Oral (Tema Livre)
226-1 | DO CORAÇÃO AO ESTÔMAGO: CAMILO CASTELO BRANCO E A IRONIA ROMÂNTICA E (OU) PÓS-MODERNA NA LITERATURA PORTUGUESA DO SÉCULO XIX | Autores: | Camila da Silva Alavarce Campos (UFU - Universidade Federal de Uberlândia) |
Resumo A presente proposta de estudos se insere em um projeto de pesquisas maior intitulado “Nas veredas da ironia: românticos e pós-modernos sob o olhar oblíquo da ambiguidade”. A ideia central desse projeto é a análise da natureza da ambiguidade que caracteriza a ironia no âmbito do discurso. O fato de sinalizar um dizer sub-reptício velado por outro, explícito e fornecido “tranquilamente” ao leitor – dizeres estes que, muitas vezes, se opõem – colabora com a ascensão da ironia ao lugar dos discursos desmistificadores ou questionadores de modelos maniqueístas? Nem sempre, ao que parece. Essas modalidades mantêm a ambiguidade e a abertura do sentido após a sua irrupção ou, em contrapartida, se constituem como discursos autoritários, a serviço, por exemplo, de uma ideologia dominante? Se são factíveis esses dois efeitos de sentido, como se constituem, então, esses diferentes tipos de ironia? O que caracteriza a ironia na modernidade, em especial no Romantismo? Quais são os traços da ironia pós-moderna? São eventos singulares, marcados, pois, por especificidades? De que forma a ironia é mediadora (ou não) entre o que chamamos de “modernidade” e as definições ou sentidos que são atribuídos a esse conceito? Em outras palavras: a ironia, no período designado como modernidade – sobretudo a romântica – também é mediadora ou reveladora de ideias relacionadas ao “progresso” e à crença no poder da razão ou, ao contrário, “revela” um sentido aberto, não definitivo, como a ironia que parece caracterizar o pós-modernismo, de acordo com Hutcheon, em sua Poética do pós-modernismo? Como se caracteriza a ironia e que efeitos de sentido ela cria durante o século XIX – que “sofreu de História demais”? (SELIGMANN-SILVA, História, memória e literatura: o testemunho na era das catástrofes 2003, p. 63) E, hoje, na pós-modernidade, quando, para Márcio Seligmann-Silva (2003, p. 63), sofremos de “fim da história”, configura-se a ironia, invariavelmente, como um artifício de expressão do não-sentido? Terá a ironia, de fato, colaborado com a expressão desses sentidos associados aos “espíritos” da modernidade e da pós-modernidade? “A que se prestou” a ironia na modernidade – especialmente no Romantismo? A presente proposta de estudos pretende justamente o estudo dessas questões na obra Coração, Cabeça e Estômago, do escritor português Camilo Castelo Branco, pois esse romance apresenta traços significativos para a análise proposta; entre eles, o desdobramento discursivo e a presença marcante da ironia romântica – artifício que, ao interromper o enunciado, possibilita a representação do processo de enunciação e fundamenta, portanto, uma reflexão importante sobre os aspectos estéticos do texto literário. |