Oral (Tema Livre)
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O idílio a serviço de uma certa ética em Amar, verbo intransitivo de Mário de Andrade | Autores: | Sonia I. G. Fernandez (UFSM - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA) |
Resumo Considerando a escolha do gênero sentimental “idílio” por parte de Mário de Andrade, para identificar seu romance Amar, verbo intransitivo, observamos que as relações: Fräulein- homem do sonho (homem sonhado) e Fräulein- homem da vida (Carlos) podem ser lidas na perspectiva de Espinosa, se tomamos o axioma “não existe, na natureza, nenhuma coisa singular tal que não exista uma outra mais poderosa e mais forte que ela. Mas, dada uma coisa qualquer, é dada uma outra mais poderosa pela qual a primeira pode ser destruída.” (Da servidão humana ou da força das afecções, Ética IV). Em consequencia, abrem-se várias possibilidades de compreensão desta obra no plano da ética e da estética e, melhor ainda, no entrelaçamento dessas duas áreas do conhecimento humano. Questões muito caras ao autor e ainda pouco exploradas. Pois, ao ser contratada por Sousa Costa, para dar lições de amar a seu filho Carlos, Fräulein vê tensionado seu espaço de poder e liberdade, o que a leva no plano da narrativa a relativização de verdades e, no plano da subjetividade da personagem, a perturbações e desestabilizações com conseqüências bastante importantes para o enredo. A forma como Fräulein lida com suas convicções e sonhos é tão auto-centrada quanto a relativa moral de Sousa Costa e mesmo de sua esposa. Estas culturas tão diferentes (a alemã e a brasileira) postas em contato evidenciam para o leitor as razões subjetivas tanto de uma como de outra. O que parece lógico e natural para Fräulein, posto em relação ao modo de tratar dessas questões de Sousa Costa, não é nada lógico nem natural. O embate entre esses modos e tempos tão distintos para as coisas da família e da educação resulta pedagógico para o leitor capaz de lidar com convenções e com a dialética resultante de dois códigos em conflito. A obra de arte revela-se neste contexto como um espaço de circulação de saberes que vão além da mera leitura e adentra um espaço mais amplo de reconhecimento das diferenças dentro e fora da ficção, na medida em que aprende a ver conjugados ambos mundos: o natural e o artificial, ou o da realidade e o da arte. Conjugados não quer dizer harmonizados, ao contrário, quer dizer que em convivência, interpenetram-se e um pode modificar o outro, mas em tempos diferentes. |