XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:1011-1


Oral (Tema Livre)
1011-1NO MISTÉRIO DO SEM-FIM EQUILIBRA-SE UM PLANETA
Autores:Daniel Conte (FEEVALE - Universidade Feevale)

Resumo

Em época de descrença e de fragmentação e de diluição de referências e, ainda, paradoxalmente, de demarcação de fronteiras com a ostentação bélica, a construção das relações há de estar cada vez mais pautada no diálogo. E a palavra - instância primeira do dialogismo – ergue-nos soberanos, estejamos onde estivermos, sejamos quem formos. A redenção do sujeito vem pela constituição e pela leitura do mosaico sígnico do imaginário, pelo signo absoluto e pleno de pluralidade, pela escrita. E não há outra possibilidade, generalizando a afirmação, de estabelecermos uma relação de construção se não for com o Outro e desde o Outro, porque o arame que nos limita geograficamente não é capaz de obstar nosso devaneio de permeabilidade alheia, nosso devaneio de estarmos contidos no Outro que nos refrata. É a partir dessa perspectiva que esta pesquisa se constrói, partindo de uma sistematização de signos culturais que compõem o imaginário de nações tão distantes, e tão próximas, (Brasil e Angola), representados na produção literária de Pepetela. É a partir dessa sistemática que o desejo sobrepõe-se ao receio e erguemo-nos plenos do Outro, sedimentando vozes outras que agora se desenham autônomas, independentemente da vontade da História. Faz-se bem, e de bom tom, dizer que signo é tudo aquilo que significa ou produz significação. Contudo, é importante salientar que a significação não é “dada” ou “decalcada” sobre imagens específicas, o que acontece é que as relações dialógicas estabelecem a funcionalidade da produção de sentido que está sempre em nós, desde o Outro e no Outro desde nós. O Outro que nos alicerça como nós o sedimentamos, num eterno ir e vir de percepções próprias-alheias, que passam a nos orbitar e tornam-se referenciais. É certo que temos referências particulares e únicas, mas é certo também que qualquer que seja o sujeito social, em qualquer esfera, é e está sempre em relação de complementariedade com seu Outro que lhe serve de espelho, num jogo de identificação imaginária. Assim, o Eu, o Outro e um Outro-eu-meu, que se vai formar a partir das relações estabelecidas e que se vai fixar como o ponto de colmatação, estão relacionados, de forma tão ampla e tão intrínseca, que passam a existir quase que completamente, devido à existência dessa acentuada relação de alteridade. Os resultados parciais desta pesquisa, que tem em seu corpus teórico Gaston Bachelard, Mikhail Bakhtin, Octavio Paz, Wolfgang Iser, Ernest Cassirer, Stuart Hall e Hommi Bhabha, evidenciam muito bem essa relação de respeito pela singularidade e consciência de que esta singularidade é plena, múltipla e altera. Evidenciam esplendidamente que cada um de nós, no lugar onde se encontra, só tem um horizonte e está na fronteira do mundo em que vive, e só o Outro com sua cultura pode nos oferecer aquilo que desditosamente falta ao nosso olhar: a ressignificação de nós mesmos.