Resumo: Barthes, no início da
década de 70, em estudo realizado sobre um conto de Poe, ressalta o claro
deixado pelos "arranques da intertextualidade", análises com "partidas do já
lido", de narrativas subsumidas, que trazem, de forma latente, a "significação
em ação, ramificada em outros textos". Suas idéias inspiram-se nos resultados
que, a partir de 1967, Kristeva anuncia, na França, tendo como base suas
leituras de textos de Bakhtin, que resultam em propostas com ênfase na análise
da literatura por meio de um diálogo entre estruturas, pautado pelas relações
entre escritor, destinatário e contexto cultural. Estes, em outros termos,
encontram-se já presentes nas discussões dos clássicos acerca da enunciação, de
que quem enuncia é um híbrido de enunciador e enunciatário. Em tempos mais
céticos como o nosso, a verdade fez-se mais negociada em sua enunciação e
traduziu-se em veredicção, intratexto, interdiscurso, argumentação. A
enunciação, definida por relações dialógicas, (des)ordena diferentes vozes
sociais, cujo arranjo a análise do discurso explicita e explica à sociedade,
traduzindo um diálogo textual, entre trocas culturais que evidenciam
intertextualidade, hibridismo, transculturação e outros atributos. Lê-se, assim,
uma obra literária no seu processo de criação, no seu sistema literário, como um
lugar de tensões entre rural e urbano; local, regional e universal; oral e
escrito etc. Este simpósio objetiva discutir as múltiplas composições do
literário que os escritores têm proposto para dar conta deste tempo
contemporâneo de valores mais facilmente intercambiáveis e verdades mais
relativas.