A terceira narrativa da tetralogia amazônica de Benedicto Monteiro, assim como as duas anteriores, possibilita a reflexão sobre o contexto histórico da ditadura militar vigente no país nas bordas do furacão. Assim como nos romances anteriores (Verdevagomundo e O Minossauro), temos obras abertas, polifônicas, polvilhadas de textos de gêneros variados, inclusive não-literários, os quais ajudam a compor um painel da época e favorecem a percepção dos problemas nacionais mesmo a trama se passando longe dos centros urbanos. Nestes romances, argamassam toda esta pletora de textos as falas de um narrador culto urbano (um major em “Verdevagomundo”, um Geólogo em “O Minossauro” e um professor de Geografia em “A Terceira Margem”) e as falas de um narrador caboclo falando em linguagem regional (Miguel dos Santos Prazeres em todos os romances). Entretanto, enquanto há contato entre Miguel e os narradores dos dois primeiros romances, em “A terceira margem” temos a busca do professor de Geografia por Miguel. O professor alimenta um projeto literário e crê a substância para sua narrativa seja Miguel, o ser-palavra, a palavra-ser. Essa demanda à medida que favorece uma possibilidade de construção de si, também emerge como um ato político, de resistência e de subversão subterrânea.
Palavras-chave: literatura de resistência, escrita de si, literatura amazônica