RESUMO: Com nosso trabalho, queremos apresentar o conto “Destrambelhos”, de Evandro Affonso Ferreira, presente em seu livro Grogotó!, como um laboratório de exploração da alteridade através da escrita. Neste conto, vemos a escrita de Ferreira como uma ferramenta que, em um mesmo movimento, cria e encontra o que há de mais outro entre os dois pontos de um diálogo — um suposto diálogo a que só nos é possível ler, no conto, uma das partes dialogantes, estando a outra sempre ausente do texto, mas constantemente evocada pela única voz a que temos acesso. Esta evocação solitária se afigura como uma experiência (no sentido mais próprio de experimentar) epistemológica; uma incursão, em poucas páginas, a uma condição psicológica, social, política e histórica através de elementos lexicais e da convulsão discursiva da narradora- personagem. Ferreira nos conduz mais pela textura, por assim dizer, que pelo texto, e a criação desse modo discursivo é o que permite ao seu conto, por sua própria forma, nos dar a conhecer tanto, apresentando um panorama rico que vai da mitologia grega ao hospital psiquiátrico moderno. A cada nova camada desse panorama de referências mais ou menos diretas da narradora-personagem, percebemos como a mesma se insere e se orienta nessas camadas. Se este conto é um laboratório, é, na verdade, um laboratório de escrita criativa através da alteridade. Apoiamos nossa argumentação em uma análise do texto ancorada na semiótica greimasiana, pela qual observamos uma constelação vasta de significados alinhada com o propósito de nos dar a conhecer a personagem que se situa como o outro na lógica discursiva/cognitiva com a qual nossa sociedade opera: o louco, o estrangeiro, o colonizado. Observamos, também, como nossa investigação sobre o conto nos permite entendê-lo com as lentes de um teórico da escrita criativa como James Wood.

PALAVRAS-CHAVE: escrita criativa; alteridade; semiótica; discurso; laboratório criativo.

REFERÊNCIAS: GREIMAS, Algirdas Julien. Maupassant: a semiótica no texto: exercícios práticos. Florianópolis: Editora da UFSC, 1993. WOOD, James. Como funciona a ficção. São Paulo: Editora SESI-SP, 2017.