XII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Resumo:923-1


Oral (Tema Livre)
923-1A cidade e o discurso literário sobre o urbano, em uma narrativa de Moacyr Scliar
Autores:Belmira Magalhães (UFAL - Universidade federal de Alagoas) ; Belmira Magalhães (UFAL - Universidade federal de Alagoas)

Resumo

RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo analisar a relação da cidade com a representação literária que Moacyr Scliar realiza no conto História porto-alegrense, da década de setenta do século passado, assinalando o papel da arte na relação entre a realidade e a constituição das subjetividades modernas, tendo como pressuposto o referencial teórico de Georg Lukács sobre a relação sujeito/objeto em arte. A cidade e a representação da cidade na literatura sempre caminharam paralelamente. Com o início da modernidade, as cidades adquirem uma importância fundamental para o entendimento das sociedades ocidentais. O conto apresenta duas temáticas principais entrecruzadas – as relações de classe e de gênero −, mas efetivamente revela como as relações entre aqueles que dominam o espaço urbano e os pobres são o fundamento da configuração do espaço urbano. Evidentemente esse não é o único fator que define o mapa da cidade, por isso o romancista agrega a essa base fundante outras categorias que explicam a ocupação e a desocupação de bairros, a especulação econômica, a retirada de populações de determinados lugares, como Baudelaire havia feito no século XIX, sobre Paris, no conto Os olhos dos pobres (Baudelaire,1995). A violência é o tema dos dois contos, e o narrador alerta para as consequências da lógica do sistema capitalista sobre a individualidade, que usa o ser humano como coisa, deslocando-o sempre que necessário para a manutenção do lucro e do prazer da classe que domina, e não permitindo ao homem/mulher se perceber como centro de sua própria vida. O indivíduo perde a capacidade de se ver como gênero humano, passando a sobreviver no emaranhado de sua cotidianidade. No conto de Scliar, perpassando essa relação está a cidade que, com sua fisionomia, cria uma paisagem de naturalidade entre pobres e ricos, a fim de que as consciências de seus habitantes se acalmem. A narradora de Scliar (uma mulher, uma cidade, um país) cala-se diante de toda a violência sofrida, aceitando-a como natural à condição de oprimida e internalizando-a. No entanto, há no conto também a possibilidade de que as opressões sejam combatidas.