Resumo: “Não existe literatura
comparada sem falar de literatura de viagem”. Tomando como ponto de partida essa
expressão de Pierre Brunel, esse simpósio propõe uma reflexão sobre a
pertinência e as potencialidades duma área de estudos como a da literatura de
viagens. Sob uma enorme variedade de formas variáveis (a peregrinação, o
grand tour, o nomadismo, etc.), a viagem tem funcionado como una dos mais
fundamentais e persistentes temas da literatura universal. Suas modalidades são
quase infinitas, desde o real ao imaginário, do atual ao simbólico, do
fantástico ao alegórico. Desde as épocas mais remotas, a viagem tem como
essência, conforme as palavras de Claude Lévi-Strauss, “a displacement in time,
in space, in social hierarchy”. A conceitualização da viagem na literatura
move-se paralelamente com os câmbios na experiência e consciência humana e
filosófica do universo: se o espaço de movimento da antiguidade e da Idade Média
era identificável com um lugar cerrado, já o Renascimento e a Ilustração
procuraram retratar ficcionalmente as descobertas do novo mundo, até chegarmos à
perspectiva subjetiva da viagem e do espaço nos autores românticos e
pós-românticos, e ao nomadismo da modernidade e da era da globalização. Tema
protéico que envolve sub-temas como, por exemplo, a aventura, a descoberta, o
exótico, o labirinto, a utopia, entre as outras tematizações. Nesse simpósio,
procurar-se-á num primeiro momento evidenciar a poética do gênero para, em
seguida, trabalhar a construção de imagens em torno do “outro” estrangeiro,
recorrendo à discussão sobre um corpus constituído por narrativas de viagem, de
preferência, com ênfase no Brasil e nas literaturas lusófonas, sem deixar de
lado a viagem como proposta narrativa e poética alegórica.