XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:837-1


Oral (Tema Livre)
837-1Marcas das Passagens e(m) a Falta que Me Faz
Autores:Ramayana Lira (UNISUL - Universidade do Sul de Santa Catarina)

Resumo

O documentário A falta que me faz (2009), de Marília Rocha, retrata um grupo de meninas moradoras da localidade de Curralinho, um enclave na Cordilheira do Espinhaço (que avança pelo norte do estado de Minas Gerais), vivendo o fim da adolescência, negociando um romantismo impossível que deixa marcas em seus corpos e na paisagem a seu redor. A passagem para a vida adulta mostra-se marcada pela incerteza e embebida em um universo onde as marcas na pele das garotas remetem à ausência do homem e acabam representando uma forma de conter a sua passagem, a fuga do parceiro. O filme se organiza, assim, a partir das tensões que surgem entre a imobilidade física das personagens e seus voos em um imaginário impossível. Essa parece ser uma das principais forças expressivas do filme - e que se torna objeto principal dessa proposta: o jogo presença/ausência e mobilidade/imobilidade, que tão bem caracteriza a noção de retrato (e que já está sugerido no próprio título do filme). Através da imersão no mundo restrito de suas protagonista, o documentário opera de forma marcante o que, para o filósofo francês Jean-Luc Nancy é uma das funções da arte: “tornar intensa a presença de uma ausência, enquanto ausência". A noção de retrato aparece aqui como motivo (no sentido musical) para a análise: o que a presença na imagem solicita de ausência. Nesse sentido, proponho analisar a forma como o filme de Marília Rocha retrata a vontade de se marcar - de fazer da marca uma evidência do vivido, um souvenir da ausência - em inteligentes jogos de extracampo e som.