Resumo: Toda tradução é
adaptação. É impossível chegar ao sentido pleno do que o Autor realmente queria
dizer. Sempre vai faltar alguma coisa. Nunca vai ser possível capturar o que foi
possível na língua de partida. Às vezes, a mudança de língua resulta em mudanças
que são impossíveis de se impedir. Uma tradução do português para o chinês
envolve um novo mundo cultural além de um sistema lingüístico diferente. Às
vezes o tradutor faz a escolha de, no caso da tradução de um poema, manter ou a
rima e/ou a métrica, ou o significado. O tradutor introduz formas novas através
da adaptação. Wyatt e Surrey levaram o soneto da Itália para a Inglaterra. O
tradutor também pode inserir suas próprias opiniões. Através de Dona Benta e
Emília, Monteiro Lobato, recontando Peter Pan, inseriu críticas ao regime
Vargas. E, seguindo a tradição das belles infidèles, muitos
tradutores preparam um texto novo mais digerível para a cultura de chegada:
Houdar de la Motte cortou todas as repetições, as falas de personagens de nível
social mais baixo, as digressões, as cenas de sangue, para fazer a Ilíada
se encaixar nos moldes da tragédia francesa, no começo do século 18. Também
pensamos nas adaptações intersemióticas: texto escrito para filme, teatro,
música, pintura, Internet, etc. Gostaríamos de receber propostas sobre
adaptações interlinguais, intralinguais e intersemióticas de obras literárias. O
enfoque do trabalho sempre deve ser a adaptação: o porquê, o para quê e para
quem, e as diferenças entre texto-fonte e texto de chegada.