Resumo: Desde as vanguardas do
início do século vinte, de Jean Epstein (1921), passando por Albert Laffay
(1948), à contemporaneidade, com Christian Metz (1970), Jeanne-Marie Clerc
(1985) e Michel Serceau (1999), teóricos da narratologia vêm afirmando que entre
a literatura e o cinema existe um natural sistema de trocas que demonstra mais
do que um mero parentesco. A prática comparatista, hoje, procura pensar a
literatura desconsiderando limites impostos por fronteiras de códigos estéticos
e culturais. Assim, pode-se entender o comparatismo como promotor de encontros,
de forma regular e sistemática, articulando elementos, explorando
intervalos, com o objetivo de ultrapassar margens e limites (CARVALHAL,
2005). Valendo-se de contribuições de teorias como a da Transtextualidade, de
Gérard Genette (1982), a leitura comparada de textos literários de ficção e sua
correspondente tradução fílmica aponta para rentável campo de pesquisa, nada
negligenciável no âmbito das investigações literárias. É exatamente nessa
direção que a análise de traduções fílmicas vem crescendo em interesse e
produtividade na cena acadêmica. O que tem faltado, entretanto, é problematizar
a questão: a leitura transcriadora exercitada pelo cineasta deve ser entendida
(ainda que produtora de texto novo, objeto estético autônomo) como articulação
reflexiva, participante, portanto, em mesmo nível de importância crítica, da
fortuna do texto primeiro? Operando nesse espaço, é justamente essa a discussão
que se quer produzir com este simpósio: dimensionar a tradução fílmica
enquanto leitura crítica de texto literário e qualificar tal prática no espectro
da fortuna crítica metalingüística.