no sentido de que a beleza, num tempo precário como o nosso, não pode perdurar, é quase um inconveniente, como o lirismo que por vezes rastreia as narrativas. Em Paixões, Derrida confessa que uma das razões do seu gosto pela literatura deve-se ao fato de ela ser o “lugar do segredo absoluto”, lembrando que a literatura, tal qual a concebemos, é regida por convenções e instituições que lhe deram o “direito de tudo dizer”, e, embora tenha esse direito, é o lugar em que tudo se diz sem a responsabilidade, a obrigação, de tudo dizer. O livro de Terron é um exemplo desconcertante dessa especificidade da literatura. |