Oral (Tema Livre)
394-1 | Ler,escutar: o tempo irreversível em Beckett | Autores: | Annita Costa Malufe (PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) |
Resumo Samuel Beckett não suportava mais o “bom uso” das palavras. Era urgente para a literatura falhar na condução da linguagem e “tratar as palavras como um pouco mais do que simples símbolos respeitosos”. É nesta direção que ele vislumbrava uma escrita que desfizesse as aderências do discurso e do excesso de representação e artifícios. Uma literatura da despalavra ou da não-palavra [non-mot]: alcançar uma língua que se faça contra as próprias palavras, virando-as do avesso. Dentro deste projeto, sua escrita em prosa foi sendo tomada por uma língua sonora, sonorizada, cada vez menos significante e cada vez mais arrastada por fluxos de vozes, múltiplos, entrecruzados, dissonantes. A ponto de termos textos que são verdadeiras partituras vocais – não mais no sentido da escrita para teatro, mas muito mais em um sentido musical, de vozes que são fluxos sonoros a serem executados na leitura. Para se ler Beckett – mesmo que em silêncio –, é preciso “ouvir vozes” e ser conduzido por elas, é preciso performar o texto, tal o instrumentista que executa uma partitura em tempo real. Vale notar, aqui, que a ideia de performance implica uma determinada imagem de tempo: a do tempo irreversível da escuta ou do acontecimento. É esta imagem que procuraremos explorar a partir dos conceitos de performance de Paul Zumthor e de acontecimento e terceira síntese do tempo tais como propostos por Gilles Deleuze. O objetivo é assim observar este movimento, que faz do texto uma partitura e da leitura uma performance, tendo em vista elaborar um pensamento sobre a temporalidade que investe a escrita de Beckett. |