Resumo: Neste
Simpósio, serão debatidos dois temas que se relacionam ao
campo da historiografia literária e da crítica textual.
Com o estudo das formas materiais do texto, pretende-se investigar as
relações entre o processo de criação, o
tipo e a qualidade das edições e a produção
de sentidos dos textos literários e não-literários
através do instrumental da Crítica Textual e da
Crítica Genética, assim como da importância da
noção de materialidade textual para esta
discussão. Quando falamos em produção de sentidos,
estamos nos reportando tanto à produção de
sentidos entendida como produção de leituras como
também à produção de uma fortuna
crítica e até mesmo de um cânone a partir do tipo e
da qualidade das edições de textos ou tendo as
edições de textos como um de seus importantes componentes
constitutivos. É nesse sentido que compreendemos, parafraseando
Roger Chartier, a complexa historicidade das obras, resultado das
relações entre dispositivos formais e categorias
discursivas. Na abordagem histórica da literatura aqui proposta
salientamos o da tradição e suas releituras; em outras
palavras, interessa-nos o aspecto inacabado e contingente das escritas
da história, aspecto, em considerável dimensão,
relacionado com as vicissitudes das diversas formas de
transmissão e circulação dos textos. A
história de uma literatura se constrói "como a
ruína de um monumento que nunca existiu", nos diz Derrida, em
uma de suas inúmeras conversações.
"História de uma ruína, narrativa de uma memória
que produz o acontecimento a ser contado e que jamais terá
acontecido", a história literária assim se desdobra, na
forma de um paradoxo, em reinscrições de uma
impossível origem. Como leitores críticos de uma dada
tradição, os escritores dela se apropriam reinventando
precursores, reescrevendo a história, reinaugurando genealogias.
Nessa direção pretendemos revisitar ensaístas e
críticos da experiência literária brasileira que
deixaram em cartas, diários, crônicas e outros escritos as
marcas de subjetividade próprias do ensaio que, em razão
de suas formulações fragmentadas e inacabadas, torna
possível recomeçar sempres as histórias, a partir
de uma certa lacuna, de uma interrogação, de uma
reticência. Em síntese, esperamos aliar a pesquisa a
respeito da edição de textos ao estudo sobre a
historiografia brasileira, particularmente as realizadas no final do
século XIX e no momento inicial do modernismo.