Resumo: A crítica aponta, na
produção romanesca de José Saramago, um desejo de deter a fatalidade da
história. Pode-se dizer que é pelo "não" contraposto aos fatos históricos que o
romancista deixa de ser historiador e sugere, ainda, que os próprios documentos
históricos não são infensos a desvãos nos quais a fabulação pode alojar-se e
revelar que a história é também um discurso, uma representação. Os romances de
Saramago têm confirmado que a literatura pode não apenas alterar o passado, mas
também sugerir que o presente e o futuro podem ser outros. Assim, tanto a
evocação do passado (a exemplo de Memorial do Convento, História do
Cerco de Lisboa, O ano da morte de Ricardo Reis) quanto a visão do
presente (Ensaio sobre a cegueira, Todos os nomes, A
caverna, por exemplo) abrem-se para o futuro e configuram a existência de um
projeto humanista subjacente à sua obra romanesca. Nessa obra, constata-se que a
história humana não vai inelutavelmente a lugar nenhum, mas resulta da ação dos
sujeitos e é insubordinável a um único princípio de desenvolvimento. Esse olhar
confere um lugar central à política e sua capacidade de levar os seres humanos a
se reunirem, a permutarem uns com os outros, a construírem estratégias para
tornar as alteridades visíveis. O colóquio ora proposto congregará leituras dos
romances de Saramago orientadas pela explicitação do quanto sua obra está
embebida de Humanismo e, em contrapartida, vincada por intensa negação ao
anti-humanismo de todos os matizes: mercadológico, totalitarista,
tecnológico.